Como viver depois algo tão distante dos nossos sentimentos e pensamentos de agora?

Eu não acredito que existe a felicidade sem fim ou o sofrimento eterno.

Sem pretender apresentar uma discussão de caráter religioso, contesto a ideía de que, após a morte, sofreremos para sempre ou seremos felizes durante um período eterno.

Minha contestação tem um aspecto filosófico, é simples, nasce de uma reflexão sobre nossos atos e nossas reações do cotidiano.

Nós não estamos acostumados com a idéia da eternidade.

Na verdade não sabemos aguardar minutos ou horas. Aguardar dias gera uma aflição enorme; meses ou anos seria pedir demais.

Como vivenciaremos algo que não está impregnado no nosso modo de sentir durante a existência?

Como experimentar uma situação para a qual não demonstramos preparo algum psicológico e emocional?

Vejamos alguns exemplos:

1- Caso exista um casal muito apaixonado o qual forçosamente tenha que enfrentar uma viagem de cinco anos que causará um afastamento radical, sem a possibilidade de encontros temporários, necessitando, então, adiar os planos do casamento já marcado, não será nenhuma novidade se, depois dos cinco anos de separação, no retorno daquele que precisou viajar, os dois já estiverem envolvidos com outros parceiros. Todo o fervor amoroso de antes provavelmente não suportará esperar cinco anos de distância física.

Mas, depois da morte, como num passe de mágica, vivenciaríamos uma eternidade! É estranho, não?

2- Na prática não sabemos suportar uma enxaqueca que dure um dia, mas, depois da morte, estaríamos prontos para experimentar a eternidade! Contraditório, não?

3- Citando os religiosos, podemos recordar relatos de pessoas as quais prosperaram com a ajuda da fé que abraçaram. Elas adquiriram carros, progrediram com suas empresas, compraram uma casa, mas sempre aparecem dizendo que querem mais um carro, uma nova empresa ou uma outra casa. Nesses relatos não escuto, com todo respeito, elas ficarem contentes com o que já conquistaram. Sempre querem mais e mais. Não demonstram assim que estão pensando na eternidade que virá quando partirem. O assunto não vem à tona nem parece interessar.

No caso dos religiosos, eles possuem a certeza de que estão salvos e merecerão a felicidade eterna.

Não seria sensato e natural pensar um pouco nisso?

Afinal de contas, tudo que conseguirem acumular aqui não será possível levar na hora da morte.

Mais uma vez está aí o despreparo total para enfrentar a eternidade. Nesse exemplo tal despreparo alcança pessoas que deveriam estar aptas para a situação.

Quero ressaltar que não estou objetivando criticar os religiosos, mas provar que não estamos acostumados, inclusive os religiosos, a pensar nem viver conforme almas que logo mais vivenciarão uma eternidade.

4- Queremos tudo hoje e agora. O pensamento sobre a eternidade realmente não acompanha nossos passos, pois não está implícito nos nossos atos, nas nossas metas, nas nossas idéias.

Qualquer incidente que incomode o instante atual gera um desespero total.

Mas, de repente, com a ocorrência da morte, conheceríamos a desdita sem fim ou a felicidade perene.

Se essa for a verdade, teremos que aceitá-la. Mais do que isso, nós teremos de vivenciá-la.

Eu acho que, sendo essa a verdade, Deus estaria impondo uma situação para a qual a humanidade não se preparou, não pensou, não sentiu, não compreendeu, não amadureceu.

Eu imagino que Deus não facultaria uma situação dessas, portanto não acredito na eternidade por esse motivo.

Não sei como é, não quero propor nenhuma teoria a respeito, não estou querendo defender, por exemplo, a opinião espírita ou alguma similar.

Nada disso!

Apenas, através de uma reflexão simples, que todos podem realizar, chego à conclusão de que, depois da morte, vivenciar dores ou alegrias por um período contínuo não faz sentido algum.

É o meu pensamento, é a minha opinião.


Obrigado!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 22/01/2012
Reeditado em 31/01/2012
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