Feliz ou infeliz? (SERMO CVI)

FELIZ OU INFELIZ?

Prof. Dr. Antônio Mesquita Galvão

Feliz o homem que não pactua com os injustos (Sl 1)

É inegável que todos – cada um ao seu modo – desejam ser felizes. Pelo menos na teoria todas as pessoas verbalizam um desejo de felicidade, realização e progresso. Na maioria das orações esse desejo aparece bem explícito. No entanto, a experiência tem mostrado que nem todos conseguem atingir a felicidade projetada, em função de mil fatores e circunstâncias. Desde a antiguidade judaica Deus alerta para a existência de duas alternativas de vida, condicionadas à obediência, ou não, à lei divina:

Eis que coloco à tua frente dois caminhos; escolhe o bem e

viverás! (Dt 30,19).

Em outros termos se poderia definir esses “dois caminhos” entre felicidade e sofrimento. O ser humano traz consigo a faculdade de escolher se quer ser feliz ou infeliz. Nosso comportamento ocorre de formas a proporcionar a cada um bênçãos ou maldições, como veremos a seguir, conforme a Palavra de Deus:

Se você obedecer de fato a Javé seu Deus, cuidando de

colocar em prática todos os mandamentos que eu hoje lhe

ordeno, Javé seu Deus tornará você superior a todas as nações

da terra. São estas as bênçãos que virão sobre você e o

acompanharão se você obedecer a Javé seu Deus: Você será

abençoado na cidade e também no campo; será abençoado o

fruto do seu ventre, o fruto do seu solo, o fruto dos seus

animais, a cria das suas vacas e a prole das suas ovelhas. Será

abençoado o seu cesto e a sua amassadeira; você será

abençoado ao entrar e ao sair. [...] Javé lhe concederá

abundância de bens; ele abrirá para você o tesouro do céu,

dando no tempo a chuva para a terra... (cf. Dt 28, 1-14).

Contudo, se você não obedecer a Javé, seu Deus, não

colocando em prática todos os seus mandamentos e estatutos

que eu hoje lhe ordeno, virão sobre você todas essas maldições

e o atingirão: Você será maldito na cidade e maldito também no

campo; maldito será o seu cesto e a sua amassadeira; maldito

será o fruto do seu ventre, o fruto da sua terra, a cria das

suas vacas e a prole das suas ovelhas; você será maldito ao

entrar e também ao sair. Javé mandará contra você a maldição,

o pânico e a ameaça em tudo o que você fizer... (vv. 15-44).

Nesse aspecto, a felicidade está ligada à forma como nos relacionamos com Deus, conosco e com as demais pessoas. Ninguém é feliz sozinho! O fato é que ser feliz ou não é praticamente uma decisão de cada um. Diante da iminência das desgraças as pessoas costumam se perguntar sobre o que fazer para conseguir a felicidade ou como evitar os males, às vezes tão comuns à vida humana. Cuidado! Há coisas que podem produzir sofrimento. Há uma lista de receitas para a infelicidade. Vamos ver cada uma delas?

1. Invente dificuldades ou maximize seus problemas e preocupações; assuma a vida dos outros (filhos, cônjuge, parentes, etc.). Não temos estrutura para absorver a vida de ninguém; mães possessivas não deixam os filhos tomar suas próprias decisões; preocupe-se em demasia com tudo; quem se preocupa na véspera sofre o dobro: o câncer, a depressão e o Alzheimer têm na preocupação uma porta aberta;

Observem os lírios do campo... os pássaros do céu... Não se

preocupem com o dia de amanhã; pois o dia de amanhã terá

suas preocupações. A cada dia bastam as suas preocupações

(Mt 6,34).

2. Envolva-se em questões onde você não foi chamado (a);

Quem se mete em briga alheia agarra um cão pelas orelhas

(Pv 26,17);

3. Dê passos maiores que suas pernas; endivide-se;

Aqueles que querem se tornar ricos caem na armadilha da

tentação (1Tm 6,9);

4. Seja ganancioso e faça mau uso do dinheiro; o problema não é o dinheiro em si, mas a ganância;

A riqueza do ganancioso tira-lhe o sono...

5. Sempre ache que sabe tudo, que tem razão e não admita perder uma discussão;

Os falsos sábios sempre caem em suas armadilhas...

