Desafio ao aprender

As coisas humanas são multiformes demais para se sujeitarem a uma definição, a um conceito ou verdade únicos. Nesse caso, o ceticismo do “Sei que nada sei” é boa medida, pois, com base nele, entendemos que não é possível conhecer as coisas com segurança absoluta.

Esse ceticismo traz perdas e ganhos. As perdas referem-se à angústia de precisar saber e, ao mesmo tempo, compreender que essa satisfação nunca será plena. Os ganhos advêm do fato de que, desinstalado pelo desejo de saber, quem aprende é levado a entregar-se a uma contínua busca.

Na busca, o aprendiz permite-se pôr em xeque o verossímil e o simulacro, a certeza e a opinião, o script e o papel, na liberdade de quem existe no aqui e agora que lhe foram dados perceber, pensar, sentir e viver.

Isso implica a atitude de confiar interrogando. Sim, amparado na cautela de quem tem mais o que não tem, com os pés fincados no real, o aprendiz sabe que o produto de seu aprendizado sempre será um ponto de vista, e não a verdade total.

Ele pensa o mundo e a vida vivida de um lugar: o da própria história, na dinâmica da existência, nas circunstâncias presentes, no que é. A realidade é seu chão; as circunstâncias, os seus livros; a existência, sua biblioteca; e a história, a mestra que lhe pede todos os olhos e todos os ouvidos.

Então, indague: o que realmente está acontecendo ao meu redor? Em quais palcos esses acontecimentos têm lugar? Quem são os atores que entram em cena? Que relações de força esses sujeitos travam ao assumirem seus papéis? O que as ocorrências do cotidiano (flexíveis) têm a ver com as estruturas (o duradouro) que sustentam esses palcos?

A busca cética de respostas provisórias a essas perguntas é para o aprendiz que tem a coragem de tentar ver o mundo tal qual ele é; e não para dominá-lo, mas para alcançar alguma autodeterminação. Esse é o grave desafio do aprendiz.