Ah! As Mulheres

Quando se presencia mulheres brasileiras ocupando posição de destaque nas mais variadas profissões, jamais se poderia imaginar o quanto elas foram discriminadas ao longo desses quinhentos e poucos anos de história. Houve uma época em que achava-se que as mulheres não assimilassem conhecimento para compor o quadro docente das escolas de então. Por isso, somente os homens exerciam o magistério. Era esse o pensamento provinciano que imperava no Brasil até o ano de 1827. Quanta hipocrisia !?

Há algum tempo atrás a mulherada não podia também praticar determinados esportes, pois o decreto-lei 3.199 do ano de 1.941 em seu artigo 54, dizia: "Às mulheres não se permitirão a prática de desportos incompatíveis com as condições da sua natureza". Em resumo, essa lei proibia que mulheres praticassem o futebol, lutas de quaisquer modalidades, entre outros.

A história da Literatura Brasileira, incluindo-se ai a grande imprensa, é omissa no que se relaciona aos nefastos tipos de discriminação impingidos às mulheres brasileiras. Por conta disso, as melhores fontes de referência sobre este assunto deprimente, talvez sejam os aventureiros estrangeiros que visitaram nosso país, muitos desses cientistas e literatos que aqui estiveram nos períodos da Colônia, Império e República, contribuindo sobremaneira para se saber mais sobre os costumes do povo brasileiro de modo geral.

Como o espaço é exíguo, citar-se-á neste momento, apenas um desses estrangeiros, o prussiano, Hermann Burmeister, insigne homem de letras que aqui esteve no ano de 1.850, autor do livro, "Viagem ao Brasil", no qual relata os modos e costumes de nossa gente. Nas páginas 272 e 273 sobre as mulheres, ele diz: "A amabilidade dos brasileiros no trato com os forasteiros é extrema, aguardando idêntico tratamento da parte destes. As mulheres são muito mais reservadas e é caso raríssimo o estranho ser apresentado a elas logo de início; somente com o tempo é que tem lugar a apresentação aos membros femininos da família. Em convites oficiais ou por ocasião de uma visita inesperada, a dona da casa ou as filhas nunca se mostram; ficam fora do círculo masculino, olhando furtivamente pelas portas ou pelas janelas para ver quando o hóspede se retira; se acontece que um olhar desse as atinge, escondem-se com a máxima rapidez. É interpretado como sinal de audácia ou falta de decoro uma senhora vir receber a visita de uma pessoa recentemente apresentada, pois somente aos poucos é-se admitido no convívio das mulheres da casa. Um tanto deste hábito atribui-se à timidez do sexo feminino, mas a maior parte provém da desconfiança dos homens, que, julgando os outros por si, justificam essa atitude. Neste sentido, o brasileiro merece tão pouca confiança quanto no seu sentimento de justiça. Ele vai aos limites do que pode conseguir, sendo tão devasso fora de casa quão severo e desconfiado é dentro da mesma. Nisto, brancos, mulatos e pretos são iguais; cada um trata de fechar sua mulher a sete chaves, a fim de poder gozar mais livremente suas paixões.

Contam-se casos como o de um que internou a esposa num convento por alguns anos a fim de poder viver com a amante na própria casa. A lei mesmo ajuda tal procedimento, pois, querendo alguém ver-se livre de sua mulher por certo tempo, basta recorrer à polícia, que a manda levar para um convento, ao qual o marido paga uma mensalidade. A mulher não opõe resistência: o homem manda e ela obedece. Durante esse tempo, o marido atira-se a uma vida folgada e de prazeres ao lado da concubina, que é enxotada quando não mais lhe agrada; o homem, então, ou toma outra, ou manda voltar a esposa. A mulher, ao regressar, trata de satisfazer o marido em tudo, a fim de não ser novamente enviada ao convento. Tal costume é geral nas grandes cidades, e eu próprio poderia citar vários casos, se fosse necessário comprovar minhas asserções. As concubinas são geralmente jovens mulatas, de 16 a 20 anos, sendo este um dos motivos por que a população de cor aumenta sempre nas cidades. Raras vezes recorrem às escravas, embora estas sejam especialmente inclinadas a entrar em tais relações. Os brasileiros estão de tal forma acostumados a este modo de vida que nem pensam ocultá-lo. Dizem eles que as mulheres brancas devem administrar a casa, as mulatas servem para o prazer e as pretas para o serviço. E cada um observa esta regra como pode".

Informa-se que o que motivou este texto, foi tão somente porque o site, www.usp.br/agen/rede394.htm, divulgou que: "Estudos mostram controvérsias da história do comportamento da mulher do Brasil colônia. Há mais de um século, as mulheres também trabalhavam fora, com índices de participação semelhantes ao de hoje. Elas se divorciavam, não eram submissas e muitas tinham filhos fora do casamento. Testamentos e inventários de heranças, petições de divórcios de casais, dados estatísticos e outros documentos do período colonial revelam que 80 % das mulheres não tinham uma vida confortável, de "dondoca", como mostra a história clássica do Brasil, ensinada nas escolas". Sendo assim e considerando as controvérsias apresentadas, pergunta-se: Em que hipótese as mulheres brasileiras podiam trabalhar fora, se se considerar o texto acima de Hermann Burmeister, quando afirma categoricamente: "Nisto, brancos, mulatos e pretos são iguais; cada um trata de fechar sua mulher a sete chaves, a fim de poder gozar mais livremente suas paixões"?? Quem então estaria com a razão?

Amarú Inti Levoselo
Enviado por Amarú Inti Levoselo em 01/01/2007
Código do texto: T333738
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