O tempo

Sentado na varanda, comecei a ver o tempo. Não vê-lo como o tempo da previsão, se chove ou não chove. Mas olhá-lo no seu todo, no seu conteúdo. Confesso que não é nada fácil.

O tempo, como sabemos, ou como pensamos que sabemos, é um todo.

Os homens, num momento de grande insensatez, resolveram mexer com ele. Fizeram isso, primeiro ao inventar as medidas para ele. Dias de 24 horas, semanas, meses, anos, séculos, milênios. Não satisfeitos, inventaram o pêndulo, daí para o relógio propriamente dito, foi um passo. Passaram, assim, sem querer a serem escravos do tempo. Do mesmo tempo, que sempre existira, mas nunca tinha sido medido. Conta-nos a lenda que os inventores do relógio foram os alemães. Gênios.

Mas o tempo, ao qual me referia inicialmente, é outro.

É o tempo das lembranças, das felicidades, das alegrias, dores e traições. Tempo das pescarias, das viagens, das danças. De rock and roll, tangos valsas, sambas e rumbas. Tempos outros, de balcões iluminados por luas fugazes em serenatas dolentes. Às vezes sem nenhum resultado prático. Tempos de guerras e paz. De realizações empreendedoras, de pagamentos de impostos. Tempos que foram “senhor da razão”, de acordo com filosofias de defesas. Tempos de absolvição e condenas.

O tempo que eu estava olhando da varanda, é seguramente aquele tempo sem medidas e sem freios, sem censuras e sem rodeios, sem máculas e sem cobranças. Era apenas um tempo de viver.

Saí da varanda decidido a aproveitar o tempo que me resta, já que o tempo é um recurso não renovável, e perdê-lo em elucubrações filosóficas é o mesmo que deixar uma torneira aberta, e depois tentar por a água de volta.

Matogrosso
Enviado por Matogrosso em 08/12/2006
Reeditado em 08/12/2006
Código do texto: T313103