Mórmons Maçons - Lucifer, Santo ou Demônio?

MÓRMONS MAÇONS, LÚCIFER, SANTO OU DEMÔNIO?

Cesóstre Guimarães de Oliveira

cesostre@hotmail.com

Odorico Paraguaçu, “O Bem Amado” [Globo 1973], um belíssimo exemplar do típico político brasileiro, [com raríssimas exceções]: falastrão, desonesto, populista, neologista e promiscuo. Um personagem de Dias Gomes [1922 – 1999], que transvestido pelo ator Paulo Gracindo, de forma bem humorada retratou os típicos políticos desonestos da época que deram crias aos nossos atuais e modernos coronéis.

Antes que o leitor apolítico abandone a leitura deste texto, pensando trata-se de uma resenha de partidarização, peço que permaneça, pois embora o primeiro parágrafo sugira haver em mim pequena pitada de interesse pela política, o tema central de minha escrita sempre será a Maçonaria em sua relação com o Mormonismo. Por tanto, retomando meu norte, neste texto estarei limitado ao meu propósito, onde como gancho uso a mais celebre de todas as frases do Coronel Odorico Paraguaçu, razão d’eu citá-lo aqui: “A ignorância é que atravanca o progresso”. Agora, talvez seja o momento de você dizer: “o Cesóstre viajou muito agora, o que tem haver Odorico Paraguaçu com a Maçonaria?”

[...] e a resposta é... Nada, os assuntos não têm relação. Se, talvez, não fosse o chavão do personagem, ele nem seria citado neste texto. Mas, como seu dito retrata com eximia mestria minha indignação ao ler o texto que me foi enviado há alguns dias por um irmão Mórmon que se auto-intitulou “um pesquisador do assunto Maçonaria”, senti-me compelido a registrá-lo. Este meu irmão veio até mim, munido de retalhos de textos mal cortados de seus contextos, após haver montado uma quasimoda peça de desconfiança contra a Maçonaria. Ele transita com certa tranqüilidade por uma perigosa via de mão dupla, onde vem e vão os anti mórmons e os anti maçons, inclusive citando, com surpreendente tranqüilidade, o raciocínio dos amigos protestantes que combatem as duas fraternidades.

Valendo-se de um zelo incoerente com os fatos, citando sites protestantes, acusa a Maçonaria de praticar o satanismo, embora não explique como procedeu para conciliar as afirmações do site protestante com a história Mórmon. Ele traçou o perfil de uma Maçonaria que não reconheço, agiu igual aos ignorantes que proliferam epidemicamente, me deixando impressão que para esta contaminação não existe vacina, usou alguns textos, isolados de seus contextos, da obra de Albert Pike, a quem ironicamente chama “Papa da Maçonaria”, é claro que seu alvo principal não é Pike, mas, sim, a instituição Maçonaria.

Em reticentes argumentos ele nada apresenta de novo, apenas me deixa convicto de que sua pesquisa não passou de uma seqüência ininterrupta de “control C” e “control V”. E assim, agindo maldosamente, se utilizando de ferramentas que não condizem com o que se espera de um Santo dos Últimos Dias, este acéfalo, ao decifrar suas “fontes de pesquisas”, ignora que Satanás nada representa nos rituais da Maçonaria. Deslizando por entre assuntos que não domina sibila insinuações, que, se, em outro momento, eu aceitaria como inocência. Motivado por intenções factóides, este meu irmão afirma que a Maçonaria é praticante de um rito diabólico, e que dentre meus objetivos quando bloguista, estar á destruição da fé Mórmon.

Tendo pensamentos alicerçados nos ditos daqueles que combatem A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, ele vem até mim lambuzado de conclusões preconceituosas, após haver enchido sua taça no transbordo dos preconceituosos e ignorantes anti-maçons. Ele tenta me convencer de que suas interpretações às palavras de Albert Pike na coletânea Moral e Dogmas são verdadeiras, e extrai do texto original a expressão "luciferiano" que foi utilizada por Pike para referendar a necessária busca pelo conhecimento, como clara demonstração de que o mesmo era satanista.

Sem nenhum constrangimento, ele continua a distorcer verdades que desconhece, ele se perde nas divagações, inclusive citando textos que não se relacionam, com isto me deixa tranqüilo quanto ao contexto de Pike. Sem entender que Albert Pike ao se referendar a um caminho “luciferiano", não estar se referindo ao anjo bíblico caído, mas simplesmente buscava aplicar o significado literal da expressão Lúcifer, que é estrela da manhã, ao tema abordado, tendo como referencia o conhecimento, que é luz e verdade. Em nenhum momento de seus escritos Pike sugere que o Lúcifer a quem se refere é o anjo negro, [do pecado], que após sua queda se tornou satanás [ou diabo].

Para corroborar este pensamento, convido o caro leitor a buscar no latim, a tradução para a palavra Lúcifer, uma vez que ela não existe nos textos originais hebraicos. Lúcifer é uma palavra de origem latina, mas se o leitor pesquisar em sua origem irá descobrir que a expressão tem o singelo significado de “estrela da manhã”, “portador da luz”, etc. Por tanto, quando se referiu à luz luciferiana, Albert Pike estava somente se reportando ao significado literal da palavra Lúcifer, qualquer um que use de bom senso concordará que ele estava correto em sua forma de pensar. Se buscarmos alguma alusão ao mal, nos textos de Albert Pike, jamais encontraremos algo que aponte para o maléfico, a não ser que intenciona e maldosamente assim desejemos fazer. Basta algumas poucas leituras nos escritos de Pike para que se confirme que suas definições para Lúcifer, são antíteses do mal, e, que, por conseqüência de interpretação e bom senso, Lúcifer é o opositor da escuridão satânica.

