A profissão mais antiga

Hoje, logo cedo dirigi-me a um bairro tradicional da cidade, bem próximo ao centro.

Deparei-me com uma cena usual nessa região: sentada no meio fio, com um cigarro entre os lábios, sumariamente vestida, estava uma menina. Nem feia – nem bonita, nem menina, nem mulher, nem vestida, nem despida, nem alegre, nem triste. Com um olhar ausente, extremamente magra, certamente com fome, estava a esperar que surgisse algum cliente para iniciar o seu trabalho. Por ali circulavam, vagarosamente, quase parando, vários carros, com vidros escurecidos pela película protetora.

Nesse bairro é comum as meninas, às vezes quase crianças, ficarem à espera de clientes interessados nos seus corpinhos esquálidos, que elas emprestam, para, em troca de alguns momentos de prazer, conseguir alguns trocados e com isso aliviar sua fome – por alimentos e/ou por drogas. Geralmente elas vêm de uma favela que há nas proximidades.

Como essa atividade é tradicional no local, logo que cai a noite, até o amanhecer do dia seguinte, há intensa oferta e procura por serviços dessa natureza.

A profissão milenar da prostituição é tolerada pela sociedade, que prefere fechar os olhos aos dramas que estão por detrás desse comércio do corpo humano. Infelizmente, com a escassa oferta de empregos, esse trabalho tem proliferado, oportunizando abusos. É quando meninas, da mais tenra idade, postam-se no local, à espera de serem escolhidas – e certamente o serão, pois, embora se combata oficialmente a prostituição infantil, sempre há uma maneira de camuflar uma ou outra “escapada”.

Senti-me hipócrita e medíocre, como parte dessa engrenagem perversa que, embora se arvore em combatente do mal, propicia e acoberta situações anômalas como essa, permitindo – e até incentivando a decadência do ser tão humano a níveis tão baixos...