O VÔO RAZANTE DE ENZO CARLO BARROCO

JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO

O poeta Enzo Carlo Barrocco sabe que a beleza não tem memória e, portanto, não tem consciência de si, apenas se entrega completamente ao observador atento e com ele se irmaniza:

Os vôos rasantes das avezinhas brancas

ignoram a física,

ignoram Einstein;

só o vento tem amigas tão ternas.

Enzo consegue em seus versos registrar a beleza, em sua magnitude e leveza:

Imensíssimos e belos

os vôos rasantes das avezinhas brancas.

Desassossegado, faz um soneto, em redondilha maior, no qual canta sua passagem – envolvido em lembranças, porém convicto da condição efêmera: ser humano.

O tempo passa inclemente

deixando, apenas, saudade.

Carlo Barrocco está atento ao que acontece ao seu redor, daí a pluralidade temática: social em “Os dias apressados”, ecológico em “Imolação” e reverente em “Poema para Cecília”, homenagem que presta à maior poetisa de língua portuguesa. E diz:

As lindas mãos de Cecília

sobre a mesa de pinho

criando paisagens

e enternecendo os anjos.

Em “Hecatombe” apresenta-nos uma poesia apocalíptica, perpassada de angústia e de descrença.

Enzo sabe que para a colheita acontecer é necessário, antes, arar o terreno, adubar e plantar a semente, por conta disso zela de sua “Lavoura gramatical” e a colheita é das melhores:

Enxadas verbais mondam palavras,

grãos sintáticos colorem o dia

desta lavra infame

Enzo Carlo Barrocco, poeta de Tracuateua, na dúzia de poemas apresentados, demonstra ter em si o sopro lírico, que está na estrada da poesia e que sua jornada literária apenas está começando.

PÁGINA DE ENZO CARLO BARROCO: http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=1590

José Inácio Vieira de Melo
Enviado por José Inácio Vieira de Melo em 22/07/2005
Código do texto: T36691