Eucaristia: tesouro da Igreja

“Ao sacerdote na consagração é dado ao que aos anjos não foi concedido” (Tomás de Kempis).

De forma copiosamente simples dado a grandiosidade do Mistério Eucarístico, podemos tentar responder o que vem a ser a Eucaristia, nos seguintes termos:

“Eucaristia é o sacramento que contém, sob as espécies de pão e vinho, verdadeira, real e substancialmente presente o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, para alimento de nossas almas. “O pão, antes da consagração, é pão e nada mais; chegado, porém o momento da consagração, o pão se transforma na Carne de Jesus Cristo” (Santo Ambrósio).” [TREVISAN, Celestino André. A Eucaristia. São Paulo: Raboni, 1995, p.21]

Falar da Eucaristia é falar da Santa Missa... na noite da Quinta – Feira Santa, Nosso Senhor Jesus Cristo institui o sacrifício eucarístico, de Seu Corpo e Sangue, datando desta memorável noite a primeira Missa, a primeira Comunhão, e a primeira ordem para que os apóstolos celebrassem continuamente o sacrifício eucarístico: “Fazei isto em memória de mim” (cf. Lc 22,19)

“O nosso Salvador instituiu na última Ceia, na noite em que foi entregue, o sacrifício eucarístico do seu corpo e do seu sangue para perpetuar no decorrer dos séculos, até ele voltar, o sacrifício da cruz, e para confiar assim à Igreja, sua esposa amada, o memorial da sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal “em que se recebe Cristo, a alma se enche de graça e nos é dado o penhor da glória futura””. [Constituição Sacrosanctum Concilium nº 47 (Concílio Vaticano II)]

No sacrifício eucarístico da Santa Missa, torna-se presente (realiza-se; atualiza-se) “o único sacrifício do Novo Testamento, isto é, o sacrifício de Cristo que como hóstia imaculada uma vez se ofereceu ao Pai (cf. Hb 9,14-28)”. [cf. Constituição Dogmática Lumen Gentium apud TREVISAN, Celestino André. A Eucaristia. São Paulo: Raboni, 1995, p.80] É importante salientar que na Santa Missa não se realiza uma “repetição” do sacrifício de Cristo, em cada Missa torna-se presente o único sacrifício de Cristo.

“É importantíssimo entender que não se trata de uma repetição ou multiplicação do sacrifício do Calvário, pois Jesus se imolou uma vez por todas (Hb 4,14;7,27;9,12.25s.28;10,12.14). A Ceia “torna presente” através dos tempos o único sacrifício de Cristo, para que possamos participar dele e sermos salvos. O corpo e o sangue de Jesus estão presentes na Eucaristia não de qualquer modo, mas como vítima; pois estão corpo e sangue separados sobre o altar, como no sacrifício das vítimas do Sinai que selou a Antiga Aliança (Ex 24,6-8)”. [AQUINO, Felipe. Escola da Fé I:Sagrada Tradição. Lorena-SP: Cléofas, 2000,p.86]

Diante do mistério de Amor que se realiza na Santa Missa, temos a consciência (os que não tem deveriam ter) do Amor de Jesus para com cada um de nós, se doando como alimento para a nossa redenção, tornando-nos “cristóforos” ! (portadores de Cristo).

“’O mérito da Santa Missa é infinito, pois infinito é o mérito da Vítima imolada no altar. Esse sacrifício é latrêutico, e quer dizer: com a Santa Missa se dá à Santíssima Trindade honra e adoração; é eucarístico, e quer dizer: com a Santa Missa se dão graças à Santíssima Trindade que por todas as mercês e benefícios recebidos; é impetratório, e quer dizer: a Santa Missa tem eficácia para obter as graças e a misericórdia divinas; é satisfatório, e quer dizer: a Santa Missa tem valor para satisfazer a todas as dívidas por nós contraídas com Deus (Cípulo)’ A missa é uma oração – a melhor das orações; a rainha como a chama São Francisco de Sales. Nela reza Jesus Cristo, Homem – Deus. Nós temos apenas de associar-nos. “O que pedirdes ao Pai em meu nome ele vo-lo dará” (Jo 16,32b), disse Nosso Senhor. E São João Crisóstomo: “Durante a missa nossas orações apóiam-se sobre a oração de Jesus Cristo” [TREVISAN, Celestino André. A Eucaristia. São Paulo: Raboni, 1995, p.9]

