A importância do tropeirismo para o povoamento do oeste catarinense

A atividade tropeira foi de fundamental importância para o início do povoamento na região oeste de Santa Catarina. De fato, as principais e mais antigas cidades da região originaram-se a partir de antigos locais de pouso das tropas.

Para que se comece entender a questão, é preciso analisar de que forma deu-se a expansão da fronteira pastoril que culminou no desbravamento da parte ocidental do planalto barriga-verde. Esta frente pastoril vinha do norte, onde hoje localiza-se o Estado do Paraná, e tem especial relação com a cidade de Guarapuava.

Sabe-se que os primeiros criadores de gado se estabeleceram nos campos da região de Guarapuava nos primórdios do século XIX. Encontrando ali boas condições para a pecuária extensiva, este contingente inicial de fazendeiros logo se multiplicou, e em pouco tempo as terras da região estavam plenamente ocupadas por fazendas de criação.

Surge então a demanda por novas áreas de campos naturais, propícias para atividades pecuárias. Dessa forma, a frente pastoril desloca-se na direção sudoeste, pois já circulava a notícia da existência dos chamados Campos de Palmas naquela região.

Assim, mais uma vez a fronteira pastoril se expande, e por volta do fim da década de 1830, um significativo número de fazendeiros já se havia instalado na referida área, onde futuramente surgiria a cidade de Palmas. É preciso ressaltar que a área abrangida pelos Campos de Palmas incluía boa parte do território que atualmente compõe o oeste de Santa Catarina.

Dessa maneira, percebe-se que, a partir daí, o oeste catarinense – que até então era habitado quase exclusivamente por indígenas – passa a ser gradativamente ocupado por contingentes populacionais vinculados às atividades pecuárias. Vale lembrar que essa população que compunha a frente pastoril era predominantemente mestiça (cabocla), sobretudo os peões empregados nas incipientes fazendas. Esta mestiçagem, no entanto, ocorrera ainda nas terras mais ao norte, não tendo sido muito significativa a miscigenação ocorrida, à época, na área que hoje corresponde ao oeste de Santa Catarina.

Disseminando-se, portanto, a pecuária na região dos Campos de Palmas, logo surge a ideia - entre os fazendeiros - de ligar os referidos campos à região das Missões, no Rio Grande do Sul, importante área de criação de gado bovino, equino e muar.

Dessa forma, em 1845, o Alferes Francisco da Rocha Loures foi encarregado de abrir um caminho, ligando os Campos de Palmas às Missões rio-grandenses. O interesse do governo imperial na questão - que prontamente designou Rocha Loures para a tarefa – explica-se pela intenção de consolidar a soberania brasileira na região - contestada, à época, entre Brasil e Argentina.

Quanto à abertura da estrada, é preciso ressaltar a colaboração de um cacique kaingang, o índio Condá, que exercia grande influência sobre os índios da região, e que se dispôs a fazer a mediação entre os novos povoadores e as comunidades indígenas por onde o caminho de tropas passaria. Com esta importante ajuda, a estrada não tardou em ser concluída, e em pouco tempo o “Caminho das Missões” (como ficou conhecida) já era frequentado assiduamente por tropeiros que buscavam gado no sul para vendê-lo nas feiras da região sudeste.

Ao longo desse caminho, foram surgindo, aos poucos, locais de pouso das tropas, onde gradativamente desenvolveram-se pequenos povoados. A abundância da ilex paraguariensis na região ajudou a atrair novos moradores, que, instalando-se nos Pousos, exploravam os ervais da redondeza, para então comercializar a erva-mate com os tropeiros.

Esses Pousos de Tropas - logo convertidos em pequenos agrupamentos populacionais - foram, realmente, os embriões de futuras cidades do oeste catarinense. De fato, analisando o antigo trajeto do Caminho das Missões, percebe-se que, de Palmas até o rio Uruguai, núcleos urbanos importantes surgiram nos pousos ao longo da estrada: Xanxerê, Xaxim, Chapecó, Marechal Bormann e Porto Goio-Ên (os dois últimos distritos de Chapecó).