Amizade virtual

Ela questionou, via e-mail, de maneira um tanto truculenta, a opinião exposta num artigo que publiquei. Deu-me vontade de responder no mesmo tom. Mas, como se tratava de uma mulher, contive o ímpeto e até fui bem delicado, pedindo desculpas, até. E ela gostou. Não custa ser educado.

A partir daí foi uma troca constante de e-mails. Opiniões sobre leituras, políticas, noticiários, tudo era motivo para querer saber a opinião de cada um. Submetíamos os nossos escritos – ela também escrevia – à apreciação de um a outro. Muitas vezes, exaltávamos os ânimos e ficávamos silenciosos algum tempo. Só por pouco período. Tudo voltava à rotina.

Pouco sabíamos um do outro. Não falávamos da vida particular. Só do mundo das ideias. Até que lhe ofereci um livro de minha autoria e precisei de seu endereço. E assim ficamos sabendo que poucos quilômetros separavam a gente..

Certo dia, disse-me que haveria uma feira de livros na cidade vizinha às nossas. Que tal encontrarmo-nos lá?

Marcamos o dia, horário, à frente do estande da livraria japonesa. A expectativa, não vou negar, era grande. Conhecer alguém pessoalmente, emociona. Era bem simpática. Magra. Morena. Uns quarenta anos. Após o “muito prazer”, sentamos numa lanchonete. Só sorríamos, mudos. Por incrível que pareça, não encontrávamos assunto para uma conversa. Despedimos-nos prometendo encontrarmo-nos em outra ocasião.

Até hoje, depois daquele desastroso encontro, passado alguns anos, nunca mais trocamos e-mails. Não que tivesse ficado decepcionado com ela, mas simplesmente o encanto para um bate-papo evaporou-se. A amizade foi boa enquanto virtual.

Yoshikuni
Enviado por Yoshikuni em 23/03/2012
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