“Tudo é Oculto”

Aristóteles já dizia que "nada chega ao cérebro sem que antes não passe pelos sentidos". Será que nessa "introdução" do mundo externo e fenomênico através do corpo até chegar ao cérebro, durante essa passagem não haverá nessa dita "travessia" modificações, alterações, e deturpações da parte somática até chegar a mente para ser processado, decodificado, "corrigido", analisado e interpretado? Mas se tudo sofre alterações e modificações nesse percurso até chegar ao "Leme da Consciência", então todas as conclusões, soluções, proposições, ponderações, questionamentos, respostas, etc.; não "induziriam" a Consciência a navegar por "rotas falsificadas, dúbias, equivocadas, erráticas"? Contudo, e se a própria mente já sabe de tudo isso, e num conventículo insondável com a existência, engana-nos com suas classificadas "ciências exatas, lógicas, pragmatismo, positivismo, cientifismo", ou com sua bússola sempre nos direcionando a "encantadores mananciais do Erro sempre velado e Ilusório"? Quem suspeitaria que a própria "razão e o corpo" são os cantos líricos das sereias! E se o próprio ser, o próprio sujeito-investigador-agente se predicaliza nos objetos de suas investigações e ações, e vice-versa?

E esses: "todo o mundo deveria ser...", "a humanidade deveria ser...", "as coisas deveriam ser..." não passam de novos imperativos categóricos frutos da insatisfação narcisística do homem? As sirenes e marteladas da Lei só visam a manipulação do homem, e seus inerentes instintos, tão domesticados por multi-mecanismos inventados pelos "melhoradores da humanidade", cujos alicerces da mesma estão impregnadas de sentimentos de vingança, de pré-conceitos, e cédulas falsas, tão combatidos por essa "divindade justa e inexorável"!

Tudo o que há nesse mundo, e que foi inventado pelo homem para nos escravizar de forma sutil, a fim de que não percebamos, e quem sabe tudo o que o homem inventa e “cria” (pensando sem duvidar que é justamente ele quem inventa e cria) não seja um outro engodo e embuste criados por coisas que nunca nossa mente poderá perscrutar e provar suas existências empiricamente, pois estão muito além de nós. Tudo feito para se divertir a nossas custas, para zombar de nós, para nos usar como fantoches: fantoches de grandes corporações, potestades, e organizações malditas; fantoches de nossa própria mente e corpo que pensamos que podemos controlar (e pode ser justamente o inverso), fantoches de algo incognoscível que dizemos não existir, não haver, etc. As próprias cores que dizemos “ver e existir” só residem nas retinas e no cérebro, em si não há. Examinemos mais a fundo algumas questões para nos aprofundarmos no que estou querendo explanar e desvelar.

Com o homem, a arte da dissimulação atinge o auge: a ilusão, a lisonja, a mentira, o engano, as intrigas, os ares de importância, o falso brilho, o uso da máscara, o véu dos convencionalismos, a comédia para os outros e para si próprio, em resumo: o circo perpétuo da lisonja e o fingimento, são de tal forma a regra e a lei, que quase nada é mais inconcebível nos homens do que um instinto honesto e puro de verdade. Estão profundamente mergulhados nas ilusões e nos sonhos, os olhos só deslizam pelas superfícies das coisas, e ai vêem "formas", a sua sensação não conduz à verdade, mas apenas se contenta em receber excitações e tocar como sobre um teclado virado de costas para as coisas. A linguagem e a consciência são as expressões adequadas de todas as realidades? O que é uma palavra? A representação sonora de uma excitação nervosa. Mas concluir de uma excitação nervosa para uma causa exterior a nós, é já o resultado de uma aplicação falsa e injustificada do princípio da razão. Cada palavra torna-se, imediatamente, conceito pelo fato de, justamente, não servir para a experiência original, única, absolutamente individualizada, à qual deve o seu nascimento, isto é, como recordação, mas deve simultaneamente servir para inumeráveis experiências, mais ou menos análogas, ou seja, rigorosamente falando, nunca idênticas, e só pode pois convir a casos diferentes. Todo o conceito nasce da identificação do não idêntico. Já expressou muito bem Nietzsche: "O que é então a verdade? Uma multidão movente de metáforas, de metonímias, de antropomorfismos, em resumo, um conjunto de relações humanas poeticamente e retoricamente erguidas, transpostas, enfeitadas, e que depois de um longo uso, parecem a um povo firmes, canoniais, e constrangedoras: as verdades são ilusões que nós esquecemos que o são, metáforas que foram usadas e que perderam a sua força sensível, moedas que perderam o seu cunho e que a partir de então entram em consideração, já não como moeda, mas apenas como metal". E disse mais ainda: "Não é senão pelo esquecimento deste mundo primitivo de metáforas, não é senão pela solidificação do que originariamente era uma massa de imagens a surgir, numa vaga ardente da capacidade original de imaginação humana, não é senão pela crença de que este sol, esta janela, esta mesa, é uma verdade em si, em resumo, não é senão pelo fato de o homem se esquecer de si enquanto sujeito, e enquanto sujeito da criação artística, que vive com algum repouso, alguma segurança, e alguma coerência: se pudesse sair um só instante dos muros da prisão desta crença, estaria imediatamente acabada a sua "consciência de si".

