A COMOVENTE ESTÓRIA DO BEIJA-FLOR

José Arnaldo Lisboa Martins

Dentre as estoriêtas que conheço, a que mais me comove, é a do beija-flor. Pra quem não a conhece, vou reproduzi-la com minhas próprias palavras: “certa vez estava havendo um grande incêndio numa floresta e, um beija-flor ia até um riacho, sugava um pouco de água com o seu fino e longo bico e corria para derramá-la nas grandes labaredas. Centenas de animais presenciavam o fato e davam gargalhadas, zombando do beija-flor. Um leão que assistia a tudo, gritou: “olha beija-flor, isto que você está fazendo é inútil e não vai adiantar nada para apagar o fôgo!”. O beija-flor, disse ao intrometido leão: “seu besta, eu estou fazendo a minha parte”. O leão ficou enfurecido com a falta de respeito a ele e, preferiu ordenar aos outros animais que saíssem dali, para não se queimarem.

Depois da tragédia que se abateu sobre cidades de Alagoas e de Pernambuco, eu lembrei-me desta estória, colhi da minha esposa e filhos, roupas, bolsas e sapatos, além das roupas que foram dadas, espontaneamente, pela nossa secretária doméstica, a Lia. Comprei uma cesta básica e fui fazer “a nossa parte”, como fez o beija-flor. Fui ao Quartel do Corpo de Bombeiros e me emocionei ao ver a fila de carros e muita gente à pé, com sacolas contendo roupas, calçados e alimentos. Vi soldados e muitas pessoas voluntárias recebendo as sacolas, fazendo a separação por tipo de doação, umas embalando e outras carregando os caminhões. Há anos eu não chorava e, as lágrimas acumuladas, desceram pela minha face, ao ver centenas de beija-flores, fazendo as suas partes, no “amar ao próximo como a nós mesmos”. Vi que a beleza não só está nas matas, nas praias, nas cachoeiras, nas flores ou nas aves. Ela está dentro de nós mesmos e naqueles momentos, eu pude sentir a existência de Deus, quando transformando seres humanos, em minúsculos beija-flores.

As enchentes dos rios trouxeram uma tragédia para Alagoas, e não foi pela primeira vez. Ela aconteceu num ano de eleições, como um alerta aos eleitores e dizendo aos detentores do Poder e aos candidatos, que eles se preocupem mais com o povo, não só imediatamente após as tragédias, mas, durante seus mandatos e seus períodos de glória. Nestas catástrofes, alguns se aproveitam do dinheiro público que chega de todos os lados, enquanto outros fazem suas campanhas nas costas dos desabrigados, famintos e desnorteados. Declarações de autoridades acontecem na televisão, nas rádios e nos jornais, todas elas dizendo que lamentam e que estão empenhadas na solução dos problemas. Helicópteros cruzam os céus de Maceió e das cidades atingidas e muitos acham que os sobrevôos são suficientes, não precisando se misturar aos desabrigados. Candidatos vão se aproveitar da miséria do povo, para compra de votos, mas, o dinheiro virá da “viúva” que mora em Brasília. Os mais sabidos dizem que foram eles que conseguiram a liberação de verbas, denotando estar fazendo um favor e não uma obrigação.

Eu quero ver, depois das eleições, se as casas prometidas vão ser construídas, se os comerciantes que perderam tudo, vão ter facilidades para seus negócios e se os flagelados vão mesmo recuperar tudo que perderam. É que passadas as eleições, a euforia da ajuda, os “SOS”, as doações, as verbas prometidas, as reuniões, os vôos de helicópteros, os empréstimos e os “os esforços” dos nossos políticos, vão se acabar. Tem gente que, em lugar de beija-flor, prefere ser um rato, para “aproveitar sua vez”. Aguardem!

Em tempo- Agradeço pela leitura e incentivo, aos amigos Francisco Soares de Lima, à Sra. Maria Clara Lemos dos Santos e ao Procurador Dr. Antonio Arecippo Neto.

José Arnaldo Lisboa Martins
Enviado por José Arnaldo Lisboa Martins em 01/07/2010
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