PIOR DO QUE A QUEIMA DO ALCORÃO: A QUEIMA DO PRINCÍPIO EVANGELIZADOR

Quem não ficou perplexo com a afirmação de que um pastor americano iria promover a queima do alcorão em sua comunidade, especialmente ressaltando e linkando o ato ao contexto do 11 de Setembro de 2001?

As dores pertinentes e relevantes, relacionadas ao episódio, continuam a ecoar no mundo, mesmo tendo-se passado 9 anos do dia tenebroso para a geração que o assistiu. Na verdade penso que o ato do Pastor americano só institucionaliza feridas maiores além de redundar negativamente o ódio e o desprezo pelos inimigos.

Sei que os radicais islâmicos queimam bandeiras americanas de há muito, que respiram o ódio contra o ocidente, do qual fazemos parte, que querem implementar a conversão do mundo pela força de revoluções, dentre outros fatores; mas também sei que o que nos faz diferentes como cristãos é o testemunho do amor aos que nos perseguem, da oração por aqueles que não nos compreendem no comportamento e na fé e quando alguém deseja estabelecer uma queima desta natureza motivado pelo ódio ou por feridas abertas, perde o respaldo.

Não perde apenas o respaldo mas igualmente o senso de responsabilidade, tendo em vista colocar em risco irmãos que sinceramente se envolvem nos contextos das nações islâmicas, no processo de trabalho e evangelização daqueles países. O fato é que nós, que somos cristãos queremos que não só os muçulmanos, mas todos, conheçam sim à Jesus, possam experimentar o Seu amor, conhecer a sua misericórdia, a fim de se relacionar com Deus de maneira verdadeira e eficaz.

Somos cristãos porque entendemos que Jesus, como nos dizem as Sagradas Escrituras, é o Caminho, a Verdade e a Vida. Assim sendo, na nossa ótica não há outros caminhos, mesmo porque Jesus disse: “ Eu sou a porta”. Todas as afirmações de Jesus são precedidas por artigos definidos, como por exemplo O ou A, e nunca com como”um dos caminhos”.

Nossa convicção neste sentido não nos dá o direito de impor isto sobre os demais pela força, violência ou agressividade. Quando a Igreja Cristã fez isto na era da inquisição, já estava nas trevas e banida da essência do verdadeiro cristianismo, por isto e por outros motivos nasceu a reforma protestante, que nos originou como evangélicos.

Só para equilibrar o nível de indignação que temos com relação ao pastor que pretendia num ato irresponsável e precipitado, efetivar a queima do livro considerado sagrado pelos muçulmanos, diga-se de passagem, que nos indignamos na mesma proporção com relação aos templos cristãos, líderes evangélicos e católicos, os quais tem sido não apenas destruídos, mas visceralmente dizimados nos países nos quais os radicais islâmicos demonstram intolerância religiosa, causando não apenas queima de livros, mas assassinato literal de pessoas, como por exemplo, na Turquia. Nem por isso advogamos que a resposta deva ser de violência, mas sobretudo de oração, amor e compreensão de que aqueles que crêem no Senhor não apenas seriam admirados, mas verdadeiramente perseguidos.

Resignação absurda? Entreguismo? Não. Apenas sabemos que nossa força maior está no amor e nas ações inteligentes, e não no radicalismo de uma fé superficial e desprovida de ética em sua abordagem relacional.