FELIZ O QUÊ ?

O Natal foi transformado em uma celebração da cobiça revestida por uma rala camada de “doação”.

Christopher Jamison

Tudo na vida se constrói passando por intencionalidades e por silêncios, de modo que interpretar é imprescindível ao processo de significação. A expressão corriqueira: “Feliz Natal”, hoje, desconfio, é um desejo de que nossos momentos brilhem como o ouro falso regados a presentes, comilanças e expressões perfumes-gardênias.

A histeria comercial toca seus tambores anunciando um tipo de felicidade barulhenta, fantasmagórica, espetaculosa, simulando experiências saborosas, nos gritando: compre...compre agora...compre...É tão alucinante a coisa que pensarmos num Natal sem compras parece tolice. Nos tornamos cegos e surdos no embalo do consenso, da não espera, do horizonte que não vai além de um dia. O Natal deixou de ser Luz para assimilar um consumismo enfraquecedor da Vontade, uma espécie de acídia espiritual, um espetáculo de mentirarias.

Natal sem advento da Verdade é trovão sem raio, artificialidade gestual cuja linguagem encena apenas um tipo de sentir-se bem, uma folastria, um deleite sem sabedoria. Em nenhum momento de nossa caminhada, diz Jamison, “as forças comerciais atuam de forma ainda mais predadora”. Os sentidos que circulam dizem o mesmo visando, claro, a outras dimensões. Nascimento, menino, Belém, Jesus, Felicidade, Paz ainda que nos remetam a um horizonte da linguagem, no fundo, é um vazio significando falta. Papai Noel é a síntese máxima desse processo, é um silêncio de distanciamento e, acima de tudo, demarcador de presença.

O Natal verdadeiro é Festa. Uma celebração da Felicidade cuja base é a Paz duradoura. Não se trata de atalho sentimental: “um dia por ano de paz e boa vontade, e depois tudo volta ao normal”. Por isso, amigo, o presente transcende à maquinaria consumista. Afinal, algo trabalhado por nós, feito pelas nossas mãos, é infinitamente mais carregado de Sentido. Natal sem compras, Natal sem alienação, Natal sem cobiça, Natal sem violência, Natal sem fome, Natal sem cinismo, Natal sem “religioses” estão no alimentar, amiúde, dos Pães do Mestre. É hora de Leitura orante de seus ensinamentos. A prática da verdade requer nossa aproximação da Luz. O Menino nos garante: “Eu sou a Luz (...) quem me segue terá Luz”.

Até quando a acídia espiritual prevalecerá? Natal é exercício crítico da razão. Nas palavras do abade Christopher: “reflexão diária do que se passa nos recessos da alma”. Natal é a higiene que nos energiza, é a força que nos capacita ao enfrentamento das zombarias. No Natal-Natal estamos no lugar certo, de mãos dadas com as pessoas certas, fazendo o que é certo, sob a liderança correta. Natal, enfim, é eternidade – “antes que Abraão existisse, EU SOU”. Feliz Natal? Desde que seja Natal!

Ary Carlos Moura Cardoso

Cristocêntrico

Professor da UFT