QUERO TROCO

Na década de 60 um humorista alemão classificava o banco como “uma instituição financeira que lhe empresta dinheiro enquanto você puder provar que não precisa”. Eram tempos em que os bancos ainda não tinham criado as milhares de taxas e viviam quase exclusivamente dos juros cobrados aos tomadores de empréstimos. Ah, ainda pagavam os juros da caderneta de poupança sobre o saldo médio. Hoje, o atendimento eletrônico esvaziou as agências de funcionários e as encheu de máquinas que se relacionam com o cliente. Se você não entender esta linguagem ficará ao Deus dará porque há avisos claros proibindo pedir informações a desconhecidos.

O nível de sofisticação chegou a tal ponto que para receber uma ligação de uma pessoa do banco você deve estar devendo com muito atraso e não ter dado resposta às inúmeras mensagens maquinais que lhe foram enviadas. Porém se você tiver alguma dificuldade com sua conta bancária, não fique telefonando porque entre a demora de atendimento, a transferência da ligação você acabará desistindo. O que é pior: não adianta ir à agência porque lá também não encontrará atendimento. No máximo o mandarão usar o telefone, coisa que você já tentou inúmeras vezes. A lei das filas, que existe em algumas cidades, pode gerar alguma multa, mas não restitui ao consumidor o dinheiro pelo tempo perdido.

A sua conta, quando tem saldo, vira uma terra de ninguém, onde o banco mexe a bel prazer. Além das taxas que já falamos, há os débitos dos prêmios de seguros sobre coisas que você nem sabe que tem. Créditos líquidos e certos também conseguem gerar alguma taxa em favor do banco. Banco não pode ver saldo na conta de ninguém, porque se comporta como moleque que vê doce e tem que mexer.

Os lucros dos bancos brasileiros são superiores ao PIB da nossa vizinha Bolívia. Onde vemos estes lucros sendo aplicados? Patrocínio de time de futebol e outros esportes são propaganda perfeitamente dedutível de impostos a pagar, não investimento social. Agências bancárias que necessitavam de 30 funcionários na década de 80, hoje funcionam com meia dúzia.

Os bancos bem que podiam investir seus lucros na melhoria da vida social. Até mesmo para facilitar o acesso ao dinheiro. Há quase vinte anos o Brasil conquistou a estabilidade da moeda. Porém, quando falamos de dinheiro pequeno - moedas inclusive – os comerciantes se vêem na necessidade de fazer uma maratona para conseguir dar o troco aos seus clientes. No Brasil nem se fala em máquinas de trocar dinheiro. Mas seria ótimo se o governo começasse a cobrar isso dos bancos.

É bem verdade que os bancos não gostam de ver dinheiro vivo em circulação, porque isso valoriza ainda mais o dinheiro de plástico cujo controle é exclusividade deles. Mas, por que não um único serviço gratuito em prol da população? Uma máquina que poderia ser acionada sem cartão, apenas com uma nota de 50 ou de 100 reais por qualquer cidadão? É muito pedir um único serviço em prol da sociedade?

O Brasil é um país muito especial. Conseguiu conter a inflação, consegue crescer pagando juros estratosféricos e o brasileiro se sente poderoso por ter cartões de crédito de vários bancos, sem perceber que está alimentando um monstro que só não o devora porque o quer trabalhando para si.

Luiz Lauschner – Escritor e empresário

lauschneram@hotmail.comT

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 27/04/2011
Reeditado em 28/04/2011
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