MENINOS DE RUA QUE VIRARAM HERÓIS

Sempre que o tema, meninos de rua vem à baila, surge, automaticamente no subconsciente de todos, a Chacina da Candelária, ocorrida na cidade do Rio de Janeiro em meados do ano de 1.993, quando oito crianças que dormiam na praça foram exterminadas. Este caso teve e continua tendo grande repercussão negativa no mundo todo.

Daquela época para cá, apesar de ainda existir muitos meninos de rua por todo o país, nota-se, evidentemente, que houve um melhor engajamento de todos os segmentos, inclusive de ONGs, tentando solucionar este gravíssimo problema de exclusão social.

No entanto, existem alguns raros casos em que alguns menores de rua conseguiram driblar a má sorte, transformando-se em verdadeiros heróis. Por falta de espaço focalizar-se-á somente 2 casos nesta oportunidade. Por exemplo. Quem ainda não ouviu falar do caso da menor de rua, Ana Luiza dos Anjos? Do menor de rua, Roberto Carlos Ramos? Para quem ainda não sabe, informa-se que Ana Luiza dos Anjos, de cor negra, logo que nasceu foi largada dentro de uma caixa de sapatos em uma rua de São Paulo. Desde seu nascimento, viveu 18 anos na Febem. Depois passou cerca de 10 anos nas ruas de São Paulo, onde fez de tudo. Experimentou drogas e liderou gangues. Conta que: "Na Febem, eu apanhava sempre, mesmo que não aprontasse, mas o que mais doía era quando duas pessoas seguravam meus braços abertos e outra dava chineladas nas minhas costas". Depois de participar de um assalto, ela viu pela vitrine um filme que passava na TV, "Carruagem de Fogo" e assistira a história de dois corredores que participavam das Olimpíadas de 1.924. Isto foi o fio condutor para que largasse as ruas e buscasse as pistas de atletismo. No dia seguinte pediu para os garotos que chefiava roubarem um par de tênis para ela participar da São Silvestre. No seu currículo consta que foi medalha de ouro na meia-maratona Internacional de Santiago; Campeã da São Silvestre na categoria de 40 à 44 anos; é recordista brasileira máster dos 800, 1.500 e 5.000 metros. Além disso, já participou em corridas em várias partes do mundo, por exemplo, Nova York, Tóquio e Estados Unidos.

Já o cidadão, Roberto Carlos Ramos, analfabeto, de cor negra, morou também nas ruas dos seis aos treze anos. Sua vida se assemelha um pouco com a de Ana Luiza dos Anjos, pois roubava, usava drogas e vivia brigando nas ruas de Belo Horizonte. Segundo ele, chegou a fugir 132 vezes da Febem. Sua vida parecia o próprio inferno, até que num belo e abençoado dia, aparecera lá na Febem uma pedagoga, francesa, de nome, Marguerit Duvas, que iria fazer um trabalho sobre a Febem. Lá na Febem disseram a ela que o Roberto Carlos era simplesmente irrecuperável. Certamente por este motivo, a pedagoga dissera àqueles funcionários que iria começar o trabalho justamente com ele. Naquele dia ela chegara a trocar algumas palavras com o Roberto. Aconteceu, porém, que naquele mesmo dia ele fugira da Febem. Três dias após isto, ela, talvez numa providencial ajuda dos céus, voltou a reencontrá-lo na rua e o convidou para morar com ela. Demonstrando por todos os meios grande vontade em ajudá-lo, a francesa acabou adotando o Robertô, como ela o chamava, levando-o mais tarde para a França, onde fora alfabetizado no idioma Francês e no Português. De volta ao Brasil, Roberto que já contava com os seus 19 anos, cursou Pedagogia e concluiu mestrado em Literatura Infantil. Recentemente esteve no Programa do Jô Soares, onde foi entrevistado e cujo vídeo desta entrevista encontra-se à disposição dos interessados no site www.robertocarloscontahistoria.com.br. À exemplo de sua benfeitora, Roberto Carlos, adotou vários meninos de rua. Além disso o mestre em pedagogia faz palestras em escolas e faculdades do Brasil.

Amarú Inti Levoselo
Enviado por Amarú Inti Levoselo em 06/02/2007
Reeditado em 06/02/2007
Código do texto: T371782
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