A ESTÚPIDA ATITUDE DE APENAS CONSIDERAR A VIOLÊNCIA DOS "GRANDES"

Hoje penso em compartilhar algo que incomoda expressivamente o padrão de entendimento que recebi das coisas, ainda que limitado pela própria capacidade de compreender tudo o que se passa em nossa realidade chamada humana.

Casos como este, o do Bruno que se torna famoso pelo esporte que pratica, no caso o futebol, tem a sua gênesi muito antes dos holofotes da mídia televisiva, falada ou escrita. Conheço Bruno através da mída, mas conheço a sua região, Ribeirão das Neves por ter estado lá, na terra da famosa penitenciaria de Minas Gerais. Historicamente desprestigiada, os bairros de Ribeirão das Neves foram deixados, por muito tempo ao léu da sorte, recebendo investimentos apenas direcionados para sua realidade prisional. Se você tenta transitar com o seu veículo por algum dos bairros ligados à região em questão, terá que fazê-lo desviando-se de veradadeiras crateras, apenas um dos sintomas do desleixo do poder público estabelecido ali. Sob os olhares estupefatos de todos, emerge de lá um atleta, com o sonho de qualquer garoto, seja da elite ou das favelas brasileiras, o de se tornar famoso e rico com a prática do Futebol, e ele consegue. Vence etapas importantes, consegue destacar-se nas divisões de base, torna-se inserido na equipe do Atlético Mineiro, e cresce para os admiradores do Futebol. O garoto só não cresce para sua verdadeira identidade. Rodeado de amigos da pesada, gente que não teve a mesma probalidade de existir e vencer no esporte, que vive e cresce sem esgoto, sem água, com limitações de destino, e que fica à mercê do tráfico e do crime estabelecido nos guetos da "desprovisão". O menino se torna moço, o moço se torna homem, mas o beijo da vida não o transforma em príncipe, porque no coração ainda reside o sapo, habituado a ser habitante dos lagos e com o coaxar dos iguais em comportamento e influência.

Neste sentido preciso abrir um parêntese desconfortável: Milhares de Brunos estão por aí, com histórias tão iguais, cercados por gente indevida, pressionados por solublizar as pressões prementes com atitudes de remoção de obstáculos e pessoas à revelia ou pela coação, ou simplesmente matando e ocultando cadáveres.

Não me cabem os julgamentos precípuos, não posso tanger ou moldar o seu grau de culpa. Mas posso lamentar que apenas a moça que se foi e o filho que perdeu a jovem mãe sejam lembrados como viítimas neste tempo em que milhares de outras pessoas passam por destino semelhante sem que um grito sequer se ouça na nação.

O que fazer? Voltar ao contexto da singela Ribeirão das Neves e entender que o fato que hoje move a mídia tem uma gênese, a ausência da sociedade e a presença de um sem número de pessoas adotadas pelo tráfico e pelo desmando. Ali as escolas estão sob a mira da criminalidade, os jovens no berço do tráfico, e o sonho de alguns é tornar-se rico, não na bola ou no trabalho, mas como senhores do tráfico.

Mas não é só lá em Neves que isto se dá. Há muitas Ribeirões em nossa nação, e nós podemos mudar a sua conjuntura. basta ser firme em nossa legislação, ter vontade de trabalhar pela transformação e eleger gente honesta, que queira implementar o Governo do Justo.