OS SUICÍDIOS DE GOIANÉSIA E A FILOSOFIA

O SUICÍDIO E SEUS NÓS

Tema caro ao homem desde à época das cavernas, a morte está longe de ser compreendida e aceita como natural. O absurdo da morte talvez foi responsável pelo surgimento das divindades que o homem sente necessidade de venerar, recorrer e atribuir aquilo que não consegue entender. Se a morte de nosso octogenário avô não freqüenta a nossa pacata aceitação, o que dizer da morte provocada pelas próprias mãos? O que dizer do suicídio?

O filósofo e escritor francês Albert Camus escreveu no seu ensaio O Mito de Sísifo que “só há um problema filosófico verdadeiramente sério: o suicídio”. Até a filosofia considera o tema espinhoso. Imagine o caro leitor, o que tem a dizer sobre o ato a religião. Os familiares do suicida. Os amigos.

Goianésia está vivdendo durante este início de ano uma situação trágica e incomum: registrou durante as cinco primeiras semanas quatro suicídios. Todos por enforcamento. Todos sem oferecer qualquer desculpa convincente. Todos deixaram a pacata população estupefata. Em qual fonte buscar uma explicação?

A religião tem algo a dizer. A literatura, o direito, a sociologia também oferecem suas vozes no sentido de explicar o inexplicável. A filosofia veio em meu socorro para dar o seu pitaco. A origem da palavra suicídio é do latim: sui caedere. Foi utilizado pela primeira vez em 1737 pelo botânico francês René Louiche Desfontaines. Herdada de nossa visão ocidental religiosa, que considera o ato de dar cabo à própria vida um pecado, a palavra suicídio tem sempre uma conotação negativa. Na filosofia judaico-cristã qualquer tipo de assassinato é condenável. O auto assassínio também o é. Filósofos católicos como Santo Agostinho, Tomás de Aquino e John Locke condenaram a ação suicida. Para eles nossa liberdade não ultrapassa a fronteira de decidir sobre o término da própria vida.

Outros pensadores, no entanto, vão na contramão. O francês Michel de Montaigne advoga argumentos em favor do suicídio. Segundo ele não vale a pena prolongar o mal. Os japoneses também pensam diferente. Dentro da cultura dos samurais, o suicídio era uma forma honrosa de se punir por alguma falta e assim defender a honra de seus ancestrais. O pensador romano Cícero concorda. Para ele, sem meios de se ter uma vida que se desenvolva naturalmente, o suicídio pode ser justificado. Um dos pais da sociologia, Émile Durkhein, em O Suicídio, escrita em 1897, afirma que o suicídio é o resultado de uma desintegração entre o indivíduo e as normais sociais.

Voltando à visão cristã do suicídio. Algumas questões bailam em uma tênue camada. Os mártires religiosos, que morrem pela fé, podem ser considerados suicidas? Se uma pessoa sabe que determinada situação provocará a sua morte e nada faz para impedir isso, comete suicídio? Apedrejem-me: Jesus Cristo, ao aceitar o destino que lhe foi revelado, estaria cometendo uma atitude suicida? Ele poderia não ter seguido o caminho traçado, poderia ter renunciado ao castigo da cruz. Não ouso oferecer um veredicto. Cada um faça seu tribunal.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 05/02/2012
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