GERAÇÃO CAMISINHA

Em sua invulgar literatura esculpida por erros e acertos, Gilio de Hollanda, colhe, na seara do cotidiano, pérolas poéticas capaz de causar furor uterino na mente do leitor.

Poeta contemplativo faz da sua enigmática trilha, per si, caprichosamente desapercebida do olhar ausente da rotina, um culto a temática do óbvio.

Personagem de passado obscurecido por direito de opção, em um encontro inenarrável sentenciou:

Sou subproduto do meio; uma inegável promessa da geração camisinha.

Fruto do pecado e do pecado pecador arrependido; mas, sem tempo ou talento para conversão.

De todas as verdades que nunca escrevi, só grafo a certeza de que: jogar no luxo do lixo o produto da paixão; é tão pecaminoso quanto trancafiar na gaveta o gozo de uma mente fertilizada pelo ócio do anonimato.

Sei que, como escravo da mortalidade devo partir. Já não dá para ficar ou virar semente. Quando o desencanto abriu uma fresta no coração deixou a porta entreaberta por onde a vida se esvai.

Além dos meus escritos não trago ou deixarei heranças ou herdeiros. Vivo a camisar tesão e, aqui acolá a engravidar tola emoção.

Tudo que cozi merece ser, aos bons bocados, consumido. Mas se o texto for proibido, tenha certeza que neste alimento guardei o verso mais nutritivo.

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AUTOMÓVEIS

AUTO MÓVEIS

Cruzando avenidas

Acidente passageiro

Encontros, desencontros...

Contra-mão.

Se as janelas sorriem:

Dois lá se vão.

ATO MÓVEL

Olhos

Braços

Pés

Mãos.

Coração na direção.

AUTO LOVE

Pára-choque a pára-choque

Porta a porta

Lata a lata

Tinta a tinta

Camisinha na camisinha.

PSICOSE

Um dia teremos

Ou seremos

Automóveis.

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SÓ NOS FALTA

Só nos falta arder em paixão endógena

Habitamos o mesmo universo

A mesma estação

Vivemos em perfeita conexão

Nesta infatigável relação hidrogena.

Nossa atração não abriga ingovernabilidade

Somos visionários do tempo

Hipotecamos nosso medo

Pagamos o dízimo do segredo

Só nos falta erigir totens nos guetos da cidade.

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CADÊ MEU ECSTASY

Estou indo embora

Cola de Coca-Cola no MacDonald só me fez engordar

Ando tão redondo, que só me falta fazer uma acidental redondilha

Vou voltar para Brasília, fazer regime no Feitiço Mineiro,

Enquanto Renato Matos reclama que só um telefone não dá.

Cadê meu estasy?

Não sou espartano

Não sei viver de sumo guaraná.

Antonio Virgilio Andrade
Enviado por Antonio Virgilio Andrade em 06/07/2005
Código do texto: T31719