O PARÁ E A NOVELA DAS SEIS

A intenção de mostrar um lado mais evoluído do ser humano, com maior sentido espiritual e menos materialista é de se reconhecer como no mínimo instrutiva e edificante, porém quando a Rede Globo decidiu usar as terras paraenses como locação, esqueceu-se que além da exuberante beleza da região, existe um povo com tradições, costumes e expressões peculiares.

Os atores globais, com algumas exceções, não fizeram a lição de casa, atropelaram a regionalidade com sotaques estranhos e linguajar desconhecido na região.

O pior de todos é o "tal" Pedro Fonseca, interpretado pelo ator André Gonçalves, que se diz jornalista de um grande jornal da capital, que além de passar uma idéia de uma redação de fundo de quintal, mais parecendo instalada em um cortiço, com equipamentos arcaicos e obsoletos para a dinâmica imprensa atual, se quer conhecia um monitor de LCD e surpreendeu-se com um controle remoto de automóvel, onde prefiro acreditar que por profunda falta de empenho, para não pensar em descaso ou chacota gratuita.

De onde saiu "arreégua", isso não nos pertence, tambaqui e tucunaré, não são peixes típicos do Marajó, a expressão sumano é oriunda de regiões interioranas mais remotas, nunca usadas por quem moram na capital. As meninas não dançam lundu como se estivessem num cio diário, a dança tem sua época e seu significado específico.

Quem resolve falar ou apresentar algo sobre determinada região apenas para ilustrar uma história, no máximo deve se limitar ao trivial, sem ter a pretensão de se aprofundar na cultura que desconhece.

Primeiro fala-se de Santarém como se fosse à esquina do Marajó, sem se dar conta que se trata da região do Tapajós, no baixo-amazonas e a três dias de navio da capital, atravessa a baia do Marajó rumo ao arquipélago num barquinho pô pô pô, sem respeitar a imensidão das águas numa demonstração clara de falta de preparo. Depois não se procura saber que tipo de jornalismo se faz aqui, já que nossa rede de comunicação é uma das mais bem aparelhadas do país, com trabalhos jornalísticos reconhecidos e premiados em todos os níveis inclusive no exterior, além de contar com a mais alta tecnologia do país tanto na mídia televisiva, escrita quanto on-line. Entristece-me a omissão e até o deslumbre da afiliada da Rede Globo em Belém, que se deixou confundir com um pasquim de quinta, amordaçada e reclusa a sua convenção contratual. Se não bastasse isso, gostaria de saber como o "tal" Pedro Fonseca poderia não ter visto um controle remoto de veículo? Talvez porque não tenha saído do interior do apartamento que provavelmente hospedou-se, e que certamente não teve motivo para sair por apreciar os mimos gastronômicos e tecnológicos oferecidos pela luxuosíssima rede hoteleira da capital. Só para seu “controle” amigo! Belém é considerada hoje a capital proporcionalmente, com a maior frota de carros novos e importados do país... Índio aqui, não anda balançando em cipós e os únicos cavalinhos que andam nas ruas da capital tem o ronco diferente, são vermelhinhos e italianos.

O Pará, para os incautos, ao que pese a falta de um governo comprometido com as causas ambientais, é um aglomerado de nações, idiomas e culturas que merecem respeito, onde os estrangeiros bem intencionados são sempre bem vindos. Apenas solicitamos que venham aos poucos.

"Quem quiser venha ver, mas só um de cada vez, não queremos nossos jacarés tropeçando em vocês".

Du Valle

Anderson Du Valle
Enviado por Anderson Du Valle em 18/05/2012
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