O BEM E O MAL...E PORTUGAL?

O BEM E O MAL...E PORTUGAL?

O bem e o mal; abertura ou fechamento; salazarismo e anti-salazarismo; privatização ou nacionalização; Estado maior ou Estado menor; se ficar o “bicho” come, se correr o “bicho” pega. Tudo isto são questões que são colocadas no quotidiano ao povo português, algumas mais recentes outras já bem antigas e não são poucas as teorias divergentes e os argumentos convincentes que se lhe apregoam, embasados em estudos científicos, outros de origem em pesquisas universitárias, alguns provenientes na ideologia política de seus autores e ainda outros, fruto da experiência de vida dos cidadãos. Mas, agora pergunta-se: O que se apresenta melhor para o país em que vivemos no momento? Portugal encontra-se numa encruzilhada histórica. Se, por sua vez, estamos convictos que o ingresso no espaço europeu foi um passo indispensável à modernização do país e à sua integração continental, também temos que admitir que, por diversas razões, a nossa adesão não recebeu, sob o aspecto económico, o tratamento mais adequado à projecção do nosso futuro como nação. Há hiatos muito graves que foram se formando com o passar dos anos e o direccionamento dos subsídios comunitários não atingiu a tão propalada igualdade européia que nos foi prometida e na qual milhões de portugueses acreditavam. Houve falta de planeamento ou simplesmente desvio de recursos para finalidades que não as projectadas? Houveram previsões falsas ou falta de capacidade para delinear o que seria bom para a saúde económica do país?

Está claro que, no momento presente da economia portuguesa, o Estado encontra-se demasiadamente pesado comparativamente com o PIB que produz, levando-nos à conclusão de que há funcionários públicos a mais, mas ainda constata-se que, em muitos dos serviços essenciais aos quais o poder público não pode nem deve abdicar, a falta de recursos humanos é constrangedora, não permitindo a sua prestação às camadas populares e criando desigualdades inaceitáveis. Há ainda que considerar que, a simples demissão de servidores públicos poderá acarretar problemas sociais muito graves, pois não há oferta de empregos que permita a absorção da mão de obra eventualmente disponibilizada. Também o remanejamento desses funcionários públicos excedentes para outras actividades do Estado, poderá acarretar sérios problemas no que respeita à qualidade dos serviços prestados, visto que ao serem recolocados em novas funções, tais funcionários, não estarão devidamente preparados tecnicamente para as desempenhar, podendo causar um estrangulamento desses mesmos serviços.

Temos muito o que perguntar e outro tanto o que responder, mas no momento em que, mais uma vez, os intelectuais e os homens da ciência, da pesquisa e da política, resolvem repensar o país, cabe fazer uma reflexão e um exame aos erros cometidos no passado para que não venhamos a incorrer nas mesmas falhas e definirmos um futuro para o nosso país que não corresponda efectivamente às suas reais capacidades e às condições que a competividade internacional nos impõem.

É momento de reflexão e de dedicação, principalmente por parte da classe empresarial, dos políticos, dos dirigentes sindicais e de todos os que representam os segmentos do povo português, para que possamos alcançar os índices de desenvolvimento que nos permitam ombrear com os nossos parceiros europeus e nos proporcionem o estímulo necessário ao desenvolvimento da nossa criatividade e à formação da sociedade que sonhamos para os nossos filhos e para as gerações que lhes seguirão. Não é possível é continuarmos neste marasmo económico que vivenciamos, no qual não enxergamos nenhuma luz alvissareira no fundo do túnel obscuro que percorremos na actual conjuntura económica em que o país se encontra.

EDUARDO NEVES MOREIRA

Economista e ex-Deputado pela Emigração na Assembleia da República

Eduardo Neves Moreira
Enviado por Eduardo Neves Moreira em 03/10/2006
Código do texto: T255263