6. Reclame (fale mal) de tudo; pessoa maldizente, colérica – de mal consigo mesmo – atrai doenças e coisas negativas;

7. Seja pessimista! O pessimista só vê desgraças, sofre antecipadamente; mães e pais pessimistas contagiam seus filhos; um homem foi pedir ao vizinho um machado emprestado. Enquanto caminhava foi imaginando que o amigo iria negar o empréstimo. Quando o vizinho abriu a porta, o homem encheu-o de impropérios, como se seu pedido tivesse sido negado.

Se seus olhos forem bons, tudo será luz; sendo maus, as

coisas ruins sempre estarão rondando você (cf. Mt 6, 22s).

8. Seja ingrato! Não agradeça nunca e não se julgue devedor de nenhuma forma de gratidão;

9. Seja crítico de si mesmo, não se perdoe; tenha em mente sempre seus erros do passado; seja perfeccionista (carrasco de si mesmo); viva afogado em culpas e remorsos; alimente sentimentos de inferioridade; tenha pena de si mesmo; alimente culpas de fatos antigos;

10. Seja incrédulo! Não creia em você, em Deus, nos outros. Se você não acredita nos seus dons e talentos, nem Deus vai poder apreciar você. O homem que não crê em Deus cria um vazio existencial dentro de si que nada pode preencher;

Busque a Deus enquanto ele se deixa encontrar; clame por

seu nome enquanto ele está por perto (Is 55,6).

11. Viva em pecado! O pecado trava a pessoa, afasta-a dos salutares objetivos de vida, proporciona um rompimento com Deus e encaminha à perdição.

Não se iludam, pois com Deus não se brinca: cada um

colherá aquilo que tiver semeado. Quem semeia nos

instintos egoístas, dos instintos egoístas colherá corrupção

(Gl 6,7s);

Pois a morte é o salário do pecado... (Rm 6,23).

Não existe criatura que possa esconder-se de Deus; tudo fica nu e descoberto aos olhos dele; e a ele devemos prestar contas (Hb 4,13).

12. Descuide da sua saúde! O corpo humano, criado por Deus retrata a dignidade que o homem está revestido. Quem não cuida de sua saúde, deixa de preservar a criação de Deus em si, e comete pecado.

Esses doze itens que acabamos de estudar podem ser chamados de “obras do diabo”, pois o que o maligno mais deseja é a infelicidade do ser humano, na esperança de que o desespero gere um tipo de depressão que seja capaz de afastá-lo da amizade com Deus.

Diante disto, parece que a felicidade está mais ao nosso alcance do que se imagina, e se nós não somos felizes é porque criamos tantos obstáculos, que nos tornamos infelizes por conta de nossa incapacidade de buscar as coisas bem onde elas se encontram.

Desde a Antiguidade, os judeus chamavam de ashrei os felizes, não apenas os detentores de uma felicidade material, mas àqueles que desfrutavam a ventura da amizade com Deus. Esse tema e esse sentido voltariam à baila nas chamadas bem-aventuranças, onde os evangelistas Mateus e Lucas se referem aos felizes coma a palavra grega makários.

Na filosofia clássica a felicidade aparece sintetizada pelo termo eudaimonia. De um modo estrito, eudaimonia é uma transliteração da palavra grega para prosperidade, boa fortuna, riqueza ou felicidade. Em contextos filosóficos eudaimonia tem sido tradicionalmente traduzida simplesmente por “felicidade”, mas muitos mestres e tradutores contemporâneos tentam evitar esta interpretação, uma vez que pode sugerir conotações que nada ajudam ao leitor acrítico. (Por exemplo, não se refere a um estado emotivo, nem é coextensional com a concepção utilitarista de felicidade, apesar de ambas as noções poderem, em alguns pensadores, contar como aspectos da eudaimonia.)

Dado que a palavra é composta pelo prefixo eu (bom) e pelo substantivo daimon (espírito), tem-se proposto em expressões alternativas como “viver bem” ou “florescimento”. Mas o consenso mostrado é que “felicidade” é adequado se o termo for apropriadamente compreendido no contexto filosófico da antiguidade

Eu conheci – e conheço – muitas pessoas infelizes – gente que acorda se odiando e maldizendo sua vida, sem achar graça em nada. Existem pessoas que têm prazer em se queixar, se fazer de vítima, posar de maria-chorona, explorando só o lado negativo das coisas da vida. Pessoas assim atraem males e nunca vão para frente. É sabido que a vida humana alterna fatos bons e maus na vida de cada um, mas nem por isso é permitido a algumas pessoas que se revistam de um negativismo pessimista, como se a vida fosse só desgraças. Ora, se eu faço questão de parecer infeliz perante os outros, é certo que vou ser infeliz mesmo.

