1- Durante a leitura desse texto, é provável que vocês achem estranho eu falar em orkut já que o Facebook e o Twitter são os donos da bola nesse momento, no entanto o raciocínio que eu apresento é válido independente da rede social citada ou utilizada.

Há seis anos precisamente, o orkut ainda era uma grande onda. Na ocasião, era comum, quando eu tentava convidar alguém para ser meu amigo ou minha amiga, obter a seguinte resposta:

“Só adiciono quem eu conheço” ou “Não adiciono quem eu não conheço”

O fato me sugeriu na época uma reflexão bastante oportuna ainda hoje.

Lanço, então, três indagações:

Quem de fato nós conhecemos?

Se somente admitirmos interagir com as pessoas conhecidas, como ficará nossa lista de amigos com o passar do tempo?

Por que não dar uma chance aos desconhecidos?

2- Numa análise de caráter bastante filosófico, podemos dizer que provavelmente não conhecemos ninguém já que o desafio do ser humano parece ser o autoconhecimento.

Acho que, à medida que vamos crescendo e adquirindo independência,  tentamos definir bem nossas aspirações, nossos objetivos, estabelecendo com precisão as nossas metas e o que realmente queremos para nós.

Além disso, acredito que é necessário constantemente fortalecer nossas emoções e harmonizar o que sentimos a fim de agir com equilíbrio diante dos embates da existência, ou seja, nos instantes em que o sofrimento nos visita.

Se esse é o desafio, se esse talvez seja um convite perene da vida, como podemos dizer que conhecemos os outros uma vez que seria difícil afirmar que verdadeiramente conhecemos a nós próprios?

Mas prometo ser menos filosófico no meu comentário a partir de agora.

3- Respondendo à segunda indagação (Se somente admitirmos interagir com as pessoas conhecidas, como ficará nossa lista de amigos com o passar do tempo?), caso somente aceitemos uma interação com indivíduos que conhecemos, nossa lista de amigos, ainda que seja grande, terá gradativamente um decréscimo digno de nota e, acreditando que viveremos muitos anos, chegará a um número ínfimo na nossa velhice.

Creio que há um problema mais sério nessa análise, pois, seguindo à risca o pensamento que só admite amizade no círculo dos conhecidos, nós nem sequer teremos uma lista de amigos formada.

Fazendo uma retrospectiva temporal, desde o momento em que nós nascemos, como as pessoas ao nosso redor tornam-se conhecidas?

Isso obviamente acontece porque constantemente estamos a conhecer pessoas.

Primeiro conversamos timidamente com alguém, depois dialogamos um pouquinho mais, até que, por associação, se aproximando daqueles que despertam simpatia e instintivamente se afastando das pessoas com quem sentimos ter um grau de afinidade menor, formamos um grupo que contém os que consideramos nossos amigos.

Esse é um processo naturalíssimo, que não precisa ser percebido, no entanto que funciona a partir do momento que começamos a desenvolver uma vida social.

Aliás, isso ocorre inicialmente na família. Nela temos aqueles que são mais do que conhecidos, são pessoas queridas a quem ofertamos todo nosso afeto, mas não é raro nem impossível haver membros de uma família que são verdadeiros desconhecidos, pessoas apenas ligadas a nós por laços consangüíneos.

Dessa forma, essa conversa de “só adiciono conhecidos”, se seguida ao pé da letra, carece de sentido completamente.

A fim de ratificar o que digo, não podemos esquecer os nossos conhecidos que nos decepcionam e terminam depois virando totais desconhecidos.
As relações amorosas oferecem grande número de exemplos desse tipo.

Conhecer novas pessoas não garante manter para sempre tais conhecidos, mas esse é um risco inevitável que faz parte da vida.

4- É fundamental abrir nossos corações para novas amizades, sempre possibilitando que tenhamos mais e mais conhecidos.

Provavelmente aqueles que “só adicionam quem conhece” não refletiram bem naquilo que definiram como regra para estabelecer suas amizades, porém penso que o raciocínio é válido no dia a dia.

Há várias pessoas que, fora da net, adotam essa forma de se relacionar, procurando voluntariamente ter uma espécie de ar sisudo, desagradável ou de desconfiança quando encontra “desconhecidos”.

Buscar consolidar, no cotidiano, uma postura carismática por admitir que há inúmeras pessoas nesse imenso mundo as quais merecemos conhecer, eis uma atitude mental que considero bastante saudável e alegre.

Talvez assim possamos contribuir para a formação de uma sociedade muito mais espontânea e harmoniosa do que essa que estamos compondo nos dias atuais.

Obrigado!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 08/02/2012
Reeditado em 09/02/2012
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