Identidade Afro-descendente (1)
Este trabalho é o resultado de toda a minha vivência como afro-descendente. Muito embora me identifique melhor com o termo negro, por acreditar que este sim define etnia, enquanto aqueloutro, apenas confunde noções conceituais de: nação, povo, etnia e raça.
Acredito, portanto, que a mudança repentina do termo e conseqüente proibição do uso do primeiro, por entenderem pejorativo, acentua ainda mais a minha convicção de que não há até o momento uma identidade afro-descendente e o que se verifica agora é um conflito frontal com a imposição identitária que se impingiu ao negro até aqui.
Originário do continente africano, seqüestrado e mantido em cativeiro até os tempos atuais, principalmente em nosso país, o povo negro foi torturado, segregado, defenestrado de sua cultura, costumes e crenças.
Acreditou-se que a “cristianização” dos pagãos africanos (povo de traços grosseiros, fala indecifrável, olhar rancoroso e corpos indestrutíveis) era imperiosa, afinal a revisitação ao calvário e o périplo poderiam conduzir-lhes à salvação. A dor é o único caminho para a redenção, conforme pilar judaico-cristão, o que faz dos abatidos pelo sofrimento – privilegiados - pois alcançarão o reino dos céus.
Essa idéia se alastrou nas Letras e Artes, Ciências e Política, enfim, por toda parte até que teorias comprovavam a inferiorização negra ou a sua vilaneidade, ao longo dos séculos. A tal ponto que tudo o que se relaciona ao negro tenha uma conotação impura, negativa, funesta. Haja vista o que vimos reproduzidos nos próprios dicionários.
A partir desse cenário há que se falar em identidade afro-descendente?