Por tudo isso, a Eucaristia é o maior tesouro da Igreja, o maior e o melhor presente que Deus pôde nos dar, como nos assegura Santo Agostinho: “Sendo Deus onipotente, não pode dar mais; sendo sapientíssimo, não soube dar mais; e sendo riquíssimo não teve mais o que dar” [AQUINO, Felipe. Escola da Fé I:Sagrada Tradição. Lorena-SP: Cléofas, 2000,p.90]

Também o Santo Padre Bento XVI, em sua primeira Encíclica Deus Caritas Est, alude à Eucaristia como prova do Amor de Deus para com o ser humano, demonstrando mais uma vez a sublimidade da Eucaristia:

“(...) A Eucaristia arrasta-nos no ato oblativo de Jesus. Não é só de modo estático que recebemos o Logos encarnado, mas ficamos envolvidos na dinâmica de sua doação. (...) A “mística” do sacramento, que se funda no rebaixamento de Deus até nós, é de uma alcance muito diverso, e conduz muito mais alto do que qualquer mística elevação do ser humano poderia realizar. (...) A união com Cristo é, ao mesmo tempo, união com todos os outros, aos quais ele se entrega.(...) O Amor a Deus e o amor ao próximo estão agora, verdadeiramente juntos: o Deus encarnado atraiu-nos todos a si. Assim se compreende por que o termo ágape se tenha tornado, também um nome da eucaristia . (Bento XVI in: Carta Encíclica Deus Caritas Est nº 13-14 – Coleção a voz do Papa nº 189. 2ªed. São Paulo: Paulinas 2006,p.26-27)

Passemos a analisar (historicamente) agora, como a Eucaristia era tida desde o início do Cristianismo, para por fim apresentarmos uma visão de como era uma Celebração Eucarística (Missa) nos primeiros tempos da Igreja, baseando-nos, de forma resumida, nas palavras do grande historiador da Academia Francesa de Letras DANIEL – ROPS. Verdadeiramente, desde o início do Cristianismo a Eucaristia – palavra grega que significa “ação de Graças” – é tida como cerimônia fundamental da vida cristã, resumindo numa só manifestação o “núcleo essencial” do ensino de Jesus e Sua paixão.

“Eis –nos perante o mais venerável e o mais antigo dos ritos, aquele que pudemos ver logo nos primeiros dias da Igreja nascente e que, após dois mil anos, subsiste como elemento supremo do culto cristão. A forma de celebrá-lo pode ter variado nos pormenores, mas o fundo permanece intacto (...) Não há dúvida de que, na origem, a Eucaristia foi uma cerimônia comemorativa, que reproduzia a Última Ceia tomada por Jesus com os seus Apóstolos e no decorrer da qual lhes ordenara: “Fazei isto em memória de mim”. Nos Atos dos Apóstolos (cfr. 2,42 e 20,11) esta cerimônia é chamada “fração do pão”, o que mostra bem que com ela se evocava a última ceia de Cristo. Mas, ao mesmo tempo, não é menos certo que se apresenta carregada de uma realidade espiritual.

