TRAGÉDIA RECORRENTE (Enchentes em Alagoas)

O dilúvio que atingiu os estados de Alagoas e Pernambuco às vésperas das festas juninas deste ano de 2010, provocou dezenas de mortes, deixou milhares de desabrigados e arrasou diversos municípios ribeirinhos. Muitas dessas cidades, literalmente, desapareceram do mapa! Um cenário de Guerra!

Esse fato me fez voltar no tempo e lembrar a minha infância, por volta dos meus sete anos de idade (1969). Vejo-me sentado em cima da mesa da copa da minha casa, no bairro de Jaraguá, Maceió/AL, sob as vistas da minha mãe, que paciente e atentamente catava o feijão que iríamos comer naquele dia.

Enquanto retirava as impurezas do feijão, minha mãe ouvia no rádio as notícias sobre a enchente que destruiu a cidade de São José da Laje/ AL. Era um olho no feijão, o outro em mim, e os ouvidos no rádio.

As notícias davam conta do número de desabrigados, o total de mortes e o nome daqueles que haviam perecido naquela catástrofe. Aquela narrativa do radialista ficou gravada em minha mente!

A cheia da cidade de São José da Laje, além de comover pelas perdas humanas e materiais, preocupava à nossa família, pois, os meus parentes por parte de pai são oriundos da cidade de União dos Palmares, na zona da mata alagoana, onde meu avô paterno possuía terras na zona rural e uma casa no centro da cidade.

Toda a água que havia destruído a cidade da “Laje”, fatalmente provocaria danos nas cidades subseqüentes como União dos Palmares, Branquinha, Murici, Messias, Rio Largo, vindo desembocar na Lagoa Mundaú, em Maceió. É uma questão geográfica. O curso do Rio Mundaú e a gravidade fazem com que essas águas corram desde a região serrana até o mar. Alguns bairros da orla lagunar da capital alagoana também sofrem as conseqüências dessas enchentes.

Ainda lembrando a minha infância, recordo as histórias que ouvia do meu pai e dos meus tios sobre uma cheia que aconteceu nas terras do meu avô Chiquinho, na serra em frente à cidade de União dos Palmares.

Meu avô tinha um alambique à beira de um riacho que passava em suas terras. Ali ele produzia cachaça e rapadura. A força motriz dessa pequena empresa era conseguida através de uma roda d’água.

Uma noite, durante um temporal, as águas vindas de regiões mais altas arrasaram o alambique, arrastando toda a estrutura da pequena indústria familiar, inclusive a roda d’água. Meu avô perdeu tudo!

Boa parte da renda da família Cordeiro Lins, àquela época, provinha dos recursos obtidos com a vendagem da cachaça e da rapadura. Meu próprio pai descia as ladeiras da serra, desde o sítio até a cidade de União, situada a aproximadamente catorze quilômetros, com um taxo repleto de rapadura, na cabeça, para vender na feira. Eram dias difíceis!

Estamos em 2010 e as enchentes continuam matando pessoas, destruindo cidades, acabando com sonhos e transformando a vida de milhares de pessoas em pesadelo!

Comove-me profundamente a situação crítica dessas pessoas atingidas, e espero que passada essa fase de socorro imediato, os governos federal, estadual e dos municípios, tomem providências para que não se permita a reconstrução dessas cidades nesses locais de risco. Essas cidades que foram completamente destruídas devem ser re-locadas em partes mais altas, evitando que daqui a vinte, trinta ou quarenta anos não tenhamos que ver e ouvir notícias de destruição e mortes provocadas por novas enchentes!

Será que conseguiremos?