Mas o que realmente o homem sabe de si mesmo? E mesmo que provasse que sabe "coisas de si mesmo", tais "provas e evidências" ainda não estariam nos âmbitos do "erro, do equívoco, da ilusão"?

Hoje não tenho mais qualquer compaixão por conceitos, tais como o de "livre-arbítrio": sabemos muito bem o que ele é_ o mais infame truque de teólogos que há, cuja finalidade é tornar a humanidade responsável no sentido deles naturalmente, ou seja, torná-la dependente deles. Discorro aqui apenas da psicologia de toda responsabilização. Em todo lugar onde se procuram responsabilidades, costuma ser o instinto de querer punir e julgar que está a procura delas. A doutrina da vontade foi inventada essencialmente com a finalidade de punir, ou seja, de querer encontrar culpados. (Desde os primórdios, o homem inventou um mundo de espetros espirituais, para encontrar os "responsáveis" e as respostas que explanassem os sofrimentos que vivenciava diariamente: as doenças, as aflições, as injustiças, as incongruências, as guerras, a velhice, a morte). Toda a psicologia antiga, a psicologia da vontade pressupõe que seus autores queriam, e ainda querem, arrogar-se o direito de infligir punições (ou queriam arrogar esse direito a Deus). Os homens foram imaginados então livres para que suas ações e seus comportamentos pudessem ser vigiados, computados, condenados e punidos_ para que pudessem se tornar culpados: em consequência disso, toda ação teve de ser imaginada como querida, almejada, e toda a sua origem como presente na consciência (no que transformou a mais radical falsificação em análises psicológicas verazes). Ninguém é responsável por existir, por ser constituído desta ou daquela forma, por estar nessas circunstâncias, nesse ambiente. A fatalidade de seu ser não pode ser separada de tudo o que já foi, é e ainda será. Por tanto, pertencemos ao todo, e com isso não há nada do que se possa julgar, condenar, comparar, medir o nosso ser (seja até atos estigmatizados e sancionados como inaceitáveis, como assassinatos, genocídios, estupros, roubos, suicídios, altruísmos, etc), pois estamos no todo, e fora do todo não há nada, pois isso significaria medir, julgar e condenar o próprio todo. No homem há matéria, fragmentos, abundância, barro, excrementos, disparates, e caos? Perguntem a si mesmos.

Em todas as épocas se acreditou saber o que é uma causa: de onde, porém, tomamos nosso saber, melhor re-corrigindo, nossa crença de que sabemos alguma coisa quanto a isso? Acreditávamos que nós próprios éramos causais na vontade; achávamos poder surpreender a causalidade no ato. Do mesmo modo, não se duvidava de que todos antecedentes de uma ação, as suas chamadas "causas", devessem ser buscadas na consciência e nela se encontrassem quando devidamente procurados_ como "motivos engendradores": afinal, logo se concluiu, do contrário não se seria livre para praticá-la, não se seria responsável por ela. Enfim, quem teria contestado que um pensamento é causado? Que o "eu" causa o pensamento como tencionou Descartes?

