TRABALHO ESCRAVO

Já se passaram 117 anos desde a abolição da escravatura no país, oficialmente estabelecida com a assinatura da Lei Áurea, pela Princesa Isabel, no dia 13 de maio de 1888. Proibido, oficialmente, o trabalho escravo continua e é manchete nos jornais brasileiros.

Recentemente e frequentemente constatamos a grande quantidade de pessoas, em grande parte crianças, que trabalham em lavouras, carvoarias e outros lugares, em condições indignas. Insalubridade e risco

de acidentes, tão constantes, parecem naturais. Salários e horários de trabalho escapam das leis, entre a exigência dos patrões e a resistência

dos escravos contemporâneos. Os primeiros exigem o máximo e oferecem o mínimo. Os últimos trabalham enquanto têm forças. Esperam por dias melhores sem perceber que estão assim há gerações.

A situação de famílias que vivem em tais circunstâncias é dramática, sem dúvida. A pergunta que se faz é quanto ao que pode ser feito com essas pessoas se elas deixarem de trabalhar onde estão. Como tornar suas vidas mais compatíveis com os direitos humanos, dar alimento, educação, lazer, saúde e esperança?

Não é fácil acabar com a escravidão. Não basta criar e assinar leis. É preciso tornar o trabalho escravo desnecessário para quem o pratica e acabar com as vantagens de quem se aproveita dele. Na situação atual, com salários cada vez mais baixos e a alta taxa de desemprego, o trabalho escravo não espanta. Ainda tem gente querendo participar. Uns para sobreviver. Outros para continuar enriquecendo às custas da miséria alheia, enquanto posam de empregadores bons samaritanos.

A miséria cresce como um câncer. A esmola não cura essa doença. Só impede que consuma com os miseráveis e os leve à extinção.

(2004)

Wellington Fernandes
Enviado por Wellington Fernandes em 18/07/2005
Reeditado em 06/03/2006
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