Para alguns, saber que Albert Pike afirmou que Lúcifer é o portador da luz [Albert Pike, Moral and Dogma of The Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry, pg 321] fez suas mentes delirar, a exemplo deste indouto irmão Mórmon, que disse: “ao ler tal afirmação, por várias vezes fui do céu ao inferno, minha mente não consegue assimilar tal apostasia”. Aqui parece que a afirmação de Pike foi suficiente para ele ter certeza de que a Maçonaria é um culto a satanás, porém, ao pensar assim, mais uma vez, ele prefere ignorar os registros históricos... Joseph Smith, Brighan Young, John Taylor, Wilfor Woodrof, Lorenzo Snow e outros.

Pobre bípede, como consegue nutrir sua fé? Talvez o que ele precise seja de um pouco da luz luciferiana, [o conhecimento]. Será que este meu irmão, que diz ter vários anos de escrituras, nunca leu na Bíblia, no livro do Apocalipse, capitulo 22, verso 16, onde o próprio Senhor Jesus Cristo [o Filho Unigênito de Deus] chama a si próprio de Lúcifer, que por tradução [entre outros significados] é “resplandecente estrela da manhã”?

Ou quem sabe ele necessite ler no segundo livro de Pedro, capitulo 1, verso 19, onde estar escrito: E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça, e a estrela da alva apareça em vossos corações. Não precisamos fazer muito esforço para entender que a expressão traduzida como estrela da alva é Lúcifer, e também não se pode ignorar que o Lúcifer referendado neste texto é nada mais ou menos que o próprio Senhor Jesus Cristo, o filho de Deus. Existem outras referencias, inclusive eu poderia enumerá-las aqui, mas não o farei por entender que esta é uma discussão que deve permanecer no campo da semântica e não deve invadir os espaços da teologia.

Não entendo qual a dificuldade que alguns têm para entender que Lúcifer e Satanás não são sinônimos, na verdade são antônimos. Lúcifer é um termo latino que originalmente foi usado pelos romanos para se referir ao planeta Vênus, para eles Lúcifer era apenas a estrela da manhã, a nossa Estrela Dalva, e não tinha nenhuma relação com o Satanás espírito mal da religião hebraica. No céu Lúcifer ou Venus [como queiram] é o astro mais brilhante, perde em luminosidade apenas para a Lua, esta foi á primeira interpretação dada a Lúcifer. Esta nova interpretação, [pejorativa], que associa a expressão “luz luciferiana” utilizada por Albert Pike em sua obra Moral e Dogmas, com Satanás [que em latim que dizer: o que arma ciladas], são significados diferentes, portanto falam de pessoas distintas, conforme seja sua aplicação.

Talvez alguns de meus leitores não saibam, mas a expressão Lúcifer só foi adicionada ao léxico religioso quando o texto hebraico contido no livro de Isaías, no capitulo 14, verso 12, que diz: "Ben-Shachar HeYLeL" [Que significa: estrela da manhã, filha da alva.) foi traduzido para "heosphoros" [palavra grega que define o planeta Vênus como a estrela da manhã] na Septuaginta, sendo depois, e somente depois, traduzido para "Lúcifer" na Vulgata [do grego Septuaginta]. O capitulo 14 do livro de Isaías é na verdade uma profecia de denúncia contra os reis da Babilônia, especificamente Tiglate-Pileser III, o texto embora trate de protegidos de Deus, não é uma questão teológica, a discussão estar limitada a um governante que tenta exercer injusto domínio sobre a nação escolhida por Deus para cultuá-lo. Se observarmos no verso 12 do mesmo capitulo citado acima, notaremos que o profeta caracteriza a arrogância de Tiglate-Pileser III, que se apresenta como capaz de surgir no céu como a estrela da manhã, mas o texto bíblico é mais claro ainda quando descreve o que lhe aconteceu, ele caiu por terra, foi subjugado, foi humilhado pela vingança do Senhor que se manifestou.

Provar que Albert Pike [a quem chamam de Papa da Maçonaria] era satanísta, têm sido o desafio mor de todos os anti maçons. Eu os vejo como crianças, que de forma inconseqüente tentam agredir a Maçonaria apenas por que muitos o fazem. Usar a expressão Lúcifer como se esta fosse sinônima da palavra "Satã" [sathane], é um erro que ofende a deidade.

Alguns teólogos se referem a Lúcifer como a forma pela qual Satanás era nomeado antes de sua expulsão do Céu, outros se referem a Lúcifer e Satanás, como se fossem duas entidades distintas, e ainda existem aqueles que igual a pessoa que me escreveu, tratam as duas palavras como se fossem sinônimos. Se levarmos em consideração tanto as convenções literárias quanto os ensinamentos cristãos, historicamente parece haver pouco consenso em torno de um definição que seja padrão. Mas, independente de haver ou não o consenso, deixo claro que um autor pode usar tanto o termo Lúcifer quanto luciferiano, sem que com isto esteja se referindo a Satanás, e foi neste contexto que usou Albert Pike.

Sei que o espaço por mim utilizado para abordar este tema foi deveras curto, seria preciso muitas laudas para explicar a confusão feita quando da interpretação dos textos de Moral e Dogmas. Entendo que o assunto é polêmico, ao ponto de que mesmo quando se tentar explicar vai gerar novas dúvidas. Por isso não considero o assunto encerrado aqui, penso tal coisa seria muita presunção de minha parte, talvez meu texto elimine uma ou outra dúvida, mas sei também que muitas outras serão plantadas, decerto minhas afirmações se tornarão em combustível a ser queimado na fogueira das vaidades.