Santa Teresa em êxtase

Tentei ler um pouco mais sobre o êxtase de Santa Teresa pensando em escrever um texto sobre esse fato meio ainda nublado pelas nuvens do catolicismo e pela incompetência do lado materialista da Ciência e do pouco caso que faz em torno do transcendental.

Desisti de escrever um texto de breve pesquisa informativa, pois o que consegui foi dar boas risadas com os comentários dos leitores de textos sobre a freira em êxtase. Algumas dessas manifestações de leitores, especialmente homens, são de um humor irresistível. Esses comentaristas dizem, entre outras coisas, que a Teresa estava tendo um orgasmo sexual dos bons. E assim, entre discussões de comentaristas, uns teólogos e outros vagabundólogos, fiquei entre o anjo e sua espada.

Sei que haverá leitor querendo entender que eu também faço pouco do êxtase de Teresa. Entretanto, eu não entendo as reações da freira desse jeito pequeno e alcançável por qualquer mulher normal. Pelo contrário, mesmo achando graça nos disparates dos rapazes, confiantes que são anjos capazes de promover êxtases com suas espadas falíveis, eu entendo que a freira foi uma privilegiada e que alcançava o prazer transcendental, longe do simples, corriqueiro e comum toque material entre um homem e uma mulher.

Acredito que Teresa foi agraciada com o inefável, algo não concedido a seu qualquer entre nós. Passou por um estado de completa isenção e distanciamento de seu corpo material e entrou em sintonia com o divino, com a essência. Sem dúvida, essa bênção que foi concedida a Teresa de experimentar excelsitudes nos causa despeito e inveja.

Quando um ser humano se dedica a um tipo de arte, mesmo que disto não se dê conta, ele busca vivenciar aquele momento supremo experimentado pela santa. Eu tenho toda a certeza disto quando ouço uma composição de um músico da qualidade de Mozart, quando leio um poema de Castro Alves, de Florbela, de Cecília e de tantos mais; quando aprecio obras de arte de artistas plásticos e de tantas outras manifestações do talento humano. Toda a natureza em seus diversos quadros vivos parece nos dizer que prova tal encantamento divino.

Teresa está acima dessas brincadeiras e dessa pobreza de espírito e, como é um espírito em comunhão com o Criador, ela possivelmente compreende o vazio daqueles que só encontram o êxtase na matéria que murcha e se transforma em vermes.

Essa questão do erotismo em Teresa tem sido motivo de debate, pois teria ela dito sobre o que sentia e que inspirou Bernini, século XVII, a criar no mármore a escultura “O Êxtase de Santa Tereza”, obra que se encontra na Capela Cornaro, em Santa Maria della Vittória, Roma. Eis o relato escrito pela freira, em sua autobiografia, conforme estudos de Costa Filho et al (2010):

“Via um anjo perto de mim […] sob forma corporal, o que não costumo ver senão muito raramente. […] nesta visão o Senhor quis que assim o visse: não era grande, senão pequeno, formosíssimo, o rosto tão incendido, que deveria ser dos anjos que servem muito próximos de Deus, que parecem abrasar-se todos. […] Via-lhe nas mãos um comprido dardo de ouro. Na ponta de ferro julguei haver um pouco de fogo. Parecia algumas vezes metê-lo pelo meu coração a dentro, de modo que chegava às entranhas. Ao tirá-lo tinha eu a impressão de que as levava consigo, deixando-me toda abrasada em grande amor de Deus. Era tão intensa a dor, que me fazia dar os gemidos de que falei. Essa dor imensa produz tão excessiva suavidade que não se deseja o seu fim, nem a alma se contenta com menos do que com Deus. Não é dor corporal senão espiritual, ainda que o corpo não deixe de ter sua parte, e até bem grande. É um trato de amor tão suave entre a alma e Deus, que suplico à sua Bondade o dê a provar a quem pensar que minto (TERESA DE JESUS, 1983, p. 236)”.

Eu não penso que você mentia, Teresa. O que penso é no quanto somos pequenos para merecer viver o seu mesmo êxtase.

Referências eletrônicas

http://www.revistapindorama.ifba.edu.br/files/Almir%20Valente%20Costa%20IFMA.pdf

taniameneses
Enviado por taniameneses em 08/11/2011
Reeditado em 08/11/2011
Código do texto: T3324791
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