CULPA, SEDUÇÃO E VIOLÊNCIA

CULPA, SEDUÇÃO E VIOLÊNCIA

Essa semana li um artigo de uma psiquiatra gaúcho chamado Carlos Eduardo Carrion, que participa do grupo educação sexual, assim como eu, onde ele escrevia sobre Atavismo, controle e poder. Muito interessante e verdadeiro, por sinal. Ele começa contanto uma história de uma cidadezinha qualquer, igual a tantas no país, falando sobre a autoridade local que abrangia desde juiz ao delegado. O tipo de cidade onde todo mundo conhece todo mundo, bem como os seus criminosos. Quem é de fora, sabe-se logo. Pois bem, a partir daí ele constrói o argumento do mecanismo da sedução que o poder tem sobre as pessoas. Suas conseqüências, que vão desde os exageros cometidos aos chamados crimes de colarinho branco, cujo sintoma visível é através de outro mecanismo, a violência. Seu sentido é amplo. E finalmente o mecanismo da culpa.

Fiz uma análise dentre todo o texto, e fiz uma ponte entre a realidade das nossas igrejas. A culpa que nos é jogada por preletores quando sobem ao púlpito, e a capacidade que muitos têm de transferir sua culpa para um grupo. Fico observando a maneira como é transmitida a palavra sob a forma de jogar, para receber através da reação das pessoas. Dessa forma, alimentam-se quando vêm que a sua mensagem tocou, incomodou e isso lhes serve de subsídio para que possam continuar. Esse é um dos meios de dominação e transferência de culpa, o medo. Nesses momentos estão sendo demonstrando a sua humanidade e poucos se apercebem disso. Questiono se haverá alguém no meio do auditório que está sem crise e sem culpa?

De repente, vislumbrei algo que não tinha atentado, talvez não esteja certo, e daí? Vou explicar: Creio em Deus, no seu poder, na sua salvação. Respeito quem pensa diferente e fica aí. Mas, igualmente vi que eu sou um risco que Ele resolveu correr, e, portanto, vou viver, tentando ser melhor, fazer melhor, mas não tenciono ser igual a Ele. Rejeito que sou “o mais miserável e mais culpado entre os homens”, pois vislumbro Seu amor e a Sua misericórdia. E é nessa incompletude de ser, que me vejo e me aceito; não como algo pronto e acabado, mas alguém em transição, em construção, que busca ser melhor.

Quando questionam sobre a onipresença e onipotência de Deus, que Ele é alguém sem poder, pois se assim fosse, poderia interromper, impedir que determinadas coisas aconteçam e não faz. Minha lógica diz que Ele é tudo isso sim, mas resolveu criar o homem cheio de possibilidades, mas que essas serão descobertas feitas por ele mesmo. Que é nessa novidade que o homem caminha. Nessa caminhada ele aprende, cresce e muda.

Mas, há as culpas sociais, pela falta de honestidade, de divisão proporcional, de participação. Há uma tendência de nos culparem por estarmos fazendo tão pouco, e novamente me pergunto: estamos fazendo pouco?

E, que dirá as nossas verdadeiras culpas? Não aquelas que são apontadas para nós, mas aquelas que somente nós as conhecemos. Talvez, quem sabe? Por uma visão equivocada, a vejamos por culpa. E, novamente a questionar se não foi introduzido por alguém.

A violência, a sedução e a culpa estão entrelaçadas. Um se alimenta do outro. Sou seduzida, deixo-me seduzir por atitudes ou ideais que geram violência. Executo-a, e depois a carrego para o resto da vida, culpas!

Carrego as minhas, as que não são minhas, as que foram introduzidas por alguém, mas assumidas por mim. Talvez possa ser entendida por uma visão de "poder" que Carrion enfatizou tão bem. Talvez não.

A verdade é: não sou tão inocente assim, pois tudo isso acontece com a minha permissão. Sou eu quem permite deixar as influencias, seja boas ou más, invadirem meu cérebro. Seja como for, essa é uma forma de controle e poder, e, talvez me veja como alguém que tem poder ao assumir o que é meu e o que me foi imposto. Talvez dê para dizer quanta prepotência!