Despedida

Adeus, até depois…

Amigos:

Se imaginarmos a nossa vida como um relógio, talvez nos seja mais fácil compreender porque é que uns vivem mais tempo e outros menos, e porque é que uns vivem uma vida com mais qualidade que os outros, a quantidade depende da corda que conseguimos dar ao nosso relógio, enquanto a qualidade tem mais a ver com o modo como cuidamos desse mesmo relógio. No caso do aparelho propriamente dito, a corda tem vindo a ser gradualmente substituída, primeiro pelos relógios de balanço, onde eram os movimentos do braço que lhe davam, ao relógio, a energia necessária para continuar a cumprir a sua missão, e mais recentemente pelas pilhas, onde a nossa única preocupação é mesmo, e tão somente, substitui-la quando necessário. Por outro lado, se nós tivermos o cuidado de proteger o nosso relógio contra as agressões vindas do exterior, de certeza que vamos ter mais, e melhor, relógio durante muito mais tempo, independentemente do preço que ele nos custou.

Também a nossa vida é assim, se formos conquistando, dia após dia, as forças necessárias para dar sempre mais, e mais, corda ao nosso relógio, ele manter-se-á operativo, vivos, durante mais tempo, se por outro lado, deixarmos de ter essa capacidade de lhe darmos corda, ele pára, morremos. Então sendo assim porque é que nem todos dão sempre a corda necessária ao seu relógio? Muito simplesmente porque nem todos têm a mesma capacidade de amar, e o amor é que é a verdadeira corda do relógio da vida, sendo que reside na capacidade que cada um tem de proteger o seu relógio das agressões exteriores que se define a qualidade da sua vida.

Quando nós compramos um relógio de que gostamos muito, afeiçoamo-nos a ele e, mesmo depois dele deixar de trabalhar, fazemos questão de não nos desfazermos dele, mas temos de ter a noção exacta de que o seu tempo de vida, acabou.

Também na nossa vida temos a necessidade de perceber quando é que o tempo útil de certa actividade está prestes a esgotar-se, para que possamos decidir se queremos deitar o relógio fora ou, pelo contrário, o queremos preservar na nossa gaveta dos objectos de estimação, é aqui nesta capacidade de entendimento da viabilidade das minhas acções que se centra o principal objectivo desta minha reflexão. Efectivamente, há já algum tempo que tenho vindo a ponderar a possibilidade de exercer a minha liberdade de não pertencer a rede social alguma, tenho ponderado os prós e os contras de uma eventual decisão favorável ao abandono das mesmas, listei as vantagens e as desvantagens, seguidamente tentei estabelecer uma hierarquia, em cada uma das listas, dos itens listados.

Na lista das vantagens deparei com bastantes dificuldades, deveria dar primazia à partilha de experiências de vida ou deveria privilegiar a possibilidade de interagir com os meus amigos, mas seria que essa interacção não acabava por ser também uma partilha?

Depois surgiu-me a dúvida se seria mais importante partilhar com os velhos amigos ou estabelecer parcerias de partilha com outros amigos, outras formas de analisar os mesmos temas?

De imediato surgiu-me uma nova e grande questão, o facto de eu estar a partilhar os meus problemas, as minhas angústias, os meus receios, seria afinal uma vantagem ou uma desvantagem? Se eu partilhava os meus problemas com outros, eles deixavam de ser os meus problemas e passavam a ser os problemas daquela comunidade, mas como é que eu sabia se aquilo que para mim constituía um problema, era, igualmente, um problema para o meu grupo de amigos?

Se eu partilhava os meus problemas, então era lógico que também tivesse de possuir disponibilidade, e vontade, para ouvir os problemas dos meus amigos, isto é, ficaria com os meus problemas e com os problemas dos meus amigos, o que seria preferível, isso ou viver na ignorância do que se vive à minha volta?

Sabendo eu, dos problemas dos meus amigos, conseguiria ajudá-los a resolver esses mesmos problemas com a mesma facilidade se não pertencesse às tais redes sociais?

Analisei todos os prós e contras, estes e outros, que fui conseguindo identificar e cheguei a uma conclusão, vou continuar a circular por aqui, esta e outras redes sociais, mas somente como um atento observador, ou seja, sempre que precisarem de mim, cá estarei, mas de uma forma invisível, acabaram-se os comentários, as notas, os artigos, etc.

Tal como o nosso relógio tem um tempo útil de trabalho, também a minha participação nas redes sociais atingiu o seu grau de saturação, preciso de tempo para mim, para o meu prazer da leitura, para aqueles a quem amo e também para poder abraçar novos projectos.

Amigos, não quero terminar aquela que espero, e desejo, venha a ser a minha última nota nas redes sociais, pelo menos enquanto não se sentirem novos ventos, sem vos deixar aqui expresso, a todos sem excepção, as manifestações de amizade que sempre me dedicaram.

Bem hajam todos.

Francis Raposo Ferreira

FrancisFerreira
Enviado por FrancisFerreira em 02/03/2011
Código do texto: T2824018