Aventuras na net I

Luiz Luna*

A tecnologia da informática ainda não tinha chegado ao desenvolvimento de hoje, tampouco era popularizada. Era a segunda metade da década de noventa e Paulo já encantava-se com as salas de bate-papo virtuais, a ponto de manter mais contato pela internet do que com pessoas “reais”. Foi num desses encontros que ele conheceu Maria, uma jovem pernambucana que se apresentava com o codinome The Cat.

A conexão por telefone (de pulso) era lenta, mas isso não era empecilho para conversas que varavam madrugadas. A insônia, um dos males da atualidade, proporcionava a energia necessária para não entediar-se diante da tela fria do micro. Afinal, encontrara uma diversão que era novidade e o protegia de vários incômodos dos encontros “olho no olho”. Apesar de uma vida agitada, Paulo era um cara dito legal, possuindo qualidades admiradas pelos amigos, a exemplo da cordialidade e sinceridade. Isso foi fundamental para o encanto de The Cat, que identificara-se como assessora de imprensa de uma igreja, solitária, sem compromisso e disposta a fazer novas amizades e, quem sabe, algo mais. E foi justamente nessa lacuna que o tempo levou a conversas mais apimentadas do que os cotidianos assuntos sobre as crises do governo, entretenimento e outras banalidades que consomem o tempo e a vida das pessoas. Como nossa mente constrói a realidade que melhor lhe apraz, logo estabeleceu-se uma confiança ímpar e os dois pareciam velhos amigos. Depois de certo tempo, os contatos virtuais tornaram-se insuficientes e trocaram os números de telefone.

Era tarde de domingo quando o telefone toca. Do outro lado, uma voz feminina suave, estilo manhoso, de um timbre e carinho inconfundíveis. Finalmente um escutara a voz do outro. A partir daí, as conversas mesclaram-se entre a net e o telefone, até que um dos dois sugeriu um encontro, afinal de contas, vez por outra as conversas eram picantes. Combinaram para o próximo feriado, mas tinha que ser à noite, porque The Cat alegara que iria trabalhar, pois o dia seria de cultos e ela tinha que estar presente. Como havia chegado logo cedo na cidade, Paulo resolvera fazer uma surpresa e aproveitaria para colocar em dia seus encontros com o Divino, pois fazia dias não freqüentara nenhuma igreja. Ao chegar, encontrou o local fechado, mas havia uma entrada lateral aberta, que dava acesso à secretaria. Foi atendido por duas beatas que ao serem indagadas pela jovem, de logo informaram que ela não estava, mas poderia ser encontrada na casa cinza em frente, que pertencia ao seu noivo. Surpreso, de logo questionou sobre a revelação. As mulheres entreolharam-se e perguntaram se ele era o rapaz da internet. Nova surpresa foi demonstrada, agora para disfarçar, perguntando se além do noivo ainda havia outro, ainda por cima virtual.

As beatas, constrangidas diante de tal situação, tentaram remedear, mas Paulo tranqüilizou-as, dizendo que era apenas um discípulo de Deus e procurava por informações, indo embora. À noite, o tão esperado encontro. Havia uma expectativa que The Cat contasse-lhe a verdade, mas o clima de romance foi mais forte e a brisa do mar contribuía para o tom poético, mais caloroso do que aqueles encontros virtuais... dias depois o telefone toca e a “ficha” caiu...

* Jornalista e especialista em gestão de pessoas.

L L Jr
Enviado por L L Jr em 13/12/2006
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