Política no futebol e realidade brasileira - Orson Peter Carrara

Sou palmeirense. Saudoso dos bons tempos de títulos seguidos. Todavia, tenho que reconhecer como qualquer outro torcedor que a crise instalada no Palmeiras há tantos anos mais não é do que uma crise política, interna, que se reflete no campo.

Basta igualmente reconhecer que o sucesso do São Paulo é fruto também de uma boa administração fora de campo, do clube no todo, em seus vários departamentos.

É que uma administração bem conduzida, com seriedade e respeito, só pode mesmo refletir-se em bons resultados, em ambiente de harmonia e espírito de equipe, dentro e fora do campo no exemplo citado do futebol.

A regra, todavia, cabe em muitas outras situações. Um cidadão equilibrado indica origem de uma família bem formada. Uma empresa bem conduzida (como no exemplo citado) reflete progresso em seus produtos e atividades, no clima entre seus funcionários e relacionamento com a coletividade, bem como no resultado final de seu trabalho, em qualquer área que atue.

O mesmo raciocínio cabe também na política em geral. Tanto no âmbito municipal, estadual ou federal.

Basta pensar o que ocorre com o Brasil. Uma nação imensa, conduzida em suas várias esferas por equipes nem sempre unidas ou voltadas para a mesma direção. Desafios imensos, impossíveis de serem conduzidos e solucionados por um único homem, que descentralizados defrontam-se com as dificuldades humanas do egoísmo, da dominação, do orgulho, da vaidade, e por aí vai... Oriundos sim da má vontade, da manipulação e outras deformações do caráter.

Todavia, não é só isso. Não há como negar a existência de iniciativas notáveis, de homens e mulheres totalmente comprometidos e sintonizados com o bem geral que engrandecem a condição e a dignidade humana.

Pessoas dedicadas, honestas e bondosas, responsáveis e capacitadas atuam em todas as áreas humanas, tornando as instituições e empresas autênticos focos de progresso e harmonia, numa cidade, num Estado, no país.

Estão nas empresas, na política, em instituições culturais e educativas, em ONGs, nas famílias e por toda parte.

Por que, então, a malandragem, a corrupção e outros males aparecem tanto? Por que a presença e influência do mal é tão marcante, sobrepondo-se ao bem geral que deve gerir a vida nacional?

É que o os maus são ousados; os bons... são tímidos...

A decisão de exaltar o correto é urgente. A postura de defender e viver a honestidade é medida urgente para modificação dos hábitos, para contágio social que conscientize pais e educadores.

Felizmente há muita gente, mas muita mesmo, agindo intensamente em favor do bem geral da sociedade. Todavia, há que se ampliar isso. A começar pela intimidade da família, onde está a essência da formação de bons hábitos, onde está o ninho da dignidade.

Que cidadão estamos formando quando exemplificamos, diante dos filhos, a desonestidade? Que harmonia e paz esperamos quando semeamos a violência (seja verbal, inclusive na maledicência, ou física) na intimidade dos lares? Ou, como esperamos o respeito quando tentamos burlar, manipular, fraudar?

Alguém dirá que todos fazem isso e seremos o “bobo da corte” agindo diferente da maioria. Pois afirmo que é preferível ser enganado do que enganar, é preferível ser roubado que roubar, é preferível ser morto que matar...

Comportamentos imorais resultarão em conseqüências desastrosas no futuro. Preferível, pois, perder agora e ter a consciência tranqüila.

Voltemos, porém, ao futebol. A crise dos clubes de futebol revela apenas uma crise moral, interna, na administração dessas empresas. Talvez seja a crise do descaso, de uma possível manipulação que nem suspeitamos ou mesmo uma disputa interna de rivalidades ou imposições. Todas, porém, resultando no fracasso dentro de campo... O mesmo que ocorre na sociedade brasileira, onde poucos conscientes lutam pelo bem de muitos inconscientes.

Orson
Enviado por Orson em 14/12/2006
Código do texto: T317932