Eça de Queirós: O fantástico no conto Realista

O Mandarim, sem dúvida nenhuma, é um conto fantástico, cheio de mistério e personagens do sobrenatural. Não é da nossa realidade, por exemplo, ter o poder de com um simples tilintar de uma campainha fazer-se rico e ao mesmo tempo assassino de um homem que vive do outro lado do mundo. Ou por acaso, quem tem conhecimento de alguém que receba visitas do diabo (este ser que habita o imaginário cristão e de tantas outras religiões). Estes episódios acontecem nos trechos abaixo:

“Foi então que do outro lado da mesa, uma

voz insinuante e metálica me disse, no silêncio:”

“- Vamos Teodoro, meu amigo, estenda a

mão, toque a campainha, seja um forte!”

“...o meu reino não é deste mundo!”

Engana-se quem acha que esta obra foge da idéia proposta pela escola literária do Realismo, na verdade esse encontro com o fantástico faz dela uma obra de caráter singular, original. Eça de Queirós com toda a sua genialidade faz o uso do fantástico e do sobrenatural (recursos estes recusados pela sua escola literária) para afirmar o ideal realista que é de analisar o caráter humano.

Entre acontecimentos extraordinários, fantasias e viagens mirabolantes o homem representante da sociedade, é observado e examinado. A todo o momento temos prova do caráter duvidoso do personagem, não que ele seja mau para que faça tais coisas, mas ele se corrompe e torna-se ganancioso porque ele é humano e esta é a sua condição.

“...nenhum mandarim ficaria vivo, se tu

tão facilmente como eu, o pudesse suprimir e herda-lhe

os milhões...”

Há também várias passagens poéticas acentuadas com usos de hipálages como: “planetas pançudos ressonando sobre os seus eixos...”. E estas “fugas” da estrutura Realista vêm salientar que não há uma obra uniforme em que se segue a risca às regras de uma escola literária; O Mandarim está aí para comprovar, ela é uma obra recheada de fantasia e lirismo sem fugir do propósito maior do Realismo. Ao final de sua leitura só nos resta refletir sobre o quão decadentes são a nossa sociedade e os humanos. É esta reflexão paralela às temáticas que faz da obra queirosiana como um todo moderna até nos dia atuais.

Geisilandy Castro
Enviado por Geisilandy Castro em 02/11/2006
Reeditado em 02/11/2006
Código do texto: T280394
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