O ASSALTO A PRISÃO DE MINHA CASA

O ASSALTO A PRISÃO DE MINHA CASA

É festa em minha casa! Jovens brincam, riem uns com os outros no mundo de sonhos que vivem. Adultos conversam a parte entre os cantos da casa... Algumas mulheres preparam o salgado, refrigerante e bolo... Será comemorado o meu aniversário... É festa em minha casa! Meu pai olha e rir... Estou feliz! Minha mãe brinca com todos... Com meus amigos e tios tenho a noite que pedi... É festa na minha casa! A campanhinha toca, eu corro ao portão, pois, mais uma amiga está à porta para festejar comigo o meu aniversário. Com ela entram mais dois... Encapuzados! Penso a princípios que são mais dois amigos... Agarram o meu braço, botam uma arma na minha cabeça... Empurram-me... Eu choro! A brincadeira e o sonho acabam para dar lugar à violência e ao pesadelo... Duas figuras de assombro entram na minha casa; arrastam-me pelo terraço, agridem meus amigos e ameaçam meus pais. A festa vira um pavoroso redemoinho... Alguns choram, outros emudecem, eu... Entro em pânico... É assalto na minha casa! Meu pai tenta acalmar os indivíduos encapuzados; minha mãe chama-os de filhos e eles devolvem as palavras lhe chamando de vadia... É assalto na minha casa! Uma de minhas amigas fica escondida no banheiro, eles percebem, armado, um dos indivíduos prepara para atirar... Meu pai fica entre ele a porta... A arma está engatilhada, colocada ao peito do meu pai... Gentilmente meu pai lhe chama de filho e diz que a jovem é apenas uma criança, recebe em troca do carinho uma palavra hostil... Meu pai é chamado de safado... É assalto na minha casa! Os indivíduos pegam carteiras, telefones, objetos diversos... Quebram espelhos, gritam, esfregam a arma no rosto de um tio... Ameaçam com a arma, dão uma coronhada num amigo, levam um dos carros estacionados... Termina o assalto em minha casa! Aquela noite deveria ter sido de alegria... Eu comemorava o meu aniversário. Também poderia ter sido de desespero... A morte rondou a minha casa! Minha liberdade estava entre quatro paredes numa altura de 2 metros e 50 centímetros... A prisão daqueles indivíduos estava de fora da minha casa, impedidos apenas por barras de ferro de um portão! Minha liberdade em meu mundo foi invadida pela prisão do mundo deles... Minha casa, cárcere privado, não deteve o alcance da liberdade em fazerem o mal que eles propunham no coração! Poderia ter restado para alguns dos que estavam em minha casa apenas um tumulo vazio; enquanto para os criminosos, seria apenas reservado um lugar de repouso em uma detenção. Sobrevivi! Posso gritar para que todos me escutem a favor da justiça. Justiça! Justiça ao abuso que cometem a meu direito de liberdade... Justiça aos crimes a quem não pode mais gritar por ela. Pergunto-me: Quanto tempo ainda me restará neste mundo de prisões aos inocentes, atormentados por assassinos delinqüentes? Serei eu a vítima destes assassinos ou um objeto do sistema que lhe produz? Posso afirmar: Não quero “UMA PRISÃO EM MINHA CASA”! Na verdade mereço muito mais do sistema... Nós merecemos mais. Merecemos mais do que o medo de um possível assassino de nossas vidas... Por isso grito por justiça, liberdade e paz.