ANTÁRTICA: CATÁSTROFE A REPARAR  
                                                             Sérgio Martins Pandolfo*    
   
   “É gratificante verificar que, em apenas duas décadas, o Brasil já está solidamente plantado em uma região tão vasta, desafiante e promissora como o continente gelado. (....). O Brasil, há vinte anos, ‘vai do Oiapoque à Estação Comandante Ferraz’”.  José Viegas Filho, ex-Ministro da Defesa, em Mensagem Ministerial (2004).

  Pavoroso incêndio destruiu, nesse sábado (25/02), 70% de nossa base de pesquisas científicas na Antártica, com duas vítimas mortais. O mais isolado, frio, elevado, ventoso e seco continente da Terra, também conhecido como Continente Austral, ou Continente Branco, foi o último a ser alcançado, por sua inospitabilidade e difícil acessibilidade.
   Naco global de muitos superlativos, tal imensidão terrestre com seus 14.108.000 km² tem proporções que ultrapassam as do continente europeu e as da Oceania, representando nada menos que 9% das terras emersas do globo, cobertas por imensas geleiras eternas, que representam 90% de toda a água doce do Planeta, e uma fauna autóctone exclusiva e riquíssima. Dada sua importância estratégica, em 1959, vários países assinaram o Tratado da Antártica, que estabeleceu o compromisso de uso dessa região exclusivamente para fins pacíficos e de cooperação internacional para o desenvolvimento da pesquisa científica. O Brasil aderiu ao tratado em 1975, passando a fazer parte de seleto e fechado grupo de nações (29, apenas) que o integram e ocupam áreas para exploração e estudo, mantendo bases físicas permanentes.
    O Programa Antártico Brasileiro – PROANTAR segue programação elaborada e desenvolvida pela Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), e seu somatório de investigação e pesquisa é um dos de mais alto nível científico levados a cabo pelo País (conquanto pouco conhecido dos nacionais)  e coloca o Brasil e sua comunidade científica na elite e vanguarda da pesquisa ambiental, junto a outras nações de reconhecido e elevado nível de tecnologia e desenvolvimento. O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), através do CNPq, responsabiliza-se pela seleção e acompanhamento das atividades científicas do PROANTAR e a Força Aérea Brasileira garante o imprescindível apoio logístico.
    Nossa base física, representada pela Estação Antártica “Comandante Ferraz”, inaugurada em 6/2/ 1984, está assentada na Baía do Almirantado, na Ilha Rei George, integrante do arquipélago Shetland do Sul, e chancelou a presença brasileira na Antártica. A Estação dispõe de um centro integrado de comunicações por satélite e contava já com sessenta e dois módulos integrados, compreendendo alojamentos, refeitórios, oficinas, sala de estar, enfermaria, armazéns, cozinha, lavanderia, biblioteca, heliporto e mesmo um pequeno ginásio de esportes, podendo acolher até 42 integrantes dessa estratégica equipe de dedicados compatrícios. Geradores de alto desempenho garantiam suprimento permanente de energia elétrica para todas as necessidades da estação. Complementarmente foram instalados quatro refúgios (conjunto modular para até seis pesquisadores). Acampamentos móveis são também utilizados.  
    O Brasil adquiriu e equipou Navios de Apoio Oceanográfico (NApOc) adequados para trabalhos nas regiões polares, assim como o Instituto Oceanográfico da USP, que garantiram o reconhecimento internacional e a aceitação do País como membro consultivo do Tratado, com direito a voz e voto. Ali se fala, estuda, pesquisa e pensa em português, decerto.  
    As atividades científicas, desenvolvidas com o apoio de diversas universidades e institutos brasileiros, estão agrupadas em Ciência da Atmosfera, da Vida e Geofísica da Terra Sólida, compreendendo áreas como: Meteorologia; Geologia e Marinha; Oceanografia; Biologia; Astrofísica; Glaciologia; Geomagnetismo. É o local ideal para o estudo e monitoramento do torvo “buraco” da camada de ozônio da atmosfera.
    Felizmente o ministro da Defesa Celso Amorim garantiu o imediato trabalho de escolha do projeto para construção de uma nova base, que deverá ficar pronta em dois anos. Oxalá não fique só no discurso a priori e sob forte impulso emocional do ministro. 

Na foto ao alto, melancólica e atemorizante visão do incêndio na casa de máquinas (geradores) da Estação "Comandante Ferraz       
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*Médico e escritor - ABRAMES/SOBRAMES
sergio.serpan@gmail.com  -  serpan@amazon.com.br - www.sergiopandolfo.com
Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 02/03/2012
Reeditado em 13/04/2012
Código do texto: T3530207
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