O Mundo dos Idiotas

Luiz Luna*

Durante muitos dias fiquei pensando se deveria escrever este texto, ainda mais sobre a sua repercussão, bem como a maneira que deveria discorrer, notadamente, porque seu título, inspirado na leitura de um livro, tem uma conotação diferente da que costumeiramente utilizamos. Sabendo dos preconceitos e das interpretações a que estamos sujeitos, tomei algumas precauções ao portar a obra de John Hoover.

“Como Trabalhar para um Idiota: Aprenda a Evitar Conflitos com seu Chefe”, publicado pela Editora Futura se constitui numa leitura bem humorada e descontraída sobre o mercado de trabalho. Hoover define-se como um idiota em recuperação, realizando uma espécie de programa de doze passos (como o percorrido por aqueles que participam de grupos anônimos de ajuda mútua). Mais à frente, em suas reflexões, faz o leitor perceber que o mundo está cheio de idiotas e que eles não são tão ofensivos quanto possam parecer. Baseado em suas experiências enquanto atuou na Walt Disney, e posteriormente como empresário, o autor utiliza-se de uma linguagem exagerada para percebermos o quanto nosso comportamento tem importância na carreira profissional. Atitudes e palavras não apenas definem nossa personalidade funcional, mas contribuem para o sucesso ou fracasso. Já li uma pesquisa indicando que a maior causa de insucesso profissional se dava por problemas nas relações interpessoais e não necessariamente nas competências técnicas.

O livro é uma leitura que indico para momentos de estresse, tensão ou mesmo para aqueles em que precisamos “sair da realidade”, porque a forma como foi escrito faz com que as gargalhadas surjam com naturalidade, sem contar com a descrição de cenas que a maioria de nós já vivenciou ou ouviu de algum conhecido. Porém, nossa principal descoberta é que o intitulado I-Chefe, aquela pessoa que aparentemente não tem a competência para ocupar a função e acaba sobrevivendo por conta da estrutura, do contexto e da conspiração que existe a seu favor, é um profissional que não sufoca seus subordinados, sendo possível uma convivência pacífica e instrutiva com ele. Têm uma vida muito mais atribulada, de acordo com a filosofia de John Hoover, e que a maioria de nós há de concordar, aqueles que se deparam com outros tipos de chefe, a exemplo do deus (igual ou acima dele, ninguém), sádico (quanto mais sofrimento causar, mais satisfação sente), masoquista (luta por um ambiente de sofrimento coletivo), maquiavélico (vive a armar estratégias e as pessoas ao seu redor não passam de um meio para alcançar seus objetivos) e companheiro (não desgruda do subordinado nem no final de semana).

A figura do chefe ideal também é retratada no livro, pois qualidades como liderança (a servidora, baseada em outro autor norte-americano, James Hanter, é a palavra da moda), criatividade e senso de justiça, entre outras, criam um ambiente motivacional e inspirador para que o profissional possa expor suas qualidades e adquira o interesse na educação continuada, contribuindo para uma relação ganha-ganha, em que a empresa e o funcionário sejam parceiros na busca do sucesso. Por mais que essa realidade esteja longe de alguns Estados brasileiros, é bom adquirirmos o conhecimento suficiente para que possamos conviver apenas em um mundo de idiotas do bem.

* Jornalista e especialista em gestão de pessoas.

L L Jr
Enviado por L L Jr em 02/10/2006
Código do texto: T254553