Era aniversário de 9 anos de nossa filha. Não fizemos “festa” e combinamos outro presente noutra oportunidade que está para acontecer. Fomos para o nosso cantinho de descanso na praia e ela nos pediu que levássemos uma de suas amigas da escola para poder aproveitar mais os dias de folga. Nós concordamos.
No dia seguinte, enquanto elas brincavam com os tios do kids, nós tivemos tempo de dar uma escapadela para lermos os jornais do dia, na recepção do hotel. Era então o dia 9 de abril. Os jornais exploravam a barbárie acontecida no dia 7. Na verdade todos nós estávamos chocados.
Entre check ins e check outs, muitas pessoas passavam por nós naquela recepção.
Percebi uma família que chegara com duas crianças pequenas e ficaram esperando na fila para serem atendidos. Estava chovendo.
Com o jornal em frente ao rosto, e entretida com a leitura, não podia ver que acontecia exatamente, mas por causa dos movimentos percebi que a criança maior, uma garota de 6 anos, mais ou menos, começou a fazer passos de balet, certamente para passar logo o tempo. Abaixei o jornal, deixei escapar um sorriso para ela.
Foi o suficiente para ela encher-se de si e mostrar o que é verdadeiramente uma criança.
Com tanta espontaneidade e de bem com a vida a pequena, foi ao jardim, colheu duas florzinhas de jasmim, branquinhas e molhadas de chuva, correu em nossa direção e com os braços estendidos e um sorriso nos lábios, nos ofereceu e nos abraçou, como se nos conhecêssemos há anos.
O meu marido recebeu, agradeceu, retribuiu o sorriso, o abraço e voltou à leitura.
Quando a garota me abraçou, senti a espontaneidade dela, a ingenuidade, e como ela estava de bem com a vida.
Junto com todo esse sentimento, compreendi o estrago que foi feito dias antes naquela escola do Rio de Janeiro.
Quantas daquelas crianças não voltavam pra casa com florzinhas e com abraços espontâneos para as mães, pais, avós, tias, etc.
Então eu a agradeci, dobrei o jornal, levantei-me e fui ao banheiro enxugar as lágrimas que não pude conter. Em seguida, fui à procura da minha pequena para abraçá-la e beijá-la, agradecendo por ela estar comigo, ali, sã e salva.

Amélia Aragão
Enviado por Amélia Aragão em 12/04/2011
Código do texto: T2903832
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.