SAUDADES! SUA SIGNIFICAÇÃO AO MODO DE VIDA.

SAUDADES! SUA SIGNIFICAÇÃO AO MODO DE VIDA.

Estive pensando sobre a saudade e entendi que possuí-la pode significar, algumas vezes, um profundo sentimento de medo. Saudade também pode indicar o tamanho da indignação de um indivíduo ao processo natural de aparecimento e mudança, que com o passar do tempo, se desfaz como um algo existente. Entendi também, que o sentimento saudoso no ser humano, provoca o desprazer à vida com desprezo ao que lhe resta de coisas em sua vida. Finalmente, a saudade pode criar uma expectativa que, de tal forma, leve o individuo a desejar ter novamente em seu convívio, a coisa que lhe é de direito, mas que por algumas circunstancias existências está fora do seu alcance. Saudade! A saudade da espera que maltrata, leva o indivíduo ao desejo que se resguarda, com profunda dor de impressão de abate. Ainda que existissem palavras ao seu significado, não seriam de exposição real ao que de fato ela representa, quando, em ação a vida humana lhe traz o tormento. A saudade é sentida individualmente, mesmo que a sua razão em existir, seja de motivo a outros sentirem a sua própria saudade. Mas, ainda que demonstrada, nunca é compartilhada em seu tormento, em sua essência, pois, cada um, em seu modo de vivê-la, faz dela o motivo de seus medos ao que se possa imaginar do outro que está distante, ou daquilo que se perdeu de seu convívio, ou ainda, daquilo que o faz esperar sem nunca dizer o motivo da demora em chegar. Quando sentida profundamente, deixa de ser um simples sentimento de dor pela ausência, tornando-se angustia por impressão do que se imagina ter perdido. Neste caso, na mente humana, ela é motivada pelo medo de ser esquecido, pelo medo de perder o outro de vista, pelo medo de ser substituído em meio ao devaneio da mente estonteada em seu afastamento, pelo medo de não mais encontrar o que antes tinha por certo em sua vida, presente em sua realidade e ganho em sua totalidade. As coisas aparecem e desaparecem por questões simples, elas são mutáveis, e, naturalmente o que se manifesta, se faz de forma pausada, demorada, continua, sendo um algo de se esperar a tudo e a todos os finitos. O indivíduo deveria aceitar esse processo natural, mas, diferentemente faz das mudanças e do desaparecimento das coisas, o motivo do despertar da dor da saudade. A indignação a esse processo emerge, antes, da descoberta de sua impossibilidade em fazer as coisas serem para sempre, em não conseguir fazer eterno, os momentos bons e prazerosos da vida. A indignação vai além do fato de não poder ter, pois, na verdade, repousa no fato de compreender que o não ter mais, é por não poder fazer que a coisa seja um sempre eterno na sua vida. Já falei do medo e da indignação resultante da saudade, agora falo do desprazer que dela emana ao indivíduo atormentado por sua força inibidora. A saudade pode produzir um sentimento de revolta ao indivíduo que sofre. Este sentimento levará o indivíduo a fazer descaso ao que lhe resta á vida, impedindo-o de identificar valores nas coisas outras que dantes ele conhecia, já que sempre estiveram em seu convívio. A tristeza que o abate, veta a sua visão de continuar a perceber as outras coisas que lhe restam, pois, ainda que a imagem da coisa antes percebida e definida permaneça na consciência, cada momento de contato com as coisas que se apresentam, é um algo novo que requer da consciência uma predefinição do que possui das imagens antes percebidas e definidas em contraste com o que agora se apresenta. Então, a mente do individuo que vive a intensa saudade, pode ser impedida de enviar a razão o que está na consciência e dizer de sua significância em seus valores a sua vida, por imaginar da imagem apenas do que se tem saudade, tornando a nova imagem imperceptível a sua mente. Por fim, faço citação da saudade que provoca expectativa ao indivíduo. O desejo pode provocar o indivíduo a travar uma luta como se fosse sua ultima batalha de solução única, escolha absoluta ao seu querer, e ação definitiva a conquista do que ele acredita ser seu de direito. Não se espera o que não se acredita existir. E não se espera o que não se confia como um algo que haverá de vir. Tão pouco, não se espera o que não se acredita lhe pertencer, ainda que todos o queiram também, mas que se espera ser seu, absolutamente seu. A saudade produz a expectativa ao que virá amanhã do tão sonhado reencontro. Eis a Saudade em seus efeitos. Dizer de seu significado ao indivíduo em seu modo de ser, pode ser mais do que lhe definir como um sendo fora desse indivíduo. Mas é de se esperar que outros vejam além do que eu consegui enxergar e contribuam mais do que acredito ter-lhes feito com meus pensamentos. Enquanto, vivamos nossa saudade em seu tempo de medo, indignação, dor e espera.

Ricardo Davis Duarte

Pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil

Professor de Filosofia do ISES em Salgueiro - PE