Uma senhora, de certa idade, só tinha palavras de queixas e aborrecimento. Era terrível perguntar como ela ia, pois lá vinha um rosário de penas, dores e mágoas. Ela só falava em doenças, em remédios e médicos, se esquecendo que sua vida tinha vários pontos positivos, construtivos e de um ponderável talento natural. Um comportamento desse quilate valoriza, potencializa a infelicidade e impede a vida e o convívio social e familiar. É aquele tipo de pessoa que acorda se odiando, vendo fantasmas em tudo, incapaz de enxergar o sol, mesmo que encoberto por algumas nuvens.

Outra pessoa, uma senhora bem idosa, parecia se odiar, pois era incapaz de cultivar uma amizade, a despeito de tantas pessoas boas que Deus colocou em seu caminho. Ela foi casada com um homem bom, de caráter, que lhe proporcionou uma vida estável e de ótimo padrão material. Ela nunca estava contente com nada; tinha o guarda-roupa abarrotado de roupas, mas se negava a sair com o marido, alegando não ter o que vestir. Depois que ele morreu, ela ia ao cemitério para, diante da sepultura do extinto, dizer-lhe toda a sorte de ofensas, destilando mágoas e ressentimentos. A questão chegou a tal ponto que, pressentindo sua morte, ela fez uma relação de pessoas que não queria presentes em seu funeral, e deu instruções aos filhos de não ser enterrada junto com o marido. Esta odiou e foi infeliz até na morte. A pessoa que age desse jeito é infeliz e inferniza a vida dos que têm a desventura de viver perto dela.

Entre os problemas comuns que, através dos séculos, têm preocupado a humanidade, de poetas a filósofos a pessoas comuns, podemos com certeza colocar a questão da felicidade. A psicologia abre nichos formidáveis para estudar a alma de pessoas que não conseguem ser felizes...

Desejar felicidade uns aos outros em várias circunstâncias da vida, ouvir de pessoas que aparentemente têm tudo o que queriam e no entanto não podem dizer que são completamente felizes, ver pessoas com bens e posses que nós achamos que trariam a felicidade e que no fim de contas têm todos os tipos de problemas – tais como as drogas e o álcool – problemas que o sentido comum nos diria que são problemas das pessoas que estão lutando com a vida: todas estas experiências e pensamentos todos nós já tivemos pelo menos uma vez.

Ironicamente, é possível que nós, depois de termos testemunhado este paradoxo, mesmo assim muitas vezes não nos perguntamos o que é a felicidade, ou, quando perguntamos, sentimos certo desconforto ao tentar dar uma resposta, se ela não for simplesmente uma resposta vaga cheia de lugares comuns. O que a experiência tem demonstrado é que a felicidade não começa a partir da posse de coisas materiais, mas ocorre através de uma sensação de íntima gratificação, que nasce no espírito e no coração. Muitas vezes as pessoas despossuídas de bens conseguem ser felizes com o pouco que têm.

Na teologia, especialmente na área pastoral, vemos que para ser feliz o ser humano precisa agregar Deus às suas formulações de vida. Somente é feliz quem obedece a Deus e quem reconhece seu senhorio. Sejamos tementes a Deus todo o dia. É feliz e prospera aquele que se recolhe à sombra de sua palavra. Para organizar minha felicidade devo estabelecer um roteiro, que deve começar por três questões básicas.

• Estou no centro de vontade de Deus?

• Estou onde Deus quer?

• Faço tudo o que ele quer?

O certo é que devemos florescer onde Deus nos plantou. As Escrituras preconizam o ser no temor de Deus. Aqui o ser é mais do que o estar. Ser é permanente; estar pode ser provisório. Depois, com quem você anda? O que você faz? Você sabe se desviar do mal? Na hora do perigo, da dor ou da tentação, a quem você recorre? Como você reage às adversidades? Ora, medita a agradece a Deus, ou é daqueles que se revolta e murmura? Você procura evitar o perigo de viver no pecado todo o dia? (viver no pecado é uma situação de impiedade que difere de pecar). A esse respeito o saltério se abre com uma bem-aventurança:

Feliz o homem que não anda na companhia dos injustos, não

para no caminho dos ímpios nem se senta na roda dos

zombadores (Sl 1,1).

