Traços vivos

Prefiro os rabiscos. Os rascunhos são sempre mais viáveis. Eles aceitam alterações, são humildes, adaptáveis. Rascunhar é criar, concretizar sentimentos, pensamentos, enfim, tornar visível o que desfila em nossa mente. Viver é uma forma mais que exemplar de mostrar como somos incompletos, frágeis, simples, tantas vezes vulgares. E é bom que sejamos assim mesmo. Quem acha que superou a fase do rascunho sobrevive no achismo, no imaginário, no mundo da autoafirmação, onde o espelho já não retrata mais a verdade, mas, sim, uma imagem destorcida, maquiada, inventada. Os traços em grafite são vivos. O nanquim, embora aparentemente mais intenso, fica ali, estacionado, definitivo, ou seja, não tem como melhorar. Todo começo é rascunhado, derivado de muitos e muitos rabiscos que vão moldando o que vemos, quem somos e o que seremos.

Rabiscar permite correção. Infeliz de quem se acha o ícone da perfeição. Há pessoas que pisam no chão porque não sabem voar. E jamais conseguirão voar, porque, diante da sua arrogância, estão condenadas a permanecer no mesmo nível em que se encontram, não evoluem. Quem é rabisco anda de cabeça erguida. Os nanquins não encaram ninguém, nem eles.