A liberdade é uma dádiva que a vida nos oferta gratuitamente.

Ela pode ser ameaçada por homens arbitrários que tentam subjugar o semelhante, porém percebo que nós freqüentemente ameaçamos voluntariamente nossa própria liberdade.

Como assim?
Destacarei algumas situações nas quais nós agimos como escravos por vontade própria.

1- As pessoas estabelecem relacionamentos que, não poucas vezes, terminam em crimes passionais ou numa obsessão amorosa a ressaltar um grande sofrimento.

Tudo isso seria resolvido se tais parceiros percebessem que ambos são livres, nasceram livres, não devem jamais permitir o questionamento dessa condição.

As expressões "Meu homem!”, “Minha mulher!”, por exemplo, podem ter uma conotação perigosíssima.

É óbvio que, assumindo um relacionamento com alguém (namoro, noivado, casamento), esperamos uma reciprocidade afetiva, certos hábitos inerentes a tal intercâmbio, a fidelidade, enfim, uma série de expectativas naturais, pois fazem parte dessa espécie de contrato.

Mas uma das partes pode não cumprir bem suas “cláusulas contratuais”.

O que fazer se isso acontece?
Respeitar a escolha da outra pessoa e literalmente partir para outra.

Haverá uma frustração, haverá dor, haverá angústia?
Será inevitável, porém o tempo permitirá a superação desse desencanto.

Até aí, tudo segue dentro dos moldes da normalidade.

O que eu estou, então, questionando ou destacando como elemento oportuno para uma reflexão sadia?
É essa história do amor possessivo, do ciúme doentio, das agressões contra um dos parceiros, é a convivência aflitiva entre pessoas que outrora fizeram juras de amor entre si, mas que, durante a convivência, perderam o encantamento o qual sentiam antes.

Manter uma união infeliz se a harmonia e o querer mútuo estão comprometidos é uma opção que vários indivíduos buscam por uma iniciativa lamentável demais.

Por que não liberar a outra pessoa?
Por que não aceitar, por exemplo, que a pessoa não deseja estar ao seu lado?
Por que intensificar uma decepção dessa natureza?
Por que agredir e até chegar a matar aquele ou aquela que não o quer mais (a quer mais)?

Denominem isso de doença, desequilíbrio, transtorno mental, o que quiserem, mas não definam jamais isso como amor ou gostar.

Eis uma situação na qual a pessoa é infeliz porque ainda não tentou agir ou pensar diferente.

Alguém dirá:
"É difícil, não é simples assim retomar a vida tanto tempo voltada para uma pessoa após descobrir que tudo foi em vão, exige muito mais do que uma simples reflexão pautada na coerência e no bom senso."

Vale ressaltar que jamais disse que tal situação é emocionalmente fácil.
Além disso, vivi uma forte desilusão amorosa que me custou quase treze anos de tormento.
Posso hoje afirmar que estou na fase da superação.

Tarde talvez, porém hoje percebo que sou livre para seguir minha vida sem a outra pessoa assim como ela também é para seguir a dela como bem entender.
Aliás, sempre fomos livres.

O que eu faria diferente disso?
Viveria mais treze anos e toda minha vida sofrendo sem jamais ser correspondido?
Que vantagem teria isso?

Percebam que a situação nada tem a ver com o gostar.
O gostar pode ficar comigo, pode permanecer até um dia que eu talvez o ofereça a uma outra mulher.
É uma questão de equilíbrio, de desejar ser feliz, antes de tudo, consigo próprio.

É valorizar a liberdade que eu sempre tive, me ofertada por Deus desde o momento em que nasci.

Fora disso, seremos completamente atormentados porque passamos a condicionar nossa felicidade ao fato de estar ou não estar com alguém.
Precisamos ser felizes sempre, sem condicionamento algum a amores sejam esses de qualquer natureza.

Eis um exemplo de valorização da liberdade que só depende de nós.

2- Já escutei algumas pessoas dizerem que dormem com os celulares ligados ao lado na expectativa do filho ou alguém estimado telefonar informando algo ou desejando alguma coisa.
Já vi pessoas simplesmente não almoçarem porque estavam desenvolvendo, no exato instante do almoço, uma conversa usando o celular.

O que é isso?
Qual é a razão que justifica tais atitudes?

O celular, nesse caso, um aparelho que dizem ser bem útil, passa a ser o senhor a ditar as regras e normas do agir, do que vai ser feito, enfim, de tudo.

