Amor e Poder - Paradoxo de nossa existência

Entre tantos paradoxos que encontramos em nossa vida, esse é, provavelmente o mais complicado de se equilibrar. Por séculos o homem vem lidando com ele da melhor forma que pode o que tem se mostrado bem aquém do ideal.

Com a modernidade esta dicotomia ganhou proporções mais definidas, e uma valoração mais robusta. Isso apenas agravou a já delicada habilidade em lidar com ela.

Dentro do cenário atual temos a prática de ambas as forças de modo arbitrário, esboçando um futuro um tanto complexo e sombrio.

Precisamos entender que, embora sejam paradoxais, estes dois elementos necessitam estar emparelhados, para que possibilite uma qualidade de vida melhor.

Poder sem amor, é desastroso; amor sem poder é frágil.

Vivemos em meio à tensão destas duas forças vitais, e só há possibilidade de não nos desgastarmos inutilmente, se conseguirmos em alguma medida, conciliar as duas. A síntese destas energias se faz necessária para que se atenue sua tensão.

O amor implica maturidade, capacidade de se doar, de acolher e partilhar. O amor, diferente da paixão, sendo uma energia propulsora das mais sublimes; é irresistível, o que a torna um foco que promove a união, convergência e harmonia aos que circulam em sua órbita.

Portanto o Amor lidera o espaço das emoções, podendo ser considerada como a mais elevada, mais pura e pro ativa.

Claro está que é preciso distinguir-se bem o amor da paixão; caso contrário corre-se o risco de fomentar maior dificuldade ao buscar, na prática, o equilíbrio almejado.

Pode-se considerar a paixão como prelúdio do amor. Embora seja proveniente dele, é energia mais superficial, periférica e, portanto, menos duradoura. Inflama-se com facilidade, mas não se mantém viva por faltar-lhe combustível que lhe dê continuidade.

Quando apaixonado o homem deixa de ser razoável, e embora pareça estar encantado com o outro, no fundo está embevecido pelo prazer que este estado lhe provoca, e por isso mesmo, tornando-se mais egoísta.

Estudos demonstram que quando, antes de apagar, ela se transmuta adquirindo qualidades mais elevadas, recebendo um toque sublime e ao mesmo tempo adequando-se ao cotidiano como cenário em que se deslocará, acontece a transformação. Uma quase alquimia permitindo ao ser humano a experiência única de amar.

Essa mutação assegura à humanidade não só o prazer, a sensação inebriante de sentir-se amado e parte de outro, como desenvolve a capacidade de experimentar as mais variadas formas de amor. Antes de apaixonar-se, poderiam apresentar-se em preto e branco, e após essa experiência, descortinam-se nas mais variadas e belas matizes, tornando-os bem mais atrativos, o que predispõe o ser humano a amar mais e melhor. O amor, enfim, faz do homem um ser menos egoísta, uma vez que o foco de suas atenções passa a ser o outro e não mais ele mesmo.

Mas se ao amar não exercer com prudência o bom senso, esta energia corre o risco de se perder deixando de produzir os benefícios que potencialmente pode realizar.

Já o Poder implica responsabilidade, capacidade de discernimento, o senso de justiça e mais ainda, a compreensão da ética. Considera-se ética o conjunto de valores que norteia o comportamento dentro da sociedade, valores amplos que dizem respeito ao ser humano, e alguns mais restritos que se projetam dentro da cultura, do grupo em questão.

Quando o poder é despido destes quesitos, torna-se exacerbado, inflamando-se de modo insensato. Um poder assim, espalha discórdia e insatisfação por onde se instalar, gerando violência nos mais variados graus, apenas dependendo da extensão e abrangência que abarca sua área de atuação.

. Tanto quanto o amor, o poder exerce sobre o ser humano um fascínio envolvente, provocando um estado que se assemelha a paixão.

É evidente que tal poder é nocivo e destruidor. Contendo elementos positivos, passa a atuar como variável indesejada já que aciona a discórdia e entraves nos relacionamentos, bem como abre um espaço perigoso para a corrupção. O poder isento de emoções maduras e estáveis é responsável pela injustiça e privação de direitos inquestionáveis de todo ser humano.

O que se deve buscar com objetividade e persistência é, pois, o equilíbrio entre ambas as forças, como o único caminho para se promover, dentro da esfera pessoal e coletiva, um movimento harmônico que propicie o exercício da cidadania, em sua forma mais elevada e essencial.

Não é preciso ir tão longe para conferir o comportamento das pessoas em relação a estas duas energias. Tão pouco se precisa imaginar o desajuste que provoca na sociedade. Uma observação mais acurada ao que se passa ao nosso redor será suficiente para perceber os equívocos e seus efeitos desastrosos dentro da vida cotidiana de todos nós.

O que se faz necessário, e com certa urgência, é atentar-se com agudeza de espírito para cada escolha que se faz. Deve-se iniciar esta aventura nos limites rasos da vida pessoal, exercendo com responsabilidade cada singelo poder que nos foi outorgado no contexto do cotidiano. No lar, na vida comunitária, nos grupos sociais, religiosos, na vida profissional, em todos os âmbitos de nosso viver.

Eis o desafio, o convite que a vida nos faz. Acena a possibilidade de experimentarmos uma qualidade de vida superior, exercendo com liberdade escolhas que irão compor nosso destino, e realizar obras que exigem poder e amor.

Nenhum dom em potencial resolve coisa alguma. Para que se torne realidade é preciso que se transforme em ação e na ação adequada e compatível com o dom que optamos para desenvolver.

Amor e poder são forças inerentes ao ser humano e responsáveis por uma fatia especial de nossa existência. Dosar ambas as energias, experimenta-las em sua grandeza e desfrutar os benefícios que produzem, são proposições na vida de todo cidadão.

Amor e poder são os instrumentos que dispomos para exercer plenamente nossa liberdade.

Priscila de Loureiro Coelho

Consultora de Desenvolvimento de Pessoas

Priscila de Loureiro Coelho
Enviado por Priscila de Loureiro Coelho em 17/06/2005
Código do texto: T25271