Dos três "fatos interiores" que pareciam garantir a causalidade , o primeiro e mais persuasivo é o da vontade como causa; a concepção de uma consciência ("alma ou espírito") como causa, e mais tarde a do "eu" (do sujeito agente de...) como causa são apenas produtos posteriores, surgidos depois que a causalidade estava estabelecida pela vontade (e suas volições aparentes) como dada, como empiria. Esse denominado "mundo interior" está repleto de miragens e fogos-fátuos. O "motivo" é outro erro, outra invenção que interligam a causa: um mero fenômeno digamos assim da consciência, um acessório do ato, que antes oculta do que mostra os antecedentes de um ato. O homem projetou para fora de si os seus principais "três fatos interiores": a vontade, o espírito e o eu_ ele tomou o conceito de "ser" a partir do conceito de "eu", estabeleceu as coisas como existentes segundo sua própria imagem, segundos seus conceitos de "eu" como causa. Como se admirar que ele posteriormente sempre tenha encontrado nas coisas aquilo que ele próprio introduziu? O conceito de "coisa" é um outro reflexo da crença do "eu" como causa-agente. Todos os elementos que se acreditam conferir realidade ao tal "eu" revelam-se puramente fictícios, totalmente incapazes de definir satisfatoriamente o que seja este "eu", semelhante máscaras fixadas, sobrepostas, coladas a uma imaginada "essência verdadeira e velada", que nos levam a pensar que por trás delas há algo como um rosto real, um ser a princípio fixo, que chamamos comumente desde a infância de "eu".

Os denominados "mundo verdadeiro", o "eu" verdadeiro, "as personalidades verdadeiras", "a psique verdadeira", "os comportamentos e ações verdadeiras" são em si desconhecidas, e com isso nem consolam e nem salvam, e nem nos obrigam a nada: a que uma "coisa" desconhecida poderia nos obrigar? Reduzir algo desconhecido a algo conhecido traz sensações de "calma, alívio, satisfação", e além disso dá uma sensação também de poder. Com o "desconhecido" vem o perigo, a inquietação, o desassossego, o medo. O primeiro instinto se volta para eliminação desses estados desagradáveis, afinal de contas qualquer explicação é melhor que nenhuma. O "por quê?" deve então, se possível, não tanto fornecer a causa em razão dela mesma, mas antes uma espécie de causa que "tranquilize, liberte, alivie", gerando um certo "prazer e consolo". Todas as supostas explicações das sensações que surgem no homem, e fora dele também, são apenas produtos, e como que pseudo-traduções de sensações de "prazer e desprazer" em seus dialetos tão equivocados. Já dizia Heráclito que "o ser é uma ficção vazia", logo tudo que emana e é inventado e projetado ao mundo por "este ser" é...

Será que a própria “Irrealidade e Realidade” são outros fantoches de algo muito mais “maior e até hoje impensável, e ignoto”? Todos os “conceitos, certezas, mentiras, idiossincrasias, descobertas, dores, sofrimentos, sensações, pensamentos, ilusões, mundos, etc”; Tudo não serão outras coisas que jamais se cogitou? O que somos nós mesmos? Será que nós também não somos apenas outras meras imagens? Um algo em nós, mudanças em nós que se tornaram pseudo-conscientes para nós? Nosso dito ego, do qual dizemos: será também isso apenas uma imagem, um extra-nós, exterior? Sempre tocamos apenas na imagem, na superfície, e não em nós mesmos, e em nada. E desdenho tanto desse chamado "livre-arbítrio" e também do vosso "não-livre-arbítrio". Vontade e Não-Vontade não passam em si de meras palavras.

Chamam isso e aquilo de “real e irreal”, e se tudo o que eu direi parecer "ilógico, insano, inaceitável, fictício", é porque também isso também pode fazer parte de todos esses “complôs, organizações, corporações e fatores desconhecidos” que só visam o lucro, a manipulação e o controle de nossos corpos, de nossas vidas, opiniões, comportamentos, de tudo o que compõe cada indivíduo. Para que melhor estratégia do que justamente rotular uma pessoa de: “sofre de transtorno bipolar, ou esquizofrenia, ou Personalidade bordeline, transtornos disso ou daquilo, etc;” para que tudo o que eu venha a falar e afirmar seja desacreditado, afinal “tal pessoa sofre de transtornos psíquicos x e y”; tudo para que encubram “verdades” que eles não querem que saibamos, que jamais desvelemos, que possam frustrar seus planos maquiavélicos. Pensar por si mesmo é algo que de nenhuma forma eles querem.

