Adalberto, um amigão

Adalberto é um patusco e amigo da galhofa. Garganeiro, por defeito, não deixa de ser boa pessoa. Amigo de seu amigo está sempre pronto para a brincadeira. Leva os dias vagueando, no bom sentido, pelas ruas e ruelas da cidade, falando com este ou com aquele.

Pergunta a uns como vai a agricultura, a outros como vai a família e aqueloutros como vai a situação, porque segundo os seus conhecimentos, a coisa vai preta por causa da crise que o mundo atravessa, ou que atravessamos por via das asneiras dos outros. A haver baboseiras, será sempre dos outros e nunca de nós.

Excepção, nos dias úteis, é o dia seguinte à segunda-feira. Dia de romaria e cavaqueira.

Levanta-se bem cedo para assistir ao iniciar do dia a fim de poder ver a montagem dos vendedores ambulantes no espaço a que alguns chamam de «Mercado Semanal».

Os outros afirmam que não «será por muito tempo» para acrescentarem os que nada sabem «era o que faltava! Um terreno valioso como este, de tão bem estar situado – tendo uma ocupação semanal pelos vendedores onde nem factura é exigível para quem vende as mais diversas coisas, algumas, vindas de não se sabe donde – ser utilizado para outras coisas ou encher a carteira a algum especulador».

Adalberto percorre com a sua calma de alentejano todo o espaço, sempre de tronco erguido. As mãos por detrás das costas, seguras uma na outra, não vá perder alguma ou algum amigo do alheio tirar-lhe dos dedos ou do pulso aquilo que lhe foi oferecido, como do que representa.

Ouve aqui e acolá, para além ajuizar com velhos amigos o que antes ouviu. Assim pode ouvir o botar palavra de terceiros como fazer o seu próprio juízo, que nos dias que correm é preciso muito, se tomada em atenção for a idade da pessoa como dos que se juntam.

Por volta da metade do meio-dia, conforme as horas ou ponteiros, vai arrancando a caminho de onde alguém o espera para lhe dar o merecido, mas obtido dos rendimentos adquiridos em tempos passados por conta de outrém.

Aqui, nas poupanças que uma entidade qualquer a que chamam de Estado, acrescidas de rendimento que deveria ter obtido, é que os dias lhe parecem estar a ficar cinzentos demais, porquanto ouviu de um sabichão que pelo andamento que a coisa leva, qualquer dia nem para a sopa já chega.

Ralha como um desalmado com tudo e todos que o rodeiam, dando a impressão que são os culpados, mesmo que a sua velha Carminda, companheira que é para um ror de anos, se compadeça sempre das malcriadices que vem da boca de quem tanto sabe.

Quando nas noites de tertúlia livre, que obriga os vizinhos do bairro a conviver todos na roda da mesa da sueca, falando os cujos do que todos falam, a noite passa a ser agoirenta para ficar também sem estrelas porque o futuro está ameaçado por quem manda poupar mas não rentabiliza, o que na sua posse está, ou não rentabilizou em devido tempo, aquilo que deveria ser o sustento e segurança para quem trabalhou, tornando a posteridade dos mais novos como um mergulho em águas baixas do rio.

Destas discussões, o resultado foi, segundo os pareceres do Adalberto, ficar sem efeito a excursão, e as futuras, que estava marcada para o mês do ano com menos dias, aconselhando a quem o ouvia, que «estas passeatas deixem de ter efeito imediato para serem substituídas pelas Termas do Cartaxo».

Mais do que nunca, temos que começar a sermos forretas, já que no presente, até os bancos já estão a dar um “chouriço a quem lhes der um porco”.

Como a carne até já vem embalada ou «fechada hermeticamente» como consta nos rótulos nos espaços comerciais maiores que o «Municipal» dificilmente haverá o enchido que todos querem.

A conclusão, com lógica do amigo patusco e galhofeiro, é que o futuro está a ficar preto demais para quem trabalhou e foi obrigado a dar à entidade responsável o «guardar uma parte daquilo que não queria para que da poupança um mealheiro tivesse nos dias do fim da vida».

Aos que argumentam o contrário, que se cuidem, porque os saloios costumavam dizer no tempo que os excursionistas do Adalberto e seus confrades iam – ali para os lados de Mafra mesmo que o motor da camioneta fizesse o caminho todo a dar «ráteres» que mais pareciam petardos de S. João – ver o convento, para depois no fim da viagem ou do dia, acabar tudo nos comes e bebes: «Quando começares a ver as barbas do vizinho a arder mete as tuas de molho».

