A MÁ FAMA DE ALAGOAS

José Arnaldo Lisboa Martins

Se alguém me perguntar onde eu gostaria de ter nascido, eu diria que na mesma cidade sertaneja de Mata Grande, no mesmo sobrado, filho dos mesmos pais, irmão das mesmas irmãs e com os mesmos amigos de infância. Estou satisfeito com o que já fiz, mas, gostaria muito de voltar à minha infância feliz, descalço pelas calçadas, tomando banho de chuva em biqueiras, pulando cercas de arames para “roubar” frutas alheias e nadando nos açudes das redondezas. Sou alagoano com muito orgulho, mas, está ficando difícil continuar assim, diante do que já aconteceu e continua acontecendo.

Concluí meu Curso de Ginásio no Salesiano de Aracaju, onde discutia com meus primos sobre qual era o Estado mais desenvolvido, se Alagoas ou Sergipe. Pra fazer raiva aos sergipanos, eu citava os Marechais Deodoro e Floriano Peixoto, como meus ilustres conterrâneos, dizia que Aurélio Buarque de Holanda era o maior lexicógrafo do Brasil, Pontes de Miranda o mais importante jurisconsulto, Graciliano Ramos melhor romancista do que Machado de Assis, Dom Avelar Brandão Vilela como Primaz do Brasil e Cardeal mais inteligente do mundo e que o General Góis Monteiro foi o maior militar do nosso Exército e melhor do que Caxias. Os querido primos ficavam “p....da vida” com meu oportunista bairrismo. Hoje, se eu voltasse para Aracaju, é provável que os meus velhos amigos daquela linda cidade, zombassem de mim, dizendo que nos últimos anos, Alagoas tem dado ao Brasil, somente políticos assassinos, desonestos e taturanas. Não adiantaria eu continuar falando nos vultos históricos, no dicionarista, no jurista, no literato, no Cardeal ou no General, pois, nossa fama mudou para pior. Quando eu os elogiasse, eles iriam citar o Fernando Collor, Paulo César Farias, Renan Calheiros, Maurício Quintela, Antonio Albuquerque, João Caldas, Adeílton Bezerra e os Prefeitos que foram presos na Operação Gabiru. Não iria adiantar eu defendê-los, pois, a imprensa brasileira falou muito deles, deixando uma péssima fama para Alagoas. Se eu falasse no Dida do Flamengo e da Copa do Mundo, no Djavan, no Hermeto Pascoal, no Aldo Rabelo e na maravilhosa Marta, eles iriam me lembrar dos crimes políticos que aqui acontecem, no analfabetismo, na mortalidade infantil, na falência de usinas, no sumiço da Bacia Leiteira, no desaparecimento da plantação e industrialização do fumo e nos desvios de verbas para as enchentes. Iriam falar nas constantes derrotas do CSA e do CRB, nos assaltos, nos assassinatos e arrombamentos de escolas.

Alagoas hoje é outra, diferente daquela que eu defendia em Aracaju e por onde andava. Aqui já temos rombos em órgãos públicos, incêndios impunes na Câmara de Vereadores e Assembléia Legislativa, roubo de cargas e combustível adulterado. Já estivemos em jornais internacionais, com pedófilos, Deputados e Prefeitos algemados. Hoje, está muito difícil para nós, defendermos Alagoas. Que os queridos sergipanos, primos ou não, me perdoem !

Em tempo: Agradeço aos leitores e incentivadores: minha ex-professora arquiteta Zélia Maia Nobre, José Cirilo Cordeiro, amigo de infância Aldo Lemos, Advogado Givan Lúcio Silva e Fernando Augusto de Araújo Jorge.

José Arnaldo Lisboa Martins
Enviado por José Arnaldo Lisboa Martins em 19/02/2011
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