DEUS

Andava Deus, distraído pelo imenso nada, como era no começo, e resolveu, num repente fazer o firmamento. E assim foi. Deu uma exagerada divina, e sem querer o fez sem fim. Sem limites. Sem fronteiras. Teria dito Dele para com Ele mesmo: ..."puts! exagerei. Nem consigo chegar aos limites dos meus domínios"... E, vendo que aquilo tudo estava muito vazio, danou a semear estrelas. Semeou-as com tanta vontade, com tanto entusiasmo, que as fez aos milhares, milhões, bilhões delas. Fez novas e super novas. Fez astros de todos os tipos e tamanhos. Fê-los com luz próprias ou não. Fez galáxias, vias lácteas, buracos negros, nebulosas... E, num belo dia, sentindo Êle uma vontade divina de fazer algo diferente, resolveu fazer um planeta diferente. Dos demais que êle tinha feito, e não se dado por Satisfeito. Penson então, na sua onipotencia: "Vou fazer algo que vai ficar prá história!" E pos mãos à obra. Começou fazendo um planetinha pequenininho, cheio de bossa. Nada a ver com aqueles monstros que fizera antes. Nada de luzes violentas, nada de calores sufocantes ou falta de ar. Não, nananananinha! "Vou fazer um verdadeiro paraiso" pensou Ele. E, já numa divina rapidez começou a fazer coisas e loisas. Árvores, rios, atmosfera, ouro, macacos, cobras, lagartos, flores, borboletas, besouros, sim Êle fazia estas coisas desordenadamente, porque antes Êle só fazia astros, e agora estava experimentando uma nova maneira de fazer coisas. Coisas que Lhe vinham à mente. Já que a mente era divina, não precisava planejamento, ou projetos ou mesmo protótipos. Tanto que Êle passou dias fazendo o dromedário, depois o camelo e numa bela mnhã fez o ornitorrinco. Tardes e manhãs fez. Marés altas e baixas, frutas de toda espécie, aquelas melancias enormes e aquelas amoras pequenininhas... Milho verde, trigo, soja, mamona, ah! se Êle soubesse... E continuou Êle fazendo das Suas. Fez dias e noites. Tanto que, contam os teólogos dissidentes, que no sétimo dia descansou. Bobagem. Ia êle se cansar por ter feito um planetinha mixuruco daqueles? Qual nada. Aquele era um lugar só para Êle repousar quando saia para verificar estrêlas. Botou no firmamento um tremendo dum sol particular para aquecer seus dias, e uma baita lua para se inspirar à noite. E, dizem de novo os mesmos teólogos, Êle estava feliz. Assim como quem acaba de construir uma cobertura de frente para o mar. Assim como alguém que sai da concessionária com um carro novo. Depois de dar uma geral no acabamento do seu paraíso particular, viu Deus que a obra estava deslumbrante. Ouvia cigarras, cantos de pássaros que êle tinha feito aos montes. Ouvia o vento, que êle inventou para balançar as árvores e fazer poeira. Banhava-se nas cacheiras, e viu que tinha feito umas grandes demais, lá pelas bandas do Paraná. Fez uns peixes, para depois comê-los assados. Uma delícia! E assim ia vivendo o Senhor, tranquilo, tranquilo no seu jardim verdejante, em meio àqueles bilhões de astros que tinha feito antes... Até que um dia... Bem, os teólogos dissidentes não sabem bem o porque, mas parece que Êle estava com uma vontade danada de fazer alguma coisa diferente. Pois não é que êle fez? Fez um bípede pensante. Nada a ver com tudo o que Êle fez antes. Nem parecido com o porco, nem com o marreco nem com o elefante. Era um negócio totalmente diferente. O invento falava, até pensava! E Deus pensou que "agora sim, meus inventos terminaram"... Mas qual! O tal que Êle inventou e que andava macambúzio pelos cantos, não brincava, não corria, mal e mal comia, o que será que êle tinha? Ou melhor colocando, o que será que êle não tinha? E, num divino estalo, Deus matou a charada: este cara precisa é de uma companheira. E algumas tentativas depois com algumas costelas depois, pimba: lá estava ela. A melhor coisa que Deus inventou. Pelo menos segundo alguns pensadores populares. "Se Deus fez alguma coisa melhor que mulher, guardou prá Êle"...Pois é. Depois de tudo que Deus fez, tudo, mas tudo mesmo, fez a raça humana. Homem e mulher, Êle os fez. É bíblico. Mas, parece que daquele dia em diante, o Velho nunca mais foi visto pelas bandas do seu jardim que Êle chamou terra. Só É chamado todos os dias em "ai ai meu Deus" ou "graças a Deus" ou "se Deus quizer", essas coisas assim. Talvez Êle esteja sentado lá próximo dos não confins do firmamento, dizendo de Si para Si mesmo: ..."mas o que foi que eu fiz?"

Matogrosso
Enviado por Matogrosso em 07/02/2007
Reeditado em 07/02/2007
Código do texto: T372926