Na primeira situação, há uma presunção estúpida.
A pessoa poderá avisar que algo aconteceu, mas as ocorrências estarão sempre acontecendo.
Informados ou não, nós não impediremos que elas ocorram.

Além disso, vale a pena admitir que não somos capazes de resolver tudo.

Percebo também nessa febre denominada celular a liberdade, algo que possuímos grátis desde o nascimento, completamente ameaçada por iniciativa própria.

Eu não uso celular, considero uma bobagem ter celular, lastimo quem o tem.
Celular soa como aquele tipo de coisa que, mesmo que pareça ser útil, nenhuma utilidade apresenta.

Alguém, lendo essa afirmação, entre outras coisas, poderia dizer:
"Se você estiver em perigo, precisar avisar ou pedir socorro, sucumbirá exatamente por não ter um celular..."

Peço licença, nesse instante, para prosseguir com minha vidinha tranqüila, isenta de perigos ou de tragédias que me façam buscar um celular.
Não pretendo desenvolver agora uma paranóia de que exatamente um celular poderá me salvar de um eventual perigo.
Nessa hipotética situação, percebo que a coisa estaria verdadeiramente feia, pois o problema me levaria a sentir falta de algo que somente vejo na mão dos outros.

Realmente seria uma experiência trágica!

3- A liberdade é uma maravilha, porém nós não a valorizamos.
Parece até que não gostamos da liberdade!
Que coisa, hein!

Recordemos uma outra situação bem corriqueira:

Hoje, data tal, é um feriado ou um sábado.
Acordamos, estamos despertando, alguém grita:
“Levanta logo! Temos que sair para a festa. Tá na hora!”
“Vai! Não podemos mais perder um minuto. A galera está nos esperando.”

A minha indagação é a seguinte:
Não seria mais natural acordar, sentir vontade de sair para a festa ou querer rever tais amigos e, somente depois disso, sair?
??

É o evento em si, a data comemorativa, o feriado, o momento que governa a vontade ou é a vontade que determina o desejo de estar comemorando e saindo?
Por que não é possível que a pessoa acorde e fique com vontade de curtir o dia em casa, vendo TV, conversando com pessoas estimadas ou simplesmente relaxando um pouco?
Enfim, por que ter que sair?
É uma obrigação que aquele momento nos impõe?

Já ouvi muito dizerem:
"Eu quero curtir, pois estou vivo (ou estou viva)!"

Sobre essa ótica, a questão ganha um sentido meio estranho.
Interpretando essa fala, a pessoa quer dizer que precisa correr, agitar, se divertir ao máximo enquanto há tempo para isso.
Nessa atitude, a pessoa imita a correria da maioria, imita a forma que os outros convencionaram para se divertir, faz um monte de coisas sem nem sequer saber porque está agindo assim, justificando toda essa ação irrefletida com o argumento de que a vida está pulsando em suas veias.

É muito estranho, não?

Conforme destaco no meu perfil, não quero ser mais um, repetindo os mesmos atos que os meus bisavós faziam, não quero pensar motivado por um ritmo enlouquecido da coletividade, enfim, não pretendo ir a lugar nenhum ou realizar coisa alguma imitando, além da ação em si, o argumento bobo que me leva a agir assim.

4- Quero ser livre, amigos!
Eu preciso ser livre!
Ah! Eu adoro ser livre!

* Quero gostar de alguém, porém que esse gostar não me traga tormentos aflitivos nem que possibilite observar a minha amada aflita.
Sabe por quê?
Porque o gostar não faculta isso, porque isso não é legal.
Eu quero gostar, porém quero continuar livre gostando.

* Não preciso de um celular.
Essa porcaria que parece tão necessária não me faz falta.
Adoro não ter celular!
Adoro me sentir livre por não ter celular!

* Nos dias de folga, acordo e tenho vontade ou não tenho vontade de fazer algo.
A data, o que os outros decidiram fazer, a correria coletiva, o aparente entusiasmo alheio, o que a TV sugere, isso tudo jamais determinará se eu vou sair ou vou ficar em casa.

* A liberdade, meus caros, eis um bem precioso que podemos desfrutar indefinidamente, mas que muitos, por sua própria vontade, abandonam seguindo escolhas irrefletidas, guiadas pelo não-sei-o-quê da loucura que parece já dominar a mente de pessoas que, apesar de teoricamente serem livres, estão completamente encarceradas.

Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 02/07/2012
Reeditado em 12/07/2012
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