As palavras de Cristo que precederam imediatamente a ordem de comemoração tem um sentido que não nos permite ver neste “repasto eucarístico” uma simples recordação. “Isto é o meu corpo; este é o meu sangue”: São palavras misteriosas que, naquele momento, representavam apenas um esclarecimento ao discurso sobre o pão da vida, mas que, uma vez explicitadas pelo drama do Calvário e pela Ressurreição, se tornaram para os cristãos um verdadeiro penhor, um dos penhores espirituais que lhes permitiriam desenvolver a sua ação. Este sentido propriamente místico da Eucaristia foi afirmado desde os primeiros tempos. “O cálice da benção, que consagramos – diz São Paulo –, não é a comunhão do sangue de Cristo? E o pão, que partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo?” (1 Cor 10,16). Nunca os cristãos se desviarão desta convicção [exceto os protestantes...] “A Eucaristia – escreve Santo Inácio de Antioquia – é a carne do nosso Salvador Jesus Cristo, a carne que sofreu pelos nossos pecados, a carne que, na sua bondade, o Pai ressuscitou” (Esmirna, VII,1). E São Justino, o grande apologista do século II, mostra perfeitamente o lugar central que ocupa na fé e o seu alcance: “Chamamos a este alimento Eucaristia, e ninguém pode ter parte nele se não acreditar na verdade da nossa doutrina, se não tiver recebido o batismo para a remissão dos pecados e a regeneração, e se não viver conforme os preceitos de Cristo. Por que nós não tomamos este alimento como um pão comum e uma bebida comum; mas assim como Nosso Salvador Jesus Cristo, encarnado por virtude do Verbo de Deus, tomou carne e sangue para a nossa salvação, assim o alimento consagrado pela oração de Cristo, esse alimento deve, por assimilação, nutrir nosso sangue e a nossa carne, é a carne e o sangue de Jesus encarnado. Eis a nossa doutrina” (Apol., LXVI)” [cf. ROPS, Daniel. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires, Vol I, Quadrante, 1988,p.210-211]

Que texto maravilhoso, que nos mostra indubitavelmente como sempre a Eucaristia foi celebrada e tida como verdadeiro “Corpo e Sangue do Senhor” ! A organização da liturgia eucarística, acaba por formar a Santa Missa, baseando – se no duplo mistério de união com Cristo e comunhão humana.

“É tal a importância da eucaristia na vida cristã, que desde as origens, assume o lugar central nas cerimônias. Quando se pergunta aos primeiros cristãos em que consiste o essencial do seu culto, sempre mencionarão o repasto sagrado (...) E assim se organiza, num duplo mistério de união com Cristo e de Comunhão humana, esse conjunto cerimonial em que se leva a cabo e se resume o essencial da tradição e da fé cristãs a que damos o nome de Missa.”[ cf. ROPS, Daniel. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires, Vol I, Quadrante, 1988,p.212]

Descrevo agora (transcrevendo resumidamente) segundo DANIEL – ROPS, como era “Uma missa nos primeiros tempos da Igreja”.

“Os textos dos mais antigos escritores cristãos, as descobertas arqueológicas e as pinturas das catacumbas permitem-nos fazer uma idéia bastante completa do que podia ser a celebração da missa nos primeiros tempos do Cristianismo (...) É no domingo, dia comemorativo da Ressurreição, que substituiu o Sabbath para os cristãos que a missa tem toda a sua solenidade. Na tarde da véspera, houve a devida preparação por meio de preces, salmos e instruções piedosas. É a vigília. Quando se anuncia o novo dia, à meia noite, começa a cerimônia propriamente dita, para acabar ad lucem, com o despontar da aurora; as nossas missas de meia noite conservam ainda a lembrança dessa antiga prática [“ levanta-te na hora em que o galo canta – escreve Santo Hipólito – e reza, por que esta é a hora em que os filhos de Israel renegaram Cristo e em que nós, que cremos pela fé, olhamos cheios de esperança para a aproximação da luz eterna”] (...) Começa então a Missa que compreende duas grandes partes: uma mais geral, a que os catecúmenos podem assistir, e a outra reservada aos fiéis, em que se realizam o sacrifício e o mistério. A primeira parte é uma espécie de introdução ao sacrifício, vai ser de oração e instrução, pois é necessário preparar os espíritos e os corações para se abrirem ao mistério. Em nome do povo, um diácono ora; é a rogação ou ladainha. Tal como se lê nas Constituições Apostólicas, compilação do século IV, em que se recolheram tradições bem mais antigas, essa súplica dizia assim: “Roguemos a Deus pelos catecúmenos, a fim de que Ele, que é bom e ama os homens, escute as suas orações e as acolha com favor. Que Ele lhes revela a Boa Nova do seu Cristo, os ilumine no conhecimento divino e os instrua nos seus mandamentos”.

