Quando a vergonha perde a vergonha.

Resolva a expressão matemática:

[(R$ 26.723,13 + R$ 60.000,00 de verba de gabinete + R$ 15.000,00 de verba indenizatória + R$ 3.000,00 de auxílio moradia + R$ 1.000,00 de verba para assinatura de revistas + R$ 4.000,00 de verba para telefone e correio + R$ 9.000,00 de verba para passagens + R$ 8.000,00 de verba para assistência médica + 13º salário + 14º salário + 15º salário) x (513 + 81)].

R$ 16.512, 09 de salário era muito pouco, ainda bem que os excelentíssimos deputados federais e senadores (as) – em um ato realmente nobre – adiaram suas viagens de fim de ano para votarem o aumento de suas parcas remunerações. Eu, particularmente, fico comovido ao perceber que estes nobres senhores (as) aguentaram até os últimos dias do ano de 2010 para aprovarem a equiparação dos seus tetos salariais com o dos ministros do STF. Já estava mais do que na hora da sociedade olhar com mais atenção para estes aguerridos trabalhadores e valorizá-los pela sua contribuição à nação brasileira, profissionais estes que agem sempre preocupados com as possibilidades reais do erário público.

Neste sentido, o Brasil não poderia se furtar de negar tal benefício ao legislativo, haja vista a situação econômica de todos os setores institucionais públicos e privados. Não há – por exemplo- nenhum professor insatisfeito com o salário e com o apoio do governo concernente a melhoria das escolas; nenhum policial descontente com a sua renda e com a aprovação na íntegra da PEC 300; nenhum cidadão sem assistência médica pública de qualidade; nenhum empresário carente de estruturação para melhor desenvolver o seu trabalho; nenhuma pessoa intranqüila preocupada com a segurança; nenhum hospital sem equipamentos adequados para atender todos os seus pacientes sem fila; enfim, não há razão pela qual não dividir a renda com os nossos auspiciosos representantes do povo e dos Estados.

Orgulho-me muito por saber que temos 513 notórios deputados federais representando os interesses do povo, estamos na frente de Portugal, Finlândia e Dinamarca que só têm –respectivamente - 230, 200 e 179 ilustres parlamentares preocupados com os interesses de seus representados. Regozijo-me ao saber que nossos 81 senadores se aposentarão com 8 anos de incansável serviço, pois acredito que ninguém acha isso injusto ao comparar com o seu próprio tempo de contribuição à previdência social.

Compreendo que se faz necessário, desde a idade média, a cobrança compulsória de tributos (jus imperis) para a manutenção do contrato social, no entanto, peço humildemente a vossas excelências que não votem pelo retorno do direito de pernada. Isto é, direito da primeira noite (jus primae noctis) que o senhor feudal da Europa Ocidental tinha sobre as donzelas recém casadas. Lastimo não ter desprendimento e complacência, mas afinal já dividimos nosso dinheiro com o Estado em troca da nossa educação, saúde, segurança, infra-estrutura... acredito que dividir mulher seria um tanto quanto exagerado, pois para tudo há um limite.

Resultado da expressão: R$ 75.273.539,22 mensais + décimo 3º, 4º e 5º.