Examinemos algumas lógicas silogísticas da consciência: "Todos os loucos afirmam que não são loucos". "A Humanidade afirma que não é louca", portanto "A Humanidade é louca". Utilizando ainda a primeira premissa, continuemos analisando: "Todos os loucos afirmam que não são loucos". "Gilliard afirma que é louco"; logo "Gilliard não é louco". E agora utilizando ainda a primeira premissa do primeiro silogismo com relação a psiquiatria, vejamos o que a lógica e as "coerências do pensamento" nos dirão: "Todos os loucos afirmam que não são loucos". "Os Psiquiatras afirmam categoricamente que não são loucos, afinal como tratariam dos "loucos" se os mesmos fossem!"; portanto "Os psiquiatras são loucos também". Parafraseando um provérbio bíblico, eu diria: "Todo louco sempre encontra um outro mais louco que o ouve e o admira". Isto se encaixa muito bem com a "moderna psiquiatria" atual, e as vacas-hindus que formam tal curral denominado de sociedade. É o espírito kafkiano das coisas: se uma pessoa não está louca, mas afirmaram que ela está, os protestos dela só confirmam o que eles disseram.

Se você é considerado louco, todos os atos que, de outro modo, provariam que você não o é passam a ser vistos como ações de uma pessoa louca. Seus protestos veementes são classificados como negação. Os medos justificados são classificados como paranóia. Os instintos de sobrevivência são chamados de mecanismos de defesa. E assim eles encontram qualquer coisa na vida da pessoa que eles interpretarão e afirmarão que "suas afirmações, declarações, pensamentos, ideias, sensações", Tudo é derivado e está conectado com sua designada patologia psíquica. Não deveríamos derrubar todos os altares onde se veneram novos ídolos transfigurados com novas máscaras, como por exemplo "A Psiquiatria, A Ciência, A Razão, A Verdade, O Dinheiro", etc?

Estamos trancafiados numa vigorosa rede e numa camisa-de-força de "deveres e idéias", e não podemos nos libertar! Quem sabe não construir e formular nenhuma hipótese seja a raiz da sabedoria a qual transformaram num hospício beatificado de eruditos, escritores, cientistas, médicos, religiosos e funcionários públicos. Por que a Psiquiatria e a Psicologia não internam também cristãos, espíritas, e religiosos bitolados, para conter suas neuroses patogênicas , tais como: esquizofrenias óticas e ópticas de seres e forças irreais em si; megalomania divinizada e transfigurada numa aparente humildade e piedade; narcisismo patológico, "possessões sobre-naturais"; pós-mundos imaginários; castração da razão e da inteligência; transtornos crônicos de auto-escárnio, e automutilações de seus corpos que idealizam e sacralizam "um nada" que no princípio era apenas o Verbo; a fé destrutiva e autodestrutiva em crenças absurdas que saquearam, assassinaram, torturaram, violentaram, e envenenaram tanto a si mesmos (bilhões de pessoas ao longo da história), ao mundo e a tudo o que tal fé tocava? Ah! Esqueci-me. Esses mesmos neurastênicos, psicóticos que se acham justificados pelo sangue plebeu de um deus factício, estes mesmos têm amparo lícito pela Lei. São úteis e lucrativos aos inúmeros e distintos Líderes do rebanho onde vivem anestesiados.

Por que então, diante desses panoramas analisados até aqui, por que não trancafiar por alguns séculos a Psiquiatria, a Psicologia, A Lei, O Estado, e Deus nos manicômios, cárceres e hades conceituais que os mesmos inventaram, a fim de, quem sabe?, Possam adquirir "honestos" novos olhos sobre si, e sobre tudo o que até hoje fundaram e derrubaram? Que cada um tenha à mão seu próprio cutelo em suas celas...