Segui-se uma série de pedidos dirigidos ao Senhor: pelos catecúmenos e pelos recém - batizados, pelos doentes e pelos cativos; pelos condenados às minas; pelos mártires que esperam o suplício, e também, conforme o preceito da caridade, por aqueles que os torturaram e os enviam a morte. A cada um destes apelos a multidão responde com estas palavras gregas que ainda hoje pronunciamos: Kyrie elesion! Senhor, acolhei as nossas súplicas! Em seguida, reunindo de algum modo todas as inquietações e todas as esperanças numa breve e comovente oração, o celebrante pronuncia a coleta, a oração de apelo de todos ao Único: “Deus todo - poderoso e eterno, consolação de todos os que estão tristes, força dos trabalhadores, que a súplica de todos os que sofrem chegue até Vós e que, através das suas penas, todos se regozijem com a vossa misericórdia!” E a voz unânime da assistência responde em sinal de assentimento: “Amém” – Assim seja!

Seguem-se as leituras, em número variável, a fim de familiarizar os cristãos com as tradições e os dogmas (...) um leitor faz ouvir diversos textos ordenados segundo a significação da festa que se celebra. Lê-se páginas do Antigo Testamento, da Lei, dos Profetas; trechos das cartas que os grandes chefes da cristandade tinham escrito no decurso do seu apostolado ou que um ou outro ainda escrevia: Epístolas de São Paulo, de São João, de São Pedro, de Santo Inácio e de São Clemente; ou ainda passagens dos Atos dos Apóstolos. As narrativas referentes aos mártires, tal como chegaram até nós e que são tão comoventes, são também lidas desta maneira.(...) Entre as leituras, recitavam-se ou cantavam-se salmos, e de todas as bocas saía o grito de esperança e de fé, o velho grito de Israel: “Aleluia”. De todas as leituras, a última, a essencial, é a do Evangelho, a palavra de Deus. Não é confiada a um simples leitor, mas aos diáconos, e a passagem é escolhida pelo próprio bispo; mais tarde, há de fixar-se esta ou aquela [leitura] para determinados dias. “O Senhor esteja convosco!”. De pé, os fiéis escutam, numa espécie de posição de sentido que já os crentes do Templo observavam em Jerusalém. Concluída a leitura do Evangelho, o bispo comenta-o pessoalmente ou fá-lo comentar por um pregador de sua escolha. É a homilia, de que se encontrarão muitas espécimes nos Padres da Igreja, e que é a origem do nosso sermão.

A missa dos catecúmenos vai terminar. Voltado para a multidão, com os braços abertos, o sacerdote repete, como faz ainda hoje: “O Senhor esteja convosco! Oremos!,” e tem lugar a oração dos fiéis. De pé, também com os braços abertos, na posição tão bela dos orantes e das orantes cujas pinturas vemos pintadas nas catacumbas ou esculpidas nos sarcófagos, em silêncio pedem durante alguns minutos o auxílio dAquele que se vai fazer carne e sangue no pão e no vinho. Uma última coleta [oração] põe termo a esta meditação profunda: “Senhor, nos vos oferecemos hóstias e preces; acolhei-as pelas almas que vos imploram e por todos aqueles que temos em mente. Que essas almas passem da morte para a vida. Amém”

