Diário de um Poeta Despoetizado

Não consigo mais acreditar em nada do que meus sentidos captam, percebem, e sentem. Tudo pra mim é tão irreal, tudo: desde meus pés tocando e andando pelas ruas, até as próprias ruas, casas, escolas, igrejas, viciados, florestas, biodiversidade orgânica e inorgânica, átomos e moléculas, todo esse planeta e todo esse universo com as poucas coisas que supomos que conhecemos, e as incomensuráveis coisas que ainda nem chegaram às conjecturas da mente humana.

Constantemente apalpo meu rosto, e sempre ando segurando as mãos, para tentar acreditar que existo de verdade. É muito mais do que um mero niilismo, ou ceticismo; é mergulhar em todo esse oceano galáctico e em cada coisa que a mente apalpa, examina, perscruta, e tudo se torna incoerente, absurdo, hermético, insano, ilógico, completamente irreal e sem sentido. Por mais que Nietzsche e até Proust afirmem que justamente a arte existe para que possamos criar sentidos, valores, conceitos, novas formas de “verdades” que justifiquem o nosso existir individualmente, mesmo assim tudo isso ainda é algo inventado, ficcionado até um ponto de tornamos em uma “verdade aceitável e propícia” para se viver. Não é só questão de aceitar as coisas como são, e aprender a conviver com a angústia inconsolável da gratuidade insana que é o existir cada coisa, cada ente, cada ser.

Nada do que afirmamos e teorizamos que existe deveria existir. Nada. Mesmo inserindo “para quês”, “por quês”, ou descobrindo respostas disso ou daquilo, ou utilizando sofismas e dialéticas, ou descobrindo provas científicas sobre determinados “fatos”, mesmo assim tudo isso pode ser inverdades criadas por coisas que nossa mente tão dúbia sequer cogitou ainda que possa existir. Incertos de nossas próprias incertezas. Escravizados por tantas “certezas”.

Quando penso no ontem, no meu passado, nas coisas que fiz na semana passada, sinto em todo o meu corpo que nada foi real, que não vivenciei o que eu penso que vivenciei. Penso que tudo não passou de uma fantasia criada por minha mente, por minha imaginação, por meus desejos, por minha insatisfação, por meu medo, por partes da minha mente que não tenho o mínimo controle e acesso direto. Ou quem sabe, por outros fatores externos que nunca a mente chegou a pensar. Sinto-me menos que um personagem que é sonhado por uma outra mente ou ser incognoscível.

Quanto mais abraço o Universo, menos o sinto real, veraz, incontestável.

O Existir-em-si é um erro que poucas pessoas querem refletir, analisar, pois nada merece existir. Nada precisava existir. O Existir-em-si não tem propósito e significado nenhum, por mais que possamos criar, inventar, ou negar, etc.

A existência é um abismo onde todos estão enjaulados. A vida é um mar mítico de ilusões mascaradamente palpáveis.

Eu não existo como de fato eu penso ou imagino, e nem como a humanidade, com seu pseudo-conhecimento, afirma que existo e sou.

Todos os meus pensamentos, idéias, sentimentos, emoções, ações, e vivências são tão abstratas e ilusórias quanto o próprio universo, tão visualizado pelas retinas que duvidam de si mesmas.

Pensar constantemente no suicídio? Não que isso seja uma solução ou um refúgio para covardes que foi tão demonizado e dogmatizado pela religião, mas o próprio suicídio é uma parte do Todo do Absurdo o qual é e abrange absolutamente Tudo.

Gilliard Alves

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 18/08/2010
Código do texto: T2444810
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