Para ser feliz e bem sucedido espiritualmente o cristão precisa considerar-se como morto para o pecado (cf. Rm 6,1). Isto se faz com integridade, caráter e decência na vida social, familiar, religiosa. Não seguir esses preceitos morais é desprezar o ensino de Jesus. Vejam, por exemplo, o ato de comprar um produto pirata para levar vantagem. Se você se corrompe por causa de R$10,00 (um vídeo, por exemplo), se for político, gerente de banco, magistrado ou homem público, vai roubar milhões. Quem não é fiel nas pequenas coisas não o será, seguramente fiel nas grandes.

Não tenha inveja dos pecadores, mas viva sempre no temor de Javé, pois é certo que assim você terá futuro e sua esperança não fracassará!

Hoje os pérfidos e os invejosos “plantam” noticias para denegrir. Invadem uma casa ou uma empresa para criar um fato, em geral falso, que depois é difícil desmentir. A própria polícia, que nem sempre é honesta, invade, acusa e depois não ocorre nada, não prova nada, e a pessoa fica difamada. Dizem que o fulano está sendo investigado, e fica por aí. Somos vítimas de denuncismo barato, motivado pelo ciúme, pela inveja, e muitas vezes pela ambição desmedida.

Na verdade, ser no temor de Deus é ser íntegro todo. É essa a integridade que torna o homem santo e disponível a toda a obra de Deus. Se eu quero ter um bom futuro no terreno espiritual é preciso – como recomenda São Paulo – ser íntegro e inocente como perfeito filho de Deus que sobrevive no meio de gente pecadora e corrompida, brilhando como astro no mundo, apegando-se firmemente à Palavra de Deus (cf. Fl 2,15). Quem diz que ama a Deus deve amar o outro como a si mesmo, senão é mentiroso (cf. 1Jo 4,20). Ser no temor de Deus é ser solidário com o irmão. Caso contrário a esperança dele vai falhar e você, por ser responsável pela infelicidade dele, não será bem sucedido no Senhor.

Felizes os íntegros em seu caminho, os que andam conforme a

vontade de Javé (Sl 119,1).

A esta altura vocês devem estar se perguntando: o que é felicidade? A que tipo de felicidade o pregador deve estar se referindo? Como chegar à felicidade? O fato é que o mundo está sempre oferecendo os mais variados tipos de felicidade que, nem sem sempre, se revelam consistentes.

Na cidade onde moro estão desenvolvendo um projeto imobiliário que consiste na construção de vários blocos habitacionais de alto padrão chamado “happiness” (felicidade). Será que esses apartamentos em si são capazes de trazer a felicidade para alguém? Muita gente liga a felicidade ao bem-estar material.

Quando estive no Egito, há uns três anos, fui a Gizé, nas cercanias do Cairo, ver as pirâmides e a esfinge. Lá a gente aluga um camelo para passear por aqueles sítios históricos. A cada vinte metros do percurso o cameleiro perguntava em um inglês tosco: happy? (você está feliz?).

Surge aqui o ponto central de nossos questionamentos: será que possuir uma fina residência ou fazer um passeio fantástico por um lugar histórico é capaz de dar felicidade? Não se pode classificar como infelicidade ter uma moradia ou viajar, mas falar em felicidade... Seria uma distância muito grande.

Conheço pessoas que moram bem, têm carro do ano e fazem belas viagens e não são felizes. Ter um lar ou fazer um passeio podem trazer alegria (que é um valor passageiro), mas para tornar felizes as pessoas é preciso muito mais. Ao contrário, outros são felizes sem nunca terem ido além da esquina, mas têm suas vidas centradas em Deus e seus corações ancorados no bem. É a alegria, cultivada no amor de Deus, que traz a felicidade...

Agora vamos falar em tempestades, enfocando seu sentido figurado, aquelas que assombram a nossa vida, em geral causando um desequilíbrio físico, moral e espiritual. A tempestade é um drama, geralmente inevitável na vida das pessoas. Certa vez, falando a um auditório numeroso, justamente sobre o assunto do sofrimento, eu perguntei: “Quem nunca teve uma tempestade em sua vida?”. Ninguém levantou a mão. E fui adiante: “Se alguém afirmasse que nunca sofreu uma tempestade, eu diria que se prepare, pois ninguém está imune a um problema dessa ordem”.

Há tempos escutei um pregador falando justamente nas tempestades da vida, armadas pelas forças do mal contra os que crêem. A fé dos fiéis está propensa a sofrer sempre o teste das tempestades. Desse tema respiguei algumas idéias para expor nesta meditação. O mal, organizado como é, está sempre urdindo armadilhas contra o ser humano, visando justamente desequilibrá-lo e forçar sua desestabilização. Uma pessoa desequilibrada é mais fácil de ser dominada.