A segunda parte da missa assume caráter mais augusto. Os catecúmenos, os penitentes e mesmo os pagãos simpatizantes que estiveram presentes até aqui têm de sair. Os diáconos não falam mais e os fiéis calam-se. É o bispo, o próprio pontífice quem passa a oficiar. O primeiro gesto é a oferenda. No tempo da Igreja primitiva compreendia duas partes que, nos nossos dias, parecem tão diferentes uma das outras que ninguém pensa em aproximá-las: o peditório e o ofertório. De fato, são a mesma coisa. Para se unir ao sacrifício, cada fiel deve fazer uma oferta; dá-se o pão e o vinho que hão de ser consagrados; dão-se também esmolas para os pobres, para as viúvas e para os que são assistidos pela comunidade. Os diáconos separam as esmolas do resto das oferendas e colocam o pão e vinho sobre o altar (...) depois de tudo preparado, o celebrante recita uma oração coletiva em nome de toda a assistência: “Oremos, meus irmãos, para que este sacrifício, meu e vosso, seja favoravelmente acolhido por Deus”. Os fiéis respondem amém, e a seguir o sacerdote, pelas orações chamadas secretas (reservadas à plebs secreta, ao povo escolhido dos fiéis), pede ao Senhor que, em troca desses dons terrenos, conceda ao povo os dons do céu e a eternidade. É agora o momento mais solene de toda a cerimônia; pela vontade de seu representante, Cristo vai estar presente nas espécies eucarísticas. É o Prefácio e o Cânon; é a Consagração. O pontífice convida os fiéis ao máximo fervor. “Corações ao alto! – Nos os temos no Senhor! –Demos graças a Deus! – Sim é digno e justo!”. E o celebrante continua: “Sim, é verdadeiramente digno e justo que nós vos rendamos graças, ó Senhor, ó Santo, ó Pai poderoso e eterno!”. Enumera os benefícios de Deus e lembra os grandes mistérios da Encarnação e da Redenção. Vêm-lhe aos lábios as palavras do Evangelho, numa improvisação mística. E esta súplica, este apelo a Deus sobre a terra termina com o grito três vezes repetido: Sanctus, Sanctus, Sanctus... Com as mãos estendidas sobre o pão e vinho, como podemos ver numa pintura das catacumbas, o sacerdote repete as palavras pronunciadas por Cristo na Última Ceia. O Espírito Santo desce entre as almas dos fiéis e o sacrifício é aceito pelo Todo-Poderoso.

A última parte da missa é a comunhão. O sacerdote parte o pão como o fez Cristo; é a fração do pão, que, pela sua importância, muitas vezes dá o nome a toda a missa. Pronuncia-se então uma prece encantadora –a prece da unidade – que a Didaquê nos transcreve: “Assim como este pão estava disperso nos seus elementos pelas colinas, e agora encontra-se reunido, permiti, Senhor, que a nossa Igreja se reúna de todas as extremidades da terra...” É o instante em que todos os presentes vão tomar parte no repasto sagrado, todos aqueles que são santos e puros, porque os outros devem sair, expulsos por uma fórmula categórica na qual citam, muito a propósito, as palavras do Evangelho: “Não lanceis aos cães as coisas santas”. Os comungantes – e a palavra aqui ganha o seu verdadeiro sentido – trocam entre si o beijo da paz. Cada um se aproxima do pontífice, que já comungou, seguido dos sacerdotes e diáconos. O bispo coloca na mão direita de cada comungante um pedaço de pão dizendo: Corpus Christi. Depois o diácono oferece o cálice que contém o vinho: Sanguis Christi calix vitae, e o Amém que o fiel murmura não é uma simples formula, mas um ato de fé nesse Cristo que está presente nele, a expressão de sua esperança e do seu amor. Acaba agora a missa. Reza-se uma oração coletiva para agradecer a Deus os benefícios. “Nós vos damos graças Pai Santo, pelo vosso santo nome, que fizestes habitar em nossos corações, pelo conhecimento que nos deste, pela fé e imortalidade que nos revelastes por meio de Jesus...” Responde-lhe um grito de alegria, um imenso hosanna. Depois ajoelhada, a assistência recebe a benção do bispo e escuta essa “oração sobre o povo” que reúne uma última vez diante de Deus: “Ide, a missa está dita!” Já o dia desponta no Oriente. Os fiéis voltam para suas casas com a alma repleta de felicidade. A vida poderá trazer-lhes os seus sofrimentos e os seus perigos, mas eles tem Cristo dentro de si. [cf. ROPS, Daniel. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires, Vol I, Quadrante, 1988,p 213- 217]

