GENTILEZA
 

O PROFETA   DAS RUAS DE NITERÓI  

         

Mesmo que eu tivesse o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se eu não tiver ‘AMOR’, não sou nada!”.                                                

                        Corintios I (13.2)



     
Nos Comentários sobre o texto do Almirante Negro, terminei com uma frase de GENTILEZA. Achava que ele não era conhecido, mas muitos falaram nele então resolvi escrever um texto sobre esta figura polêmica que foi recentemente homenageado na novela Caminho das Índias, interpretado pelo ator Paulo José, fazendo uma pregação na Lapa.

Quem é este cavaleiro andante, que perambula pela cidade conduzindo seu estandarte cheio de apliques, oferecendo uma rosa aos passantes e metendo-se em todos os lugares a levar sua palavra? De início parece uma figura estranha, até bizarra com sua bata branca pela rua.


É a partir deste primeiro contato que se percebe que para ele, o que poderá parecer um desvio foi uma opção. O que Gentileza marca? Que dizer é esse que se transfere a própria ambiência da cidade, assentando-se nas pilastras de seus viadutos?


Gentileza chamava-se José Datrino, era um empresário, dono de uma transportadora de cargas no Rio de Janeiro, que se viu sacudido por um acontecimento de grande força trágica: a queima de um grande circo na cidade de Niterói, com perda de muitas vidas.

Depois de alguns dias, ele recebeu um chamado divino para que deixasse tudo que possuía e fosse viver uma missão na Terra, assumindo uma nova identidade.


Nascido em 11 de abril de 1917, em Cafelândia, interior de São Paulo, viveu até os 20 anos naquela região lidando diretamente com a terra. Desde os 12 anos de idade, José já prenunciava uma missão. Em 1937 com 20 anos se dirigiu ao Rio de Janeiro .


No Rio de Janeiro casou-se com Emi Câmara, com quem teve três filhas e dois filhos. O sustento de José Datrino e sua família provinha de fretes. Aos poucos fez o negócio crescer e estabeleceu-se com uma transportadora de cargas na Rua Sacadura Cabral, no centro da cidade. Possuía três caminhões, três terrenos e uma casa.


A partir da tragédia do incêndio do Grand Circus Norte Americano em Niterói, o Profeta deixa tudo para a família e ganha uma nova identidade: JOZZE AGRADECIDO ou GENTILEZA. Sua atribuição: "vim como São José, representar Jesus de Nazaré na Terra”. Curiosamente , o Profeta já sugere, em seu nome, a possibilidade de sua missão. Datrino significa em italiano, de três, enviado pelo Trino (Trindade).


Gentileza foi internado três vezes como “débil mental” (maluco). Numa dessas “internações” o médico psiquiatra disse à filha do Profeta:
- seu pai esta tomando choque à toa, pois ele não é maluco.

Depois destas passagens, Gentileza ganhou novamente a rua. A partir de então, sua figura singular passou a atrair toda sorte de atenção. Aos que o apontavam na rua como maluco, ele dizia : "maluco pra te amar, louco pra te salvar" e “seja maluco mas seja como eu, maluco beleza, da natureza das coisas divinas”.


Em meados dos anos 60, com o verbo na ponta da língua e seu estandarte em punho, Gentileza se apresenta nos lugares como representante de Deus e anunciador de um novo tempo. Aos poucos, torna-se um personagem altamente popular.

Gentileza jamais aceitou dinheiro das pessoas: "é mais fácil um burro voar do que um centavo de alguém aceitar”. Ao contrário, denunciava:
cobrou é traído. O padre está esmolando, o pastor está pastando e o papa está papando, papão do capeta capital”.


A pregação anticapitalista constituiu a denúncia maior do Profeta.

Foi tomado como comunista, tendo que explicar às autoridades o porquê das iniciais PC em seu estandarte. Esta ambiguidade, não se tratava de uma vinculação ao Partido Comunista, mas ao Pai Criador.


Todos os aspectos contribuiram para que Gentileza aparecesse e se destacasse na sociedade da época. Gentileza era um caminhante incansável, que estendeu sua presença a vários bairros do Rio de Janeiro e cidades da baixada além de Niterói e São Gonçalo. Notabilizou-se   como o pregador da lancha, já que pregava sempre na lancha que liga Rio a Niterói, além das inúmeras internações no Hospital Psiquiátrico de Jurujuba levado pela Polícia.


No final dos anos 60, o Profeta inicia uma série de viagens ao interior do Brasil, sendo detido em Aquidauana onde sofreu uma enorme adversidade como Profeta, já que foi conduzido à Delegacia pela polícia, por estar pregando, sem a Bíblia na mão. Gentileza ficou preso por uma noite teve o estandarte quebrado e o cabelo cortado.


Os Jornais de Campo Grande diziam em manchete: "Que mal fez este homem”. Quanto ao fato de pregar sem a Bíblia, o Profeta cunhou uma frase lapidar: "Quem é mais inteligente, o livro ou a sabedoria? Não é a sabedoria? Então eu sou a sabedoria, nós somos a sabedoria de Deus”.


Nos anos 70  Gentileza faz vir ao imaginário cultural do brasileiro a semelhança entre a aparência de Tiradentes com a de Jesus. O próprio profeta fisicamente, assumiu esta figura que remonta aos profetas bíblicos.


No Rio de Janeiro a maior marca de Gentileza era o seu constante deslocamento pela cidade. Nos anos 80, marcou a paisagem urbana do Rio de Janeiro. Entre a Rodoviária Novo Rio e o Cemitério do Caju, numa extensão de 1,5 Km, Gentileza realiza seus 56 escritos murais sobre as pilastras do Viaduto do Gasômetro, que permanecem até hoje.


A partir de 1993, sua saúde fica debilitada após uma queda, que lhe ocasionou uma fratura na perna, o Profeta não possuía mais a mesma disposição. Acometido de problemas circulatórios, sente cada vez mais dificuldades em andar. No início de 1996 , volta a Mirandópolis, São Paulo, próximo a sua cidade natal, onde vem a falecer no dia 29 de maio, aos 79 anos.

Vou terminar este texto com uma frase clássica de Voltaire:

    
"Deus me defende dos amigos, que dos inimigos me defendo eu".


     

       
Mel Braga Protegida por um Anjo

Confesso que certas coisas muito entristecem ...
pois, o homem que fala de paz e de amor é tido como louco...
Cada vez mais as pessoas tem procurado seus proprios interesses..
manipulam as outras com gestos e palavras...
e eu me pergunto: onde vamos parar???/
Muitos homens tem vivido a base do interesse...da mentira... tentando enganar o mundo...
 Mas, se esquecem que não podem enganar a si mesmos...
Amor... compaixão...dignidade e respeito ao proximo são coisas que devem existir dentro do peito!!!
 Muito mais do que palavras bonitas... falsos elogios... falsos ideais
É preciso internalizar o que se prega...
 Não ser apenas da boca ou da porta pra fora...
 Mas agir da mesma forma com quem os rodeia... com quem compartilha o mesmo teto...
 Hoje vemos politicos... empresários... e tbm pessoas comuns vivendo um mundo do faz de conta...
 O amor ao proximo... o respeito e a verdade não deveriam ser apenas fachada... para se jogar a sujeira debaixo do tapete...
 Deveria sim... ser uma prática de corpo e alma!!! 






Ruy Silva Barbosa
Enviado por Ruy Silva Barbosa em 22/11/2010
Reeditado em 23/11/2010
Código do texto: T2629606
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