O que é uma tempestade na vida das pessoas? É quando alguma coisa, fora dos padrões, vem alterar o equilíbrio ou ameaçar a segurança moral de alguém, de uma família, de um grupo. Pode ser um confronto entre marido e mulher, entre pais e filhos, envolvendo irmãos, ou indicando rupturas com amigos, vizinhos ou colegas de trabalho. A crise sempre subentende um fracasso.

Há tempestades que surgem de forma inesperada e inevitável, mas há também aquelas que se formam pela falta de vigilância dos indivíduos, ou mesmo pela indiferença ou frouxidão com que se preparam para o confronto, abrindo a guarda aos perigos, às doenças, às tentações, tudo por causa da busca de emoções novas e prazeres nem sempre muito lícitos, quando se tangencia aquela linha tênue do bom senso, da ética e da moral. Quais os critérios que os ateus usam para classificar a felicidade?

Aquele que é fiel a Deus sabe que no dia da tribulação nada o vai derrubar. As coisas vão acontecer num kairós (o tempo de Deus) e ele estará protegido. Todo o bem que houver praticado, toda a obediência dispensada ao Pai, tudo será reconhecido. Seus projetos prosperarão. Para a obtenção da prosperidade material, aquela que se usufrui nesta vida, são necessários três passos importantes:

1. Trabalhar

O trabalho gera conforto e bem-estar

Deus dispôs o homem para cultivar e cuidar o jardim (cf. Gn

2,15);

Eu e meu Pai trabalhamos... (Jo 5,17);

Pregamos o evangelho a vocês, trabalhando de noite e de

dia, a fim de não sermos um peso para ninguém (1Ts 2,9);

Quem não trabalhar, que não coma! A essas pessoas mandamos e pedimos no Senhor Jesus Cristo, que comam o próprio pão, trabalhando em paz (2Ts 3,10.12);

2. Obedecer a Deus

Deus dispôs, desde o princípio que o homem ganharia seu pão com seu próprio esforço e suor do seu rosto (cf. Gn 3,19)

3. Ser esforçado

Não basta trabalhar para obter sucesso; é preciso fazê-lo com afinco, esforçando-se, empregando uma energia acima do normal. Quando o sucessor de Moisés fraquejou, Javé deu-lhe uma ordem: “Josué, esforça-te!” (Jz 6,11). Ao povo vacilante, o Senhor fez a mesma observação (cf. 2Cr 15,7). Quando a doença nos aflige, ir ao médico não é o bastante; é preciso tomar os remédios e fazer o repouso, se for o caso.

Se você quiser ser bem sucedido, em todos os níveis de sua vida, se entregue nas mãos de Deus. Não confie demasiadamente nos projetos dos homens; eles costumam falhar. Quer ser bem sucedido? A gente sempre se acostumou a estudar mais o Novo Testamento, embora no Antigo haja preciosidades que podem nos orientar vigorosamente. Vamos colher pistas em Provérbios 4:

Acima de tudo, guarde o seu coração,

pois dele brota a vida (v. 23);

Em um mundo de pessimismo há muitas coisas, em geral simples, que são capazes de criar a felicidade. No interior do Rio Grande do Sul, a região da colonização alemã é rica em sabedoria popular. Pois lá há um velho ditado que diz: “Queres ser feliz um dia? Compra uma roupa nova! Uma semana? Mata um porco! Um mês? Acerta na loteria! Um ano? Casa-te! Toda a vida (e na outra)? Une-te a Deus! A sabedoria popular ensina que só se unindo a Deus o homem pode ser feliz por toda a sua vida (e também na futura). Lamentavelmente, nem todos sabem disto, ou se sabem não colocam em prática tal assertiva. Vamos ver algumas coisas que criam felicidade?

1. Comemore cada vitória de sua vida; faça desta, reúna seus

amigos; nosso Deus é Deus de alegria (cf. Pv 17,22;

2. Seja alegre, sorria: Israel fazia festa para tudo: celebrou a

libertação no meio do deserto, muitos anos e quilômetros

antes de chegar à Terra Prometida; festeja não a colheita,

mas o plantio...

3. Não tema inimigos ou adversários: Deus está ao seu lado.

4. Sempre ache que tudo vai dar certo, que você é feliz e

abençoado...