Depois de uma belíssima reconstrução histórica da Santa Missa como esta, não temos mais palavras para descrever este Tesouro que Jesus nos dá. Essa é a nossa Fé, que dos Apóstolos recebemos e na qual perseveramos enquanto aguardamos a volta do Cristo Salvador!.

Notas Complementares:

1º - A palavra missa parece provir do latim missa, equivalente de missio no baixo latim dos séculos V a IX e que significa despedida. No fim da cerimônia o diácono dizia: It missa est, é o fim, é a despedida. Há quem sustente que a palavra missa vem de mensa, repasto, com o sentido de refeição sagrada, e que no baixo latim se tornou messa. A partir do século IV foi aplicada ao rito inteiro. Encontramo-la no termo Kermesse, de origem flamenga ou germânica: é a missa da Igreja, Kerk-messe, dia da consagração do edifício ou dia do santo padroeiro.(...) Enfim, na Igreja primitiva, designava-se muitas vezes a missa com o termo geral de sacramento; em Santo Agostinho, “celebrar os sacramentos” significa dizer a missa, sacramento por excelência. Daí provém o nome “sacramentário” dado aos missais mais antigos. [Adaptado de: ROPS, Daniel. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires, Vol I, Quadrante, 1988,p 213; Nota nº 15]

2º - O “repasto eucarístico” era uma verdadeira refeição: a Última Ceia de Cristo coincidiu com o jantar da Páscoa. Em Jerusalém e nas primeiras missões, a Eucaristia não se distinguia dos “ágapes” fraternais. Mas aos poucos, a diferença acentuou-se. São Paulo na 1ª Epístola aos Coríntios (cfr. 11,20-21), dá-o a entender sem rodeios. Mesmo nessas ocasiões santas, a natureza humana podia vir a tona, e esses ágapes podiam ser um pretexto para se abusar de bebidas. Por isso são Paulo aconselha que não se tome nenhum verdadeiro jantar durante a Eucaristia. “Cada um deve tomar a refeição antes de vir para a mesa”. Não se pode precisar quando se operou a distinção, mas já era fato no século II. [Adaptado de: ROPS, Daniel. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires, Vol I, Quadrante, 1988,p 210; Nota nº 13]

BIBLIOGRAFIA

AQUINO, Felipe. Escola da Fé I: Sagrada Tradição. Lorena-SP: Cléofas, 2000.

Bíblia Sagrada. 47º Ed. São Paulo: Ave Maria,1985.

Bento XVI. Carta Encíclica Deus Caritas Est – Coleção a voz do Papa nº

189. 2ªed. São Paulo: Paulinas 2006.

Constituição Sacrosanctum Concilium nº 47 (Concílio Vaticano II).

ROPS, Daniel. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires, Vol I, Quadrante, 1988.

TREVISAN, Celestino André. A Eucaristia. São Paulo: Raboni, 1995.

* * *

Confio este trabalho a Nossa Senhora das Graças, que por sua materna intercessão sempre nos conduz a seu Divino Filho, Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Ave, María, grátia pléna, Dóminus técum;

benedícta tu in muliéribus,

et benedíctus frúctus ventris túi, Jésus.

Sáncta María, Máter Déi,

óra pro nóbis peccatóribus

nunc et in hóra mórtis nóstrae.

Amen.

Dado em Itapetinga, junto de Nossa Senhora das Graças, no dia 15 de março de 2006, 2ª semana da Quaresma.

L.M.J.

Leandro Martins de Jesus
Enviado por Leandro Martins de Jesus em 06/12/2006
Código do texto: T310667
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2006. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.