TRANSPORTES E AUTORIDADES CLANDESTINAS

José Arnaldo Lisboa Martins

Eu passei 22 anos como Eng. Chefe da Divisão de Trânsito do DER/AL e, em duas mudanças de Governo, os novos Governadores, Lamenha Filho e Afrânio Lages, indicaram meu nome aos novos Diretores do órgão, para a minha permanência no cargo. Sem pedir nada, espontaneamente, eles se tornaram meus padrinhos, o primeiro sendo meu compadre. Minhas atribuições eram: planejar e executar todo tipo de sinalização viária, tanto vertical como horizontal, porém, a principal delas, era fiscalizar o Transporte Coletivo Intermunicipal de Passageiros. Nosso Regulamento era semelhante ao de todos os demais órgãos concedentes do Brasil. As nossas concessionárias eram: a Real Alagoas, a Palmeirense, a Santa Luiza, a Progresso, a São Domingos e a Santo Antonio, cada uma com sua região, portanto, sem nenhuma concorrência ruinosa entre elas. No meu birô sempre estava o Regulamento que, estipulava direitos e deveres, tanto das empresas concessionárias como dos passageiros, mas, nossa principal preocupação, era proteger os passageiros, das majorações de passagens, do desconforto, horários e tempo das viagens. Nesta época os clandestinos já davam trabalho e, para facilitar a vida dos seus proprietários, só permitíamos que eles trafegassem entre as cidades interioranas, em dias de feira, para 4 delas por semana. Era nossa obrigação manter uma tarifa justa, tanto para os passageiros como para cobrir os custos das empresas, com a depreciação dos ônibus, instalações prediais, almoxarifado, oficina, reposição de peças, escritório, material de expediente, pessoal, etc. Os preços das passagens nasciam de coeficientes tarifários vindos de Brasília, do Conselho Interministerial de Preços. Qualquer majoração detectada, as multas eram emitidas com rigor.

Quando as Câmaras de Vereadores e os próprios usuários reclamavam de uma empresa, num “livro de reclamações” que mantínhamos no Terminal de Passageiros, nós íamos constatar e, se verdade, endereçávamos um oficio para a empresa se regularizar. Se fosse falta de ônibus, de lugares oferecidos ou incapacidade operacional da empresa, o Regulamento, permitia que mandássemos outra empresa explorar a linha, até que tudo voltasse ao normal, mas, agora, tudo virou bagunça. As propinas andam soltas e deram um jeitinho pra que Vereadores, Policiais e particulares comprassem utilitários, transformando-os de clandestinos em “complementares”. As concessionárias oficiais, ficaram sem condições para o melhoramento das suas frotas, com estas concorrências ruinosas que tiram as receitas das empresas, embora possuam dezenas de ônibus, oficinas, almoxarifado, garagem, recauchutadora, escritórios, centenas de motoristas, cobradores e, despesas com água, energia elétrica e telefone, além de dezenas de elevados impostos. Isto só deveria acontecer se as empresas tradicionais não atendessem às exigências do Regulamento. Tem muitas “autoridades” ganhando dinheiro com esta desorganização dos transportes públicos e o Governador Téo Vilela bem que poderia ver esta injustiça contra as empresas. Acabando-se com a promiscuidade entre autoridades e os donos de “complementares” e, exigindo-se das empresas concessionárias um bom serviço, o Transporte Intermunicipal de Passageiros, melhorará sensivelmente e se acabará com a vergonhosa “troca de favores”.

Final - Agradeço aos amigos, leitores e incentivadores, Dr. Luiz Guimarães, Sr. Eraldo Marques de Macedo e Sra. Elen Nunes(escritora e poetisa de Niterói que me lê no recantodasletras.com.br)

José Arnaldo Lisboa Martins
Enviado por José Arnaldo Lisboa Martins em 19/11/2010
Código do texto: T2623785