Adalberto é um patusco e amigo da galhofa. Garganeiro, por defeito, não deixa de ser boa pessoa. Amigo de seu amigo está sempre pronto para a brincadeira. Leva os dias vagueando, no bom sentido, pelas ruas e ruelas da cidade, falando com este ou com aquele.

Pergunta a uns como vai a agricultura, a outros como vai a família e aqueloutros como vai a situação, porque segundo os seus conhecimentos, a coisa vai preta por causa da crise que o mundo atravessa, ou que atravessamos por via das asneiras dos outros. A haver baboseiras, será sempre dos outros e nunca de nós.

Excepção, nos dias úteis, é o dia seguinte à segunda-feira. Dia de romaria e cavaqueira.

Levanta-se bem cedo para assistir ao iniciar do dia a fim de poder ver a montagem dos vendedores ambulantes no espaço a que alguns chamam de «Mercado Semanal».

Os outros afirmam que não «será por muito tempo» para acrescentarem os que nada sabem «era o que faltava! Um terreno valioso como este, de tão bem estar situado – tendo uma ocupação semanal pelos vendedores onde nem factura é exigível para quem vende as mais diversas coisas, algumas, vindas de não se sabe donde – ser utilizado para outras coisas ou encher a carteira a algum especulador».

Adalberto percorre com a sua calma de alentejano todo o espaço, sempre de tronco erguido. As mãos por detrás das costas, seguras uma na outra, não vá perder alguma ou algum amigo do alheio tirar-lhe dos dedos ou do pulso aquilo que lhe foi oferecido, como do que representa.

Ouve aqui e acolá, para além ajuizar com velhos amigos o que antes ouviu. Assim pode ouvir o botar palavra de terceiros como fazer o seu próprio juízo, que nos dias que correm é preciso muito, se tomada em atenção for a idade da pessoa como dos que se juntam.

Por volta da metade do meio-dia, conforme as horas ou ponteiros, vai arrancando a caminho de onde alguém o espera para lhe dar o merecido, mas obtido dos rendimentos adquiridos em tempos passados por conta de outrém.

Aqui, nas poupanças que uma entidade qualquer a que chamam de Estado, acrescidas de rendimento que deveria ter obtido, é que os dias lhe parecem estar a ficar cinzentos demais, porquanto ouviu de um sabichão que pelo andamento que a coisa leva, qualquer dia nem para a sopa já chega.

Ralha como um desalmado com tudo e todos que o rodeiam, dando a impressão que são os culpados, mesmo que a sua velha Carminda, companheira que é para um ror de anos, se compadeça sempre das malcriadices que vem da boca de quem tanto sabe.

Quando nas noites de tertúlia livre, que obriga os vizinhos do bairro a conviver todos na roda da mesa da sueca, falando os cujos do que todos falam, a noite passa a ser agoirenta para ficar também sem estrelas porque o futuro está ameaçado por quem manda poupar mas não rentabiliza, o que na sua posse está, ou não rentabilizou em devido tempo, aquilo que deveria ser o sustento e segurança para quem trabalhou, tornando a posteridade dos mais novos como um mergulho em águas baixas do rio.

Destas discussões, o resultado foi, segundo os pareceres do Adalberto, ficar sem efeito a excursão, e as futuras, que estava marcada para o mês do ano com menos dias, aconselhando a quem o ouvia, que «estas passeatas deixem de ter efeito imediato para serem substituídas pelas Termas do Cartaxo».

Mais do que nunca, temos que começar a sermos forretas, já que no presente, até os bancos já estão a dar um “chouriço a quem lhes der um porco”.

Como a carne até já vem embalada ou «fechada hermeticamente» como consta nos rótulos nos espaços comerciais maiores que o «Municipal» dificilmente haverá o enchido que todos querem.

A conclusão, com lógica do amigo patusco e galhofeiro, é que o futuro está a ficar preto demais para quem trabalhou e foi obrigado a dar à entidade responsável o «guardar uma parte daquilo que não queria para que da poupança um mealheiro tivesse nos dias do fim da vida».

Aos que argumentam o contrário, que se cuidem, porque os saloios costumavam dizer no tempo que os excursionistas do Adalberto e seus confrades iam – ali para os lados de Mafra mesmo que o motor da camioneta fizesse o caminho todo a dar «ráteres» que mais pareciam petardos de S. João – ver o convento, para depois no fim da viagem ou do dia, acabar tudo nos comes e bebes: «Quando começares a ver as barbas do vizinho a arder mete as tuas de molho».

António Centeio
Enviado por António Centeio em 18/09/2006
Código do texto: T243028