A Forca.

Desde que os homens começaram a perambular pela face da terra, eles se matam. De todas as maneiras. Era na porrada, pauladas, pedradas, dentadas e coisa e tal.

Mas um dia, conta a lenda, um homem decidiu amarrar outro homem pelo pescoço, usando um cipó bem forte. De repente, o estalo: Ele pensou em pendurá-lo na árvore que estava bem próxima.Mas o amarrado tratou de subir num tronco que estava deitado. Escapou. Dali a pouco, o que estava no comando da situação, deu um empurrão no tronco e “plaft”: lá estava o outro mortinho mortinho, com a língua de fora. Grande acontecimento: estava inaugurada a forca.

É o começo.

Mas, com o passar dos tempos, ela ia evoluir. E muito. Continuava com o tronco roliço embaixo do enforcado. Mas, segundo a lenda, um dia, na falta do tronco, acharam uma pedra, o que deu no mesmo. Era uma morte super bacaninha, sem aquelas pauladas de tacapes e bordunas, aquela sangueira toda, que nojo!

É a continuidade.

Alguns séculos mais tarde, lá estava o condenado montado num cavalo, mãos amarradas às costas. Tapinha na bunda do cavalo, e “plaft”: pescoço quebrado, língua de fora. Morto.

É a vingança.

Mais adiante, depois de um julgamento no “saloon”, logo após o juiz tomar um uísque com os fazendeiros, a decisão final: morte na forca ao entardecer. Mas aí tinha uma forca construída, com um alçapão, que quando acionado o inditoso ficava sem chão. “Plaft” de novo, e lá estava pendurado o ladrão de gado. Música de fundo, muitos figurantes na praça, cinemascope.

É a lei.

Seguindo o curso da história, também tinha aqueles que por si só, recorriam à forca em momentos de grandes crises existenciais ou depois de grandes traições, muita dor. Era assim: Passavam a corda por cima de um caibro, na cozinha, subiam num caixote, apertavam a corda no pescoço, e davam um chute no caixote, que mio se mexia meio não, e o tal, depois de dizer o clássico “adeus mundo cruel”, ficava mal morrido.

É a incompetência.

Assim, depois do homem passar séculos e séculos se matando uns aos outros com a técnica primitiva da forca, desenvolveu moderníssimas máquinas de matar. De aviões a bombas, mísseis o diabo a quatro.

Mas, nos dias de hoje a forca funciona assim: Chamam todas as TVs do planeta, os jornais, rádios internet e tal. Põem o sujeito em cima daquele barril redondo de petróleo, chutam o barril e “plaft” de novo: ta lá o tal tirano pendurado, mortinho da silva, para o bem de todos.

É a festa.

Matogrosso
Enviado por Matogrosso em 11/11/2006
Código do texto: T288012