Creia em Deus! Quando ele está a seu favor, todos os seus pedidos são atendidos e todos os seus projetos são abençoados, pois ele é poderoso e generoso. Foi Jesus que disse:

Peçam e receberão!

Por que razão Deus nos abençoa? Primeiro, para cumprir seus propósitos em nossa vida (cf. Esd 6,22). Depois, para que nunca menosprezemos a bênção que ele pode e quer nos dar. Mesmo assim, não se deve ter inveja da bênção que Deus dá aos outros. Nosso Deus é um Deus de festa e de comemorações:

• Recém saiu do Egito, celebre!

• Plantou (ainda nem colheu), celebre!

• Está pedindo em oração, já agradeça!

Felicidade é andar na luz de Deus. A luz, por mais tênue que seja é capaz de dissipar todas as trevas juntas. Na equação da felicidade vemos que eu + eu é sempre igual a eu (egoísmo); de outro lado, eu + você aponta para uma sociedade humana instável; provisória! Agora se eu agrego o eu + Deus + pessoas, o resultado será a felicidade estável... Para que qualquer projeto consiga eficácia, Deus tem de ser o arquiteto da empreitada.

Se Javé não constrói a casa, em vão labutam os seus construtores. Se o Senhor não guarda a cidade, em vão vigiam os guardas (Sl 127,1).

Para firmar nossa felicidade precisamos conhecer o que os teólogos chamam de “atributos do caráter de Deus”:

• Misericórdia

• Benignidade

• Bondade

• Justiça (cf. Rm 11,22)

• Perdão

Longe de significar uma “aprovação de conduta” (o sinal disto é a prosperidade dos maus) a bênção de Deus prova sua misericórdia pelo pecador. Cuidado para não jogar fora o que você construiu! (cf. 2Cor 9,6ss). Na hora de pedir alguma coisa, peça o que é necessário: nem de mais nem de menos, mesmo assim não se satisfaça com pouco. Quando Deus está a seu favor todos os seus pedidos são atendidos, pois ele é poderoso. Para ser feliz é necessário celebrar festivamente as vitórias. O que temos para celebrar?

• vida

• saúde

• amor

• vitória

• doença

• cura

• morte

É salutar que se tenha a consciência de que nosso Deus é vencedor: ele nunca perdeu uma batalha! Unidos a ele também só vamos experimentar vitórias em nossa vida. Por que Deus nos abençoa? Para que nos o exaltemos, glorifiquemos e louvemos.

Invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás (Sl 50,15).

O que temos feito (ou pretendemos fazer) com a bênção que Deus nos dá para sermos felizes? Alguns aproveitam, outros jogam fora. Os motivos são os mais diversos:

• Ingratidão

• Falta de fé

• Apatia e preguiça

• Cegueira espiritual

• Ausência do temor de Deus.

Olhando a prática de Deus na Bíblia, que rumos podemos tomar para obter a felicidade?

• Conserve só os amigos alegres, os pessimistas te deprimem;

• Aprecie as coisas simples: adquira hábitos saudáveis;

• Aprenda a rir, a achar graça de (em) tudo;

• Não faça viagens ao seu passado emocional, onde

armazenaste as antigas culpas;

• Fuja de toda a ocasião de caírem pecado:

• Coloque Deus como prioridade em sua vida.

Você quer ser feliz? Ser feliz depende de nós... É um erro orar pedindo felicidade a Deus. Ele nos dá dons e bênçãos. Nós construímos a felicidade: a nossa e a dos outros.

A felicidade vai além de matar um porco para comer a carne e desfrutar da banha... Para ser integralmente feliz, una-se a Deus, nesta vida e na outra! Siga os passos de Jesus Cristo, comprometendo-se com a sua missão e com a sua Igreja. Adore o Pai como autor de todas as coisas e todo o bem. Deixe que o Espírito Santo organize e ilumine sua vida. Depois disto, ame seu próximo como gostaria de ser amado e viva em comunidade.

Provem e vejam como Javé é bom: feliz o homem que nele

se abriga (34.9);

Feliz é o homem que confia em Javé! (40,5);

Feliz quem cuida do fraco e do indigente: Javé o salva no

dia infeliz (41,2);

Sim, felicidade e amor me acompanharão

todos os dias da minha vida

(Sl 23,6).

Resumo da pregação de um retiro espiritual para padres que o autor assessorou no interior do Paraná (Londrina) em novembro de 2010. Galvão é filósofo, escritor e doutor em Teologia Moral.