As novelas acabam...

Não assisto às novelas da Globo, normalmente estruturadas num certo maniqueísmo que compreende gente de bem de um lado, adeptos do mal de outro e uma fortuna ou filho no meio. Não assisto às novelas, mas leio a respeito.

Sobre o fim daquela chamada Belíssima, o que me chamou a atenção foram as pesquisas indicando que a vilã, Bia Falcão, tinha caído nas graças dos noveleiros e noveleiras nacionais.

Até onde sei, essa tal vilã matou três e fugiu para fora do país, protegida por uma gorda conta bancária. Contam-me que ela partiu desdenhando o Brasil e o povo brasileiro -justo o povo que a ama muito, sem ressalva ou restrição.

O autor da novela, Sílvio de Abreu, amparou-se em pesquisas de opinião pública para compor essa personagem bem ao gosto popular. Parece ter funcionado o excelente truque da demagogia midiática: dizer o que o povo quer ouvir, fazer o que lhe apetece e se render aos apelos da audiência. Sim, não é bom contrariar o deus consumidor!

Segundo Sílvio de Abreu, as pesquisas em que se baseou lhe garantiam que o brasileiro entende como “chata” a pessoa que observa os princípios éticos. Aqueles que o brasileiro admira são os que tentam “levar vantagem em tudo” para subir na vida –óbvio: mandando às favas o valor e escrúpulo éticos fundados no respeito, conduta tão ao gosto de certos políticos e outras figuras de destaque entre nós.

Não duvido de Sílvio de Abreu. Fico estarrecido com o descaso nacional para com a ética.

Não faz muito tempo, outra sondagem indicava que 75% dos brasileiros, caso ocupassem um cargo público, estariam dispostos a praticar a corrupção passiva e ativa –o mesmo povo que aceita, inerte, a prisão de uma doméstica por ter roubado um pote de margarina, e que lincha um rapaz por também ter roubado o mesmo produto (casos ocorridos em São Paulo e em Dourados, Mato Grosso, amplamente divulgados).

Do exposto parece que podemos concluir que, na mentalidade brasileira atual, a coisa pública é para ser roubada; a propriedade privada é para ser mantida segundo a lei do “olho por olho, dente por dente”.

Fazer o que? Dizer o que? Quando a verdade é condenada e a mentira leva a melhor de modo amplo, geral e irrestrito, tanto por certos políticos quanto por alguns professores, advogados e juízes... o que se pode fazer?

Assim, não dá!

Terá um outro lugar no mundo para onde eu possa ir -de preferência sem essa gente que nem se lixa para a falta de ética que campeia esses brasis?