Uma luz no fim do túnel. (Fim de ano)

Um dia após o outro, é a enfadonha rotina que prevalece. Passam os meses, anos, séculos, milênios...A tribulação diária camufla o certo do errado, o joio do trigo.Não há expectativa favorável para os dias vindouros. Ruíram os padrões morais, os tabus e o povo vaga como uma manada errante cruzando as savanas. Buscam por alimentos cada vez mais escassos e vêem suas crias perecerem pela fome, pelas moléstias ou nas garras dos predadores.Os que sobrevivem, tornam-se estressados, vingativos, divididos entre um Deus generoso e inatingível e um Demônio cruel e onipresente.Tantas doutrinas e seitas não foram suficientemente capazes de fomentar a paz duradoura e um convívio digno. O poder e a ciência chocam-se e os homens portam-se como se estivessem atados numa escravidão voluntária, onde o relógio e a febre do consumismo impedem que o prazer e a alegria se confraternizem. Tudo o que foi dito e feito não alterou as regras do destino que tudo fez segundo seus preceitos. Envolta nessa tribulação a humanidade age como um cata-vento, um barco a deriva que voga ao sabor das ondas. Ela forma uma massa heterogênia, facilmente manipulável, alienada aos meios tendenciosos de comunicação e subordinada às classes dominantes.São guerreiros desertores que avançam em campo aberto caçando-se uns aos outros e, a minoria entrincheirada em seus muros, corroída pelos temores, machos e fêmeas em pleno cio, pousam de deuses quando, na verdade, valem tanto quanto qualquer andarilho. São bandoleiros em terras estranhas.

Ao final de todo ano, os poderosos que sempre ditaram as regras a uma plebe ignorante; agora, mascarados de anjos, vêem a público conclamá-la às festividades. Embalados pela fartura natalina, portam-se em nutrir com vãs esperanças os miseráveis que brindaram a morte no decorrer dos anos.

Finda mais um ano. Como herança, têm-se as conquistas tecnológicas, as armas químicas, a degradação da vida e do meio ambiente; o amplo consumo dos derivados da ‘’papoula’’, do ‘’tabacum’’, da ‘’coca’’, da ‘’canabis’’. Seguem as descrenças quanto às leis, juízes e líderes que, segundo as suas parcialidades, alimentaram e elevaram a marginalidade. Mas, quando tudo aparenta estar perdido, do caos estabelecido, surge das cinzas a velha e autêntica escola. Nela, a vida, o tempo e a morte são os verdadeiros mestres.No currículo, tem-se a fome que, por si, desperta a coragem e a disposição para a luta. O medo realça o calor humano e a necessidade fraterna.A solidão, com suas cadeias, faz valorizar as coisas simples e belas da vida. A sabedoria é uma jóia preciosa que poucos encontram. Esperar pode ser uma forma de luta e a felicidade está nos momentos de merecido recreio do qual só os vencedores desfrutam. Não há verdades absolutas, mas a razão momentânea que os leva ao combate. O tempo é como o bálsamo que restaura as feridas, pois, são pelas dores e provações que se forjam os homens sensatos. Por fim, a morte; ceifeira implacável de toda a semeadura; todos aqueles que, entre Sireneus e Escariotes, empunham com retidão os seus lenhos, caminham em passos cambaleantes, para o Calvário!

Há, entretanto, uma esperança. Só é preciso um tempo; o suficiente para se conscientizar de suas forças, de sua origem e da direção que pretende seguir. Todos os caminhos levam a algum lugar, basta seguí-los! Então, só resta soltar o grito preso da garganta, ignorar as chagas impostas pelos anos, vasculhar no acervo da infância os sonhos bons e realizáveis, renascer dos escombros e fazer deles o seu ideal; mas, se almejas uma porção maior no mundo, é prudente começar por conquistar os seus vizinhos.

Por fim, na galhardia das festas e do Reveillon, às pessoas que realmente considera, em vez de coisas fúteis, deseje-lhes algo sério e concreto. Assim, ao envolvê-las no calor do abraço, no beijo afetuoso ou no aperto de mão; comprometa-se lhe proporcionar fidelidade, fraternidade, humanismo e simplicidade para os dias que se precedem. O futuro, a julgar pelo que se vê, será a síntese do que temos agora: um mundo globalizado e capitalizado onde haverá tantas máquinas que cantam e tantos homens que choram.