Passemos para outra questão: Não será a consciência, e todos os instrumentos contidos nela, pincéis, canetas, e tintas com que colorimos, pintamos e desenhamos o mundo, as coisas, o universo e a nós mesmos, segundo nossas idiossincrasias? Concluir que "A Vida é absurda", utilizando métodos de analogias, comparações e os recursos abstratos da mente (quando a origem de tal conclusão é quase sempre psicofisiológica), é demonstrar conhecer e saber o que na realidade não se conhece e nem se sabe: e o oposto de tal afirmação citada acima nos levaria a cair na bipolaridade conceitual de Platão, e de inúmeras religiões que dividiam o mundo com suas categorias dogmáticas de cunho místico, supra-sensível. Todavia, se optarmos pela negação retórica desta afirmação "A Vida é absurda", como fez Camus, tropeçaríamos num labirinto obscuro e inútil tipicamente hegeliano, onde "Tudo o que é real é racional, e Tudo o que é racional é real" levaria a mente a sempre encontrar "objeções, equívocos, omissões, e erros" em tudo o que se aspira a derrubar, defender, e expandir.

Schopenhauer, com seu "aparente" imperativo categórico de "fazer o bem a todos quantos puder, sem interesse", não buscava o mesmo interesses nas "sensações" que ele afirma haver em seu ascetismo autófago das volições do corpo e da mente? A sua idealizada "negação da Vontade" não necessitava da própria vontade, e de suas forças, para assim "mortificá-la, atrofiá-la, depreciá-la, e a negar?" Deveríamos então usar "causa" e "efeito" apenas como conceitos puros, como ficções convencionais, para fins de terminologias, de compreensão, e não de explicações inquestionáveis. Nós é que inventamos as causas, efeitos, a sucessão, a reciprocidade, a relatividade, o constrangimento, os números, a lei, a liberdade, as motivações, as finalidades. Tudo é pura mitologia.

Por que se considera mais valoroso e sublime o "determinado" do que o "indeterminado"? Porque o determinado esclarece, explica, des-vela? Será? Todavia, não estará no indeterminado as melhores e mais fecundas jóias e pérolas? E quem, ou o quê, são os determinantes do determinado? Céus! Quão de indeterminados não serão os maiores determinantes dos assim chamados "determinados".

Sendo a verdade metaforicamente uma mulher, não deveríamos violentá-la de todas as formas? E se as imagens já estão inseridas nas próprias retinas, e todos os sons já estão alojados na audição? Será que até nossas próprias dúvidas não deveríamos questionar seus “verdadeiros fins e propósitos”, como questionar o próprio “questionar”, assim como os motivos de haver “motivos, e fins”? Dos inúmeros fatores atuantes em cada instante, não percebemos quase nada: poderia existir muitas forças que nos influenciassem continuamente, embora jamais se tornassem perceptíveis a nós. Quão essenciais parecem que são "a invenção e a imaginação" onde supomos viver conscientes, assim como falamos de percepções em todas as palavras, e como a conexão da humanidade repousa numa canalização e numa ficcionalização contínua dessas invencionices: enquanto no fundo a verdadeira conexão percorre seu caminho ignoto e indecifrável. Será que toda vida consciente talvez apenas seja uma imagem disforme espelhada? Quão pouco as coisas se tornam conscientes a nós! E quanto esse pouco leva a erros e confusões. E o quanto e quão grandioso é o realizado sem consciência, de forma que será a consciência o mais necessário e o mais digno de admiração e veneração? O eleasta Parmênides outrora afirmou: "Tudo o que não é, não pode ser pensado". Mas não será que tudo o que é pensado não seria consequentemente ficções? Finalizo esse texto com um poema de Fernando Pessoa:

“Nasce um deus. Outros morrem. A verdade

Nem veio e nem se foi: o Erro mudou.

Temos agora uma outra eternidade,

E era sempre melhor o que passou.

Cega, a ciência a inútil gleba lavra.

Louco, a Fé vive o sonho do seu culto.

Um novo deus é só uma palavra.

Não procures e nem creias: Tudo é oculto”.

Gilliard Alves Rodrigues

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 22/10/2010
Reeditado em 29/10/2